Por Emil Sanchez* | Imagem: Anicer
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A normalização para a construção civil no Brasil teve um aprimoramento significativo nas duas últimas décadas, principalmente nas prescrições que estabelecem quesitos olvidados nas antigas normas de dimensionamento estrutural. O surgimento da norma de desempenho foi a resposta do meio técnico às necessidades da coletividade.
Os estudos iniciais para a elaboração dessa norma datam de 2000, quando a Caixa Econômica Federal e a Finep buscaram junto aos diversos segmentos da construção civil e a sociedade, vincular as exigências dos usuários no que se refere a itens que consideram, em resumo: a segurança, a habitabilidade, o conforto e a manutenabilidade das edificações e, mais recentemente, a sustentabilidade. A primeira versão disponível em 2007 para consulta pública gerou algumas controvérsias, então sua publicação foi postergada para 2013.
Nesse contexto, a NBR 15.575 Edificações Habitacionais — Desempenho. Parte 1: Requisitos Gerais estabelece parâmetros para uma edificação, além dos prescritos em outras normas, tais como: desempenho acústico; desempenho térmico; durabilidade; garantia; vida útil. No seu escopo afirma a necessidade de unir encargos dos diversos intervenientes, projetistas, construtor, incorporador e usuário, no processo produtivo.
Como exemplo de prescrição restritiva que deve ser considerada para garantir um bom desempenho acústico é a limitação de um valor mínimo para as alturas de lajes de concreto, por exemplo, uma laje de edificação habitabilidade, principalmente no que se refere ao conforto residencial, quadrada com (4 x 5 x 0,08) metros (largura x comprimento x espessura), apoiada nos seus quatros bordos sobre paredes de Alvenaria Estrutural, atende as condições do Estado Limite de Serviço, quando da verificação de flechas e fissuração segundo a NBR 6118:2014: Projeto de estruturas de concreto – Procedimento. Entretanto, as exigências de acústica não são adequadamente atendidas. Esse fato fica evidente em construções populares de Alvenaria Estrutural de até cinco pavimentos, com lajes de vãos menores do que os explicitados, ao se optar por painéis pré-moldados de concreto armado com pequena espessura. Os incômodos que levam às diversas polêmicas entre usuário/usuário, e usuário/construtora, devido ao desconforto sonoro produzido pelo caminhar açodado, queda de objetos, entre outros, são frequentes, sendo minimizado quando a altura da laje é igual ou superior a 10 cm.
Outro fator fundamental a se analisar, e muitas vezes sequer avaliado quando a altura da laje é igual ou superior a 10 cm quando da elaboração dos projetos, é o desempenho térmico adequado. O parâmetro indicador dessa investigação é a transmitância: “o fluxo de calor que, na unidade de tempo e por unidade de área, passa através de um componente, para uma diferença unitária entre as temperaturas do ar em contato com cada uma das faces desse mesmo componente”. A magnitude da transmitância é expressa em W/m². ºC (Watt por metro quadrado por grau centígrado).
Para uma parede de alvenaria de blocos cerâmicos, com revestimento externo em 2,5 cm de argamassa, assentados com juntas de argamassa com 1,5 cm de espessura ou blocos com dimensões (9 X 14 X 24) cm, desconsiderando o revestimento interno da parede, o fluxo de calor é igual a 2,61W/m².ºC; para o bloco com dimensões (14 X 19 X 29) cm o fluxo de calor será 1,96, ou seja, há uma redução de 25%. A aplicação de um revestimento interno de 2,5 cm de argamassa reduz em cerca de 7% esses valores, por exemplo: para um revestimento interno em gesso com espessura igual 0,2 cm e blocos com dimensões (9 X 14 X 24) cm, essa redução é insignificante no caso do bloco menos espesso, e cerca de 5,6% nos blocos com as dimensões (14 X 19 X 29) cm. Para o bloco de maior dimensão e mesmas condições, sendo o revestimento interno em gesso com espessura de 1,2 cm, se tem 2,86, um acréscimo de aproximadamente 35% em relação ao similar cerâmico. Ressalta-se que a espessura para assentamentos dos blocos em paredes estruturais é de 1 cm, o que tende a diminuir um pouco esses números. Esse exemplo mostra uma simples avaliação do que há de se considerar no atendimento ao desempenho térmico de uma edificação.
Na década de 1990 difundiu-se no meio técnico brasileiro a praxe construtiva de não se assentar tijolo e blocos de fechamento ou estruturais, sem o preenchimento das faces laterais desses elementos. No caso da Alvenaria Estrutural ocorre uma redução de 70% da capacidade da parede ao cisalhamento. Constata-se uma negligência do setor que se esqueceu das funções primárias das argamassas, a saber: regularizar as superfícies de contato entre os blocos, uniformizar as tensões nessas superfícies, dentre outros que resumidamente se referem à penetração de água, no caso de paredes externas, ao conforto acústico e térmico, desprezando um item fundamental como a segurança estrutural, ou seja, garantir resistência ao cisalhamento. As normas atuais são restritivas quanto a esse procedimento.
Nesse contexto a NBR 15.575 em vigor tem prescrições cujo atendimento torna o sistema construtivo em Alvenaria Estrutural de blocos cerâmicos, cada vez mais, uma opção técnica adequada às exigências normativas para o mercado habitacional.
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