Hoje é:21 de novembro de 2024

Fazendo a diferença

Conheça cinco projetos arquitetônicos com cerâmica vermelha que unem sustentabilidade e beleza

Por Carlos Cruz | Foto abertura: Parham Taghioff/Archdaily

Cada vez mais, diversos projetos de arquitetura, ao redor do mundo, surgem para impactar positivamente determinadas regiões. Arquitetos de todo o mundo enxergam na profissão uma forma de adotar iniciativas que, de fato, fazem a diferença, seja criando propostas com pegada cultural ou social, ou incorporando às ações tecnologias que visam preservar o meio ambiente ao usar conscientemente os recursos naturais.

Selecionamos cinco obras arquitetônicas que fazem toda a diferença com suas características únicas.

Escola Imagine Montessori

Fotos: Mariela Apollonio/Archdaily

Localizada no limite da zona residencial de Valterna, no município de Paterna, em Valencia, Espanha, o edifício da Escola Imagine Montessori tem cada ambiente planejado a partir de princípios sustentáveis, que proporcionam aos alunos melhores condições para a aprendizagem. O local fica entre os edifícios residenciais e o morro En Dolça, que também cumpre um papel essencial no projeto.

Cada espaço do edifício foi pensado para ser um ambiente acolhedor para as crianças e que respeite o meio ambiente. Na entrada que dá acesso à escola, por exemplo, os alunos precisam atravessar um pinheiral por corredores de madeira. Além disso, todas as salas de aula são voltadas para os pinheiros e a vista para a natureza substitui as lousas e as mesas dos professores, tornando-se a principal atração do lugar. As salas de aula estão distribuídas em cinco áreas diferentes: sensorial, vida prática, linguagem, matemática e estudos culturais, às quais os alunos têm livre acesso.

A arquitetura da escola também oferece às crianças uma melhor iluminação nos espaços. As grandes janelas nas salas de aula permitem que haja mais aproveitamento da luz do sol, ao mesmo tempo em que pátios interiores com lâminas de proteção solar captam os raios do sol, evitando possíveis incômodos oculares decorrentes da luz. A escola enxerga a iluminação como um elemento importante em questões relativas à qualidade de vida dos alunos, desde a melhoria na capacidade de concentração à redução da fadiga visual. A boa ventilação também foi priorizada nos espaços do edifício, que é cercado pelo pinhal. No interior do prédio, o ar é monitorado através de sistemas de filtragem e climatização, que monitoram a concentração de CO2 e eliminam elementos nocivos. A entrada de ar do exterior também é regulada para que atinja a temperatura ideal para cada ambiente. Além disso, um mecanismo conectado à uma estação meteorológica alerta sobre o momento adequado para abrir as janelas de acordo com as condições externas.

Há também a possibilidade de que os alunos realizem atividades fora das salas de aula quando o tempo permite, já que cada uma delas é ligada a um terraço coberto voltado para o pinhal. As áreas externas, como os pátios e parques infantis, são mantidos como áreas naturais, sem grama sintética ou espaços artificiais. Cada ambiente é bem aproveitado, inclusive as encostas, que podem virar escorregadores, rampas ou abrigos. Até mesmo a utilização da água na escola é feita de maneira consciente, contendo instalações hidráulicas de baixo consumo e um sistema que manda um alerta à equipe de manutenção sobre possíveis desperdícios. A água da chuva que cai sobre o terraço e sobre toda a superfície do terreno também é reaproveitada, sendo conduzida a uma cisterna subterrânea para regar os jardins.

Para construir um edifício com todas essas características sustentáveis, a escola priorizou utilizar materiais que, ao longo de seu ciclo de vida, causam menos impacto ao meio ambiente. O aço e o concreto foram evitados ao máximo e substituídos por materiais com menos emissões de gases de efeito estufa, como tijolos cerâmicos, presente nas paredes de 60 cm de espessura, e madeira, utilizada no painel da cobertura, nos revestimentos e esquadrias.

A Imagine Montessori é a primeira escola na Espanha a receber dupla certificação Breeam Excellent e Verde 4 hojas, que garantem que o projeto atende a critérios de sustentabilidade. Em relação a um edifício convencional com o mesmo fim, o prédio apresenta redução de 45% de consumo de energia, 21% de consumo de água e 47% nas emissões de gás carbônico.

Casa Sofía

Fotos: Freddy Bonilla/Archdaily

Com uma estrutura alongada e baixa em altura, a Casa Sofía, localizada em Malacatos, no Equador, surpreende por sua geometria simples e textura uniforme. O prédio se estende horizontalmente com o intuito de deixar o terreno livre. Por isso, sua planta foi construída em um único nível, pouco acima do solo. Uma estrutura metálica também compõe a geometria da casa, que possui cobertura termo-acústica suportada por uma sequência de pórticos. O principal objetivo do projeto foi que o interior do edifício tivesse uma comunicação contínua com seu exterior. Para isso, os materiais utilizados para a construção não foram alterados, ressaltando sua estética harmônica.

