Por Carlos Cruz
Já imaginou a praticidade e a agilidade em uma construção que utiliza blocos encaixáveis? Agora, essa metodologia não está apenas no campo das ideias. A tecnologia EBricks traz essa inovação ao mercado da construção civil que, apesar de recente, já tem demonstrado seus bons resultados e potenciais. Os blocos batizados de Ebricks foram criados pelos irmãos Daniel e Ricardo Dresch, da Cerâmica Santo André. Os irmãos e um dos sócios do Ebricks, Ricardo Spaine, contaram à Revista da Anicer sobre a funcionalidade dos blocos e as mudanças para o setor construtivo e revelaram as empresas que já têm aplicado o Ebricks em suas obras.
Como funciona
Fabricados com argila, os Ebricks se diferem dos blocos tradicionais por suas aletas de encaixe. Na prática, o que muda é a aplicação dos blocos que, por serem encaixáveis, permitem uma maior rapidez construtiva e trazem uma série de vantagens. Ricardo Spaine considera que o produto em si é o mesmo, mas a forma de assentamento é diferente. “Você vai fazer uma primeira fiada ali com um bloco inteiro e um meio bloco. Você vai passar a massa, vai alinhar essa primeira fiada e depois vai colocando só blocos inteiros. Então, toda vez que você assenta, ele vai ficando alternado e isso vai fazendo não só o tratamento das aletas dessa forma, como você vai fazer o tratamento também nos blocos. E aí você vai passando massa nas laterais e chega em cima você faz o fechamento, que pode ser de diversas formas”, afirma Ricardo Spaine.
A ideia de criar o material veio quando os irmãos Dresch perceberam como os blocos de cimento estavam crescendo dentro do mercado da construção. Ricardo Dresch explica que a cerâmica de sua família precisou fechar e ficou cerca de seis anos parada, até que os irmãos resolvem desenvolver os Ebricks. “Até meados de 2021, nós resolvemos voltar ao mercado, mas pensando assim: vamos criar um produto que tenha um diferencial e que possa bater de frente com o bloco de cimento, que é o principal concorrente nosso aqui na nossa região, apesar de que hoje já tem outros produtos no mercado de construção civil que também estão fazendo frente à essa concorrência. E foi aí que nós decidimos criar esse bloco de encaixe, autoportante, para que pudesse, além de ser algo inovador, também possibilitar uma economia para quem estivesse construindo”, relembra.
Daniel contou que o processo de criação dos blocos envolveu o conhecimento de um software de código aberto com um pacote de criação 3D, que auxiliou na criação, edição, simulação e rastreamento de movimento, além de conhecimento metal mecânico. “Mas não bastava só isso, a gente precisou também de um conhecimento em cerâmica, porque todas as medidas que você desenha no software sofrem uma retração no forno, as medidas mudam, e aí foi necessário várias tentativas e erros, perdemos algumas fornadas. E foi mais ou menos em 6 meses que a gente conseguiu sair com o produto perfeito, em cima das cotas, dos graus, foram modificados os graus pra dar um encaixe. Então a gente chegou nesse último desenho, nesse material, que é o material perfeito, que causou esse encaixe perfeito”, relembra Daniel.
Vantagens
Além de facilitar a produção, os Ebricks também se destacam pelo aumento da produtividade e a redução no uso de água e massa. Um ensaio técnico feito pela empresa mostra que, enquanto a produtividade de um bloco padrão é de 12,6m²/dia, com o Ebricks o valor triplica e chega a 36,8m²/dia. Já em relação ao uso de massa, um bloco padrão consome cerca de 880kg/dia, e os blocos encaixáveis 160kg/dia. O consumo de água com a nova tecnologia é seis vezes menor. Diariamente, os blocos Ebricks utilizam 32 litros de água, já os convencionais utilizam 192 litros. Esperançoso, Daniel acredita que, com todas essas vantagens, os concorrentes vão perder força no mercado, como uma mudança de “CD para pen drive”. “A utilização dele vem também aumentar a produtividade, reduzir drasticamente o uso de água, que é uma matéria-prima muito importante para o meio ambiente, e também veio trazer uma mobilidade melhor para o pedreiro, para que o pedreiro também não sofra muito. Eles (os pedreiros) têm muitos problemas de LER (Lesão por Esforço Repetitivo) nos braços, por estar passando massa. O Ebricks veio pra ajudar todo mundo nessa parte”, afirma.
