Hoje é:23 de novembro de 2024

Você trabalha da sua casa ou da casa da mãe Joana?

Por Ed Wanderley

O conteúdo deste artigo não necessariamente reflete a opinião da Anicer e é de responsabilidade de seu autor.

Em cargo de gestão há alguns anos, sempre lidei com diferentes gerações e os casos marcantes são sempre o de gente jovem ou sem noção – coisas não necessariamente vinculadas. Então aquelas visões surpreendentes de pés em cima da mesa de trabalho, pés descalços no meio da sala, espreguiçadas com semigritos e tantas outras “espontaneidades”, sempre lidei com um “tá em casa, colega?”. Se a ironia fina não fosse suficiente, era acompanhada de um “quer um travesseirinho pra acompanhar? Não?”. Há quem aprenda para sempre – e há aqueles cuja falta de noção é patológica.

A questão é que, agora, muitos de nós, estamos, sim, em casa, no tal reino do home office. E aí, amigo, Tico e Teco entram num curto circuito sem precedentes. Há, claro, a desculpa de não dominar plenamente as ferramentas de videoconferência. Foi isso que o vereador Ditinho do Asilo, de Bragança Paulista, alegou ao ser flagrado cheirando uma calcinha durante uma sessão da Câmara. Também foi o que disse o vereador Amaro Cipriano Maguari, do Recife, ao aparecer, também numa reunião de parlamentares, tomando banho.

Tudo bem, não precisamos exagerar e achar que todo mundo vai protagonizar arranjo semelhante. Os dois casos são de representantes do povo, mas partamos da ideia de que nossa nação é melhor educada que isso – tenha esperança. Mas, nas pequenas coisas, muito é comunicado. Não sei você, mas nesses três meses de reuniões por Zoom, Hangouts e Meets, já vi de tudo. Teve quem acompanhasse discussões deitado na cama ou no sofá, marmanjo sem camisa, coadjuvantes que passam por trás da pessoa e fazem palhaçadas, dão tchauzinho ou dançam (quem nunca?), participante que falava no meio da corrida ou de cima de um aparelho de academia com o celular na mão a balançar e também quem parasse a reunião para dizer que tinha que dar atenção às crianças.

Há uma série de questões básicas de comunicação e imagem que podem garantir que você não esteja escorregando na hora de participar de uma reunião de trabalho ou aula. O olhar no grupo, voltado para a tela é um deles – independentemente do quão atraente seja o meme que chegou no seu celular, do quão urgente seja o e-mail que você tenha que responder ou o quão bela seja sua janela a te lembrar da liberdade completa do ir e vir; foco. É o mínimo que se espera. Além disso, microfone desligado sempre que tiver barulho no seu ambiente ou alguém estiver conduzindo apresentações. Se for se ausentar, verifique se a câmera está em off, ninguém merece ver sua intimidade sem ao menos um vinho antes.

Por fim, atenção mínima o bastante para que, se sua câmera e microfone estejam desativados e você seja convocado para a conversa de alguma forma, você seja rápido o bastante para religá-los antes que qualquer silêncio constrangedor encha o tempo e os corações do presentes. Se não for pedir muito, colega, amigo, camisa; cenário sem pisca-pisca e luzes coloridas e celular ou computador apoiado, de preferência não na mão, na maior demonstração de preocupação com a labirintite alheia. Desejo muito que quem quebre essas regras ceda à tentação de clicar em algo enviado pelo WhatsApp e seja um gemidão, bem na cara do chefe. Afinal, você até está em casa, colega, mas até onde verifiquei, trabalho ainda era trabalho.

Instagram: @edwanderley

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Ed Wanderley é repórter e escritor, natural de Pernambuco, destacado entre os 100 jornalistas mais premiados do Brasil. Torcedor do Sport e entusiasta da lógica de que quando a informação não é o bastante, só o humor salva.

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