Todos os espaços da casa obedecem a essa mesma ideia e cada um deles é conectado ao jardim por portas de correr, que tornam que a vista para a piscina seja possível em qualquer cômodo da casa. O local é dividido em duas áreas. A primeira, de 158 m², contém a área de serviço, a área de descanso (composta por três suítes) e a área social, que inclui a cozinha, as salas e uma extensão cobertura do pátio, que se une com a área para churrasco. A segunda parte é onde estão localizadas as áreas molhadas, como banheiros com jacuzzi e lavanderia, complementando a piscina, e medem 41 m². O interior da casa é como um local isolado e composto por texturas quentes, mas aberto para a paisagem natural.

A obra apresenta uma sequência de padrões pré-definidos sendo quebrados, principalmente no que se refere à alvenaria exposta, que faz do tijolo o destaque do projeto. Todo o conjunto da obra, desde a iluminação e personalidade das paredes à decoração e ao mobiliário, ressaltam a força do plano arquitetônico e a singularidade da casa.

Casa Melania

Fotos: JAG Studio/Archdaily

A proposta do projeto localizado em Catamayo, no Equador, consiste em uma estrutura de dois corpos posicionados perpendicularmente, com conceito arquitetônico dos corpos esteticamente uniformes, separados por uma circulação transparente que divide as áreas sociais e de lazer. Essa divisão, baseada na geometria contemporânea, é determinante para a obra, que tem suas linhas de projeto fundamentadas em características práticas. A construção foi toda projetada de forma a aproveitar ao máximo a luz solar, já que Catamayo é uma cidade turística comumente conhecida como “A Cidade do Sol Eterno”. A via solar foi contemplada como condicionante incontornável dos princípios bioclimáticos.

A casa é dividida em dois pisos e abriga diversos espaços: sala de estar, cozinha, escritório, lavanderia, garagem, quartos e banheiros. No piso superior, encontra-se o quarto principal, que dá acesso ao terraço, com vista para a cidade e para o restante da casa.

A porta de entrada do local é coberta e virada a norte, com vista para a piscina e para o horizonte da cidade. A construção com aparentes tijolos cerâmicos de várias tonalidades proporciona uma arquitetura harmônica, que destaca a personalidade e identidade própria da obra.

Taylor & Chatto Court + Wilmott Court

Foto: Nick Kane/Archdaily

Vencedores do “Civic Trust Awards 2022”, o Prêmio Especial do Painel Nacional do Reino Unido, os edifícios Taylor Court, Chatto Court e Wilmott Court foram alvo de elogios pelos membros do Painel, que selecionaram o projeto como o favorito do ano. Os juízes destacaram que, apesar de contrastar com o contexto em que estão inseridos, o estilo arquitetônico do projeto lembra programas de habitação pública do Reino Unido e a influência dos programas de habitação do norte da Europa, reinterpretados para o século XXI. Eles ressaltaram sua “linguagem arquitetônica monumental, arrojada e cívica”.

Apesar de terem sido projetados e concluídos juntos, os edifícios, localizados em Hackney, apresentam ideias singulares. Eles revelam meios que mostram que a arquitetura pode auxiliar a estrutura de um determinado local, principalmente por serem construções que contrastam com as condições urbanas do bairro. Apesar de serem propriedades privadas, os locais oferecem um significativo espaço público externo.

Foto: Jim Stephenson/Archdaily

As galerias dos edifícios são formadas por colunas de concreto pré-moldado e por varandas ao ar livre, que sustentam as paredes de tijolo cerâmico. A parede tem destaque na obra e por si só pode ser considerada um espaço social, já que ela chama atenção dos moradores no que diz respeito à identidade do local. Sua estrutura em camadas gera um equilíbrio entre a propriedade privada e o público do bairro.

Foto: Nick Kane/Archdaily

Embora separados em terrenos próprios, os edifícios dialogam visivelmente entre si, principalmente através do uso da argamassa com pigmento vermelho, que cria uma identidade uniforme dos prédios dentro da rua.

Mão de Cobogó – Irmãos Campana

Foto: Divina Terra e Fernando Laszio/Instituto Campana

Simbolizando um manifesto ao desastre ambiental de 2015 em Mariana, Minas Gerais, os irmãos Campana, por meio do Instituto Campana, criaram o projeto desenhado em formato de mão, feito com cobogós. A iniciativa surgiu de uma parceria do instituto com a Divina Terra, instituição que objetiva transformar peças de cerâmica vermelha e madeira em novos produtos, feitos de maneira artesanal.

O Cobogó de Mão mistura três tipos diferentes de argila, que deixam a peça ainda mais resistente. Inicialmente, o objetivo era incorporar a lama de Mariana à massa, mas isso não foi possível, porque a grande quantidade de minério iria interferir na qualidade do produto.

O cobogó é um elemento totalmente brasileiro e com utilidade diversificada, podendo ser empregado em diferentes obras. Sua principal característica é valorizar a difusão de luz e passagem do ar. Os irmãos Campana passaram a utilizá-lo em seus mobiliários e projetos de arquitetura.

Parte do valor das vendas do Cobogó, intitulado “Mão” é destinado aos projetos sociais do Instituto Campanha.

Carlos Cruz é jornalista na Anicer.

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