O irmão de Daniel complementa, reiterando que a utilização dos blocos também contribui para a redução de energia elétrica e equipamentos de serviço. Ele explica que o pedreiro também não precisa ficar com a colher na mão o tempo todo, já que, depois do assentamento da primeira fiada acima do alicerce, o resto é só encaixar, até chegar ao fechamento da viga. “Nós já estamos até trabalhando em cima de algo que venha a beneficiar esses fechamentos, que facilite mais, mas a redução no esforço do funcionário na obra é muito grande”, conta Ricardo Dresch.
Se antes, as obras exigiam uma grande quantidade de mão de obra qualificada, com os novos blocos esse quadro mudou, e essa redução é mais um dos benefícios que chegam com o Ebricks. “Imagina o seguinte: o pedaço que você precisa de dez dias para fechar com dez pedreiros no método tradicional, no método Ebricks você vai usar os dez pedreiros e vai fazer em três dias ou vai fazer nos dez dias com três pedreiros. E a gente sabe o quanto a mão de obra custa em qualquer negócio, não só na construção civil. A folha de pagamento impacta o custo de qualquer empresa. Essa percepção da mão de obra que é o que vai trazer o maior impacto e, atrás disso, vem todos esses outros que a gente falou, e até a parte mais sustentável, de você obter menos resíduo na obra, porque você usa menos massa, gera menos resíduo, uso de 80% a menos de água também. A ideia de Ebricks é você não só trazer essa questão sustentável, mas facilitar a construção”, reitera Spaine.
Produção
A argila é o principal insumo de fabricação dos blocos e essa escolha surge a partir da familiaridade dos irmãos Dresch com o setor cerâmico.
O Ebricks já passou por todo processo regulatório, mas, ainda assim, a empresa continua realizando testes que mostram a eficácia dos novos materiais. “A gente fez todas as certificações: corpo mole, corpo duro, absorção, resistência. A gente fez esses laudos”, afirma Spaine.
Empresas que já usaram
Os blocos encaixáveis já estão sendo utilizados e aprovados por construções em varejo e também pelas construtoras. Os sócios do Ebricks também contaram que a procura pelo produto tem aumentado e já tem até parceiros que querem investir nesses materiais. A primeira empresa a utilizar os blocos foi a Altma Incorporadora, de Curitiba. O empreendimento chamado Vibe, feito pela construtora Hiex, contratada pela Altma, de acordo com Spaine, foi o primeiro a receber o Ebricks, que foi mesclado com os blocos tradicionais porque a obra já estava em andamento. Ricardo contou que o próximo empreendimento da incorporadora é o Árten e, desta vez, a ideia dos construtores é usar o Ebricks em toda a obra.
Custos e fabricação
Os valores do Ebricks são variados, mas Ricardo Spaine garante que permanecem muito próximos aos preços dos blocos tradicionais. De acordo com ele, ao levar em consideração a redução de argamassa, água e mão de obra, a estimativa é que os custos sejam muito menores.
Spaine também relembra que os sócios detém a tecnologia Ebricks, ou seja, o desenho industrial dos blocos, mas que não são eles que fazem a fabricação, apesar da empresa familiar, que tem o direito de fazer essa produção. Segundo Spaine, o modelo de atuação da empresa é homologar cerâmicas em todo o país para que possam atender às regiões. “Muitas vezes a construtora já tem um fornecedor local, que fornece o bloco normal, e aí a gente pode, a partir desse momento, entrar em contato com esse fornecedor, falar do Ebricks, mostrar a metodologia, fecha um contrato e aquele mesmo fornecedor continua fornecendo para aquela construtora, mas agora com Ebricks”, explica.
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