Hoje é:20 de setembro de 2024

A normalização brasileira para o dimensionamento de alvenaria estrutural

Por Emil Sanchez* | Imagem: Anicer

O conteúdo deste artigo não necessariamente reflete a opinião da Anicer e é de responsabilidade de seu autor.

O desenvolvimento, a concepção de novos procedimentos e os modelos mais sofisticados de análise das estruturas em Engenharia Civil estão a se desenvolver de forma acelerada. As publicações técnicas, revistas especializadas, seminários, colóquios, congressos etc., são veículos de suma importância para o intercâmbio de conhecimentos e, em conjunto com Internet, que por sua vez coroa esse elo de informações, permitem o espraiamento mais rápido e efetivo dos resultados de pesquisas e dados de práticas construtivas.

Em tempos idos as normas estadunidenses eram adotadas como um documento determinante para o dimensionamento de Alvenaria Estrutural, devido a inexistência de algo similar no Brasil. As edificações em Alvenaria Estrutural, especialmente no Estado de São Paulo, eram erguidas numa escalada crescente e a carência de um norma brasileira era premente. O Ibracon – Instituto Brasileiro do Concreto, promoveu um evento no qual o meio técnico brasileiro se manifestou de forma incisiva com a apresentação de diversos estudos sobre Alvenaria Estrutural.

Em 30/11/1989, organizada pelo ABNT/CB-002 Construção Civil, foi publicada a NBR 10837:1989 Cálculo de alvenaria estrutural de blocos vazados de concreto – Procedimento. Essa norma era uma síntese, com diversas adaptações, da norma do ACI – American Concrete Institute e a sua filosofia de dimensionamento fundamentava-se em tensões admissíveis, com aplicação exclusiva às paredes de blocos vazados de concreto. Com todas as críticas que se possa fazer a esse regulamento, não se pode ignorar o seu relevante mérito que possibilitou a adequação da prática quotidiana fundamentada nos conhecimentos alicerçados sobre esse sistema construtivo entre os engenheiros de obra ou calculistas, pois ainda havia grande carência de textos nacionais sobre o assunto.

Na década de 1990, desenvolveu-se de maneira acelerada a execução de paredes estruturais de blocos cerâmicos, entretanto, a CEF – Caixa Econômica Federal, impunha restrições ao uso desse material porque não havia respaldo da normalização para o dimensionamento estrutural com a utilização de blocos cerâmicos. A Anicer, recém criada, interveio e recomendou que se fizessem avaliações sobre a adequação da aplicação da NBR 10837:1989 aos blocos cerâmicos. Missão essa que ficou ao encargo de vários profissionais atuantes nessa área, que documentaram com pareceres a plausibilidade de se ajustar as prescrições relativas aos blocos de concreto à utilização de blocos cerâmicos. Esse, dentre outros, foi um dos motivos da proliferação das construções em Alvenaria Estrutural, pois vislumbrando o grande mercado que se anunciava, as cerâmicas rapidamente se adequaram para produzir blocos de melhor qualidade e maior resistência.

As engrenagens do Mercado se moveram e as pesquisas nas universidades nacionais se desenvolveram em ritmo crescente, com publicações de artigos e livros, mostrando que a normalização nacional carecia de atualização e abrangência.

A normalização europeia consubstanciada em normas tais como o Eurocode 6 – Design of masonry structures – Part 1-1: General rules for reinforced and unreinforced masonry structures, cuja filosofia de dimensionamento se fundamenta em Estados Limites Últimos, serviu como base para a atualização da norma brasileira, daí foram elaboradas, de modo completamente diferente do que consta no Eurocode 6, duas normas em função do tipo de bloco: NBR 15812-1: Alvenaria estrutural – Blocos cerâmicos – Parte 1: Projetos e Parte 2: Execução e controle de obras, NBR 15961-1: Alvenaria estrutural – Blocos de concreto – Parte 1: Projeto e Parte 2: Execução. Cisma sem explicação convincente para qualquer técnico ou leigo.

Atualmente, está em processo de consulta pública uma nova norma, elaborada pela Comissão de Estudo de Alvenaria Estrutural (CE-002:123.010) do Comitê Brasileiro da Construção Civil (ABNT/CB-002), em conjunto com o Comitê Brasileiro de Cerâmica Vermelha (ABNT/CB-179), dividida em três partes:

  • ABNT NBR 16868-1 Alvenaria estrutural – Parte 1: Projeto.
  • ABNT NBR 16868-2 Alvenaria estrutural – Parte 2: Execução e controle de obras.
  • ABNT NBR 16868-3 Alvenaria estrutural – Parte 3: Métodos de ensaio.

A atuação da Anicer, CEF, Ibracon, dentre outras instituições, fez com que em cerca de 30 anos o Brasil alcançasse um bom padrão de qualidade em construções de Alvenaria Estrutural, sendo hoje o país que se destaca pelas pesquisas nesse sistema construtivo.

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Mestre e Doutor em Engenharia Civil, pesquisador visitante da T.U. Braunschweig/Alemanha, professor titular aposentado da Universidade Federal Fluminense, membro do ACI, PCI, FIB, IABSE, IBRACON e ABCM. Publicou mais de 250 trabalhos (artigos em congressos e periódicos, autor de 4 livros, organizador de 3 livros com autoria de 9 capítulos, e teses).

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