Hoje é:3 de dezembro de 2024

Construção verde e a cerâmica vermelha

Em tempos de “fica em casa” moradias confortáveis e saudáveis, seguindo as tendências que auxiliam o meio ambiente, fazem toda a diferença

Por Juliana Meneses e Manu Souza | Imagens: Anicer e divulgação

Quando a questão é o bem-estar da sociedade, a construção fica sob os holofotes como a principal fonte desta condição. Por conta da pandemia do coronavírus, muitas pessoas tiveram uma maior integração com seus lares e em meio a tantas incertezas sobre esta doença invisível, sentir-se seguro e confortável em sua própria casa vai além do desejo e mantém a calma e a sanidade dos ocupantes daquele lar.

Imagine ser obrigado a ficar dentro de uma casa extremamente quente, em que as paredes e o teto absorvem o calor do sol e replicam uma sensação de sauna particular. Ou então, ficar preso a um apartamento em que as paredes parecem não existir e você pode ouvir todo a vida dos seus vizinhos? Como se sentir confortável assim?

Por conta da pandemia, alguns países estão desenhando e ampliando programas e políticas públicas para debater os limites do crescimento econômico para a sustentabilidade do mundo. A China, fala em descarbonização nos próximos 20 anos – o país é o atual maior emissor de gases do efeito estufa -, e investe em energia renovável.

A Rio-92, até hoje a maior conferência da ONU sobre o meio ambiente, lançou a Agenda 21 e segundo o Ministério do Meio Ambiente (MMA), a indústria da construção é o setor que mais consome recursos naturais e utiliza energia de forma intensiva, o que gera consideráveis impactos ambientais. No contexto da Agenda 21, para países em desenvolvimento, a construção sustentável é definida como [um processo holístico que aspira a restauração e manutenção da harmonia entre os ambientes natural e construído, e a criação de assentamentos que afirmem a dignidade humana e encorajem a equidade econômica].

É importante praticar técnicas de construções mais sustentáveis, utilizando materiais de construção ecoeficientes. Segundo dados da Comissão Europeia, melhorar a construção e a utilização de edifícios na União Europeia, por exemplo, poderá reduzir em 42% o consumo final de energia, em cerca de 35% as emissões de gases do efeito estufa e 30% a quantidade de água usada. O rótulo ecológico da UE identifica produtos e serviços que apresentam um reduzido impacto ambiental ao longo de todo o seu ciclo de vida. Os critérios para a sua utilização são definidos por cientistas e ONGs, com o objetivo de proporcionar maior segurança nas escolhas responsáveis do ponto de vista ambiental.

Já no ano de 2013, durante a realização do Encontro Nacional da Anicer, em Recife (PE), o diretor da Associação Dinamarquesa de Cerâmica e presidente do Comitê Ambiental de CU Enviromental, Tommy Bisgaard, indicava que a Europa já se preocupava com o conforto dos lares e com construções mais sustentáveis. No evento, ele apresentou a definição europeia sobre os padrões e ferramentas de construção sustentável desenvolvidos pela Comissão Europeia. Incluindo também as iniciativas políticas para redução da emissão de CO2 e economia de energia, tanto para a produção de edificações e materiais de construção quanto para a política de moradias com energia quase zero. Foram abordadas questões de climatização e conforto térmico em interiores, relacionadas a edificações com oscilações de ar providas de paredes muito bem isoladas.

Bisgaard enfatizou que as construções devem ser edificadas sobre pilares como eficiência energética, sustentabilidade e questões ambientais, sociais e econômicas