Por Carlos Cruz
O setor da Construção Civil agora pode contar com um importante aliado para seu desempenho sustentável. O Sistema de Informação do Desempenho Ambiental da Construção (SIDAC) é uma recém-criada plataforma que permite o cálculo de indicadores de desempenho ambiental dos produtos da construção fabricados no Brasil. O sistema foi criado durante o webinar “Promovendo edificações de baixo carbono”, organizado pelo Ministério de Minas e Energia no final de abril, com o objetivo de reunir dados ambientais sobre materiais e fornecedores do setor da construção.
Inédita no Brasil e de acesso público, a ferramenta usa conceitos baseados na Avaliação do Ciclo de Vida, a ACV, técnica que estima as possíveis consequências ambientais associadas a um produto em todas as suas etapas, desde a sua produção até o seu descarte. Com a ajuda do SIDAC, o usuário poderá conhecer os dados sobre a pegada de energia e de CO2 dos materiais da construção fabricados no Brasil.
A plataforma foi criada a partir da necessidade de o setor da Construção ter dados confiáveis a respeito dos seus produtos. A falta dessas informações resultava na ausência de Benchmarking, medidas pensadas para melhorar o desempenho da empresa ou produto. Seu desenvolvimento contou com trabalho de um comitê consultivo, que reuniu diversas entidades do setor. A engenheira Maria Angelica Covello, é uma das integrantes do comitê. Ela explica que, em sua fase inicial, a plataforma reúne dados gerais dos produtos da construção. “Nesse primeiro momento, esse trabalho foi feito com uma metodologia que pesquisou dados já existentes para cada linha de produto, para os blocos cerâmicos, para os produtos de concreto e vários outros. Vai ter uma segunda etapa, que as empresas que têm seus dados específicos poderão cadastrar dentro da plataforma. Então, qualquer empresa no setor de cerâmica que tiver dados específicos vai poder cadastrar na plataforma”, disse. De acordo com a engenheira, futuramente, o SIDAC também irá apontar dados sobre outros indicadores.
Também integrante do comitê, a engenheira civil Fernanda Belizario, do Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT), conta que as empresas podem informar todas as entradas e saídas de cada processo. “A partir desse inventário, o sistema conecta o processo aos processos que o precedem, por exemplo, produção de matérias-primas, geração de energia, entre outros, e calcula os indicadores de desempenho ambiental do produto, do berço ao portão. Caso o fabricante deseje publicar seus indicadores no SIDAC, ele submete seus dados à revisão por um especialista independente por meio da própria ferramenta, que permite que o processo seja revisado quantas vezes forem necessárias até que seja aprovado para publicação”, explicou. A facilidade do programa também permite que, caso algum fabricante faça mudanças em um produto ou processo, ele possa refazer os cálculos e publicar seus dados atualizados.
Após a validação técnica das informações, a plataforma permite que os fabricantes emitam uma Declaração de Desempenho Ambiental digital de seus produtos.
Benefícios para o setor
Maria Angelica avalia que a plataforma trará benefícios tanto para os fabricantes, que podem avaliar seu desempenho ambiental e, a partir disso, criar metas para melhorar seu impacto no meio ambiente, quanto para outras instâncias, como empresas que desejam construir um empreendimento com uma maior qualidade ambiental. “A empresa que está construindo um empreendimento com essa ideia ou com esse objetivo de obter uma certificação ambiental vai ter no SIDAC os dados que anteriormente não existiam”, afirmou a engenheira.
Ela destacou ainda que o SIDAC é uma medida estratégica para estabelecer compromissos firmados no Acordo de Paris. “É uma ação que o Brasil, como um todo, está implementando para caminhar em direção a esse compromisso”, concluiu.
Estimativas do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente mostram que o setor da Construção é responsável por cerca de 40% das emissões de CO2 no mundo. Fernanda destaca que isso revela o papel fundamental que o segmento tem no combate às mudanças climáticas. “Muitos países já contam com bases de dados de indicadores de desempenho ambiental de produtos de construção, para permitir que se considerem aspectos ambientais entre os critérios de decisão. Alguns países já estão inclusive estabelecendo limites de emissão de CO2 por metro quadrado de área construída, como, por exemplo, França e Dinamarca”, apontou a pesquisadora.
Fernanda também ressaltou sobre a importância dos fabricantes publicarem seus dados no sistema. “O SIDAC vem suprir a lacuna de dados ambientais confiáveis de produtos de construção no Brasil. A primeira versão foi lançada com dados genéricos de 86 produtos de construção e 40 insumos básicos, consolidados por diferentes universidades e institutos de pesquisa brasileiros. Entretanto, o maior ganho do Sidac virá na medida em que fabricantes de materiais de construção publicarem dados específicos dos seus produtos na plataforma”, afirmou.
A criação de um sistema que permite os fabricantes calcular os indicadores ambientais de seus produtos traz importantes mudanças para o setor. “Até hoje, fabricantes que desejassem calcular os indicadores ambientais dos seus produtos dependiam, em sua maioria, da contratação de consultorias especializadas em ACV, que por sua vez dependiam do uso de softwares específicos e bases de dados de ACV internacionais. Além do alto custo (agravado pelo câmbio), os dados internacionais não são representativos da realidade brasileira e podem levar a indicadores equivocados”, explicou Fernanda.
Ela reiterou que, além da facilidade da plataforma, que está em português e não requer conhecimento especializado para sua operação, os únicos custos são para manutenção do sistema e remuneração dos revisores dos dados. “O SIDAC reúne, em uma única plataforma, uma base de dados genéricos de insumos básicos e de produtos de construção, um software de cálculo de indicadores de desempenho ambiental e um sistema para revisão de dados e emissão de declarações de desempenho ambiental. Isso simplifica a obtenção de indicadores de desempenho ambiental de produtos, a um custo bastante reduzido”.
A chegada do SIDAC abre espaço para que fabricantes e órgãos públicos consigam criar medidas eficazes para uma economia sustentável nos processos industriais. “Uma vez que as barreiras técnicas para avaliação do desempenho ambiental da construção são superadas, torna-se possível incluir essa temática na formulação de políticas públicas, como ressaltado pelo Ministério de Minas e Energia (MME) e pela Secretaria Nacional de Habitação (SNH) no evento de lançamento do SIDAC. Ou seja, trata-se de um passo importante rumo à redução da pegada ambiental da construção civil brasileira”, concluiu Fernanda.
O SIDAC tem origem no programa Strategic Partnerships for the implementation of the Paris Agreement (SPIPA), coordenado pelo Ministério de Minas e Energia e foi financiado pelo Instrumento de Parceria da União Europeia, em conjunto com o Ministério do Meio Ambiente, Conservação da Natureza, Segurança Nuclear e Defesa do Consumidor (BMUV, em alemão), e implementado pela Agência Alemã de Cooperação Internacional (GIZ).
O Conselho Brasileiro de Construção Sustentável(CBCS) coordenou o desenvolvimento da plataforma.
Clique aqui e tenha acesso à plataforma.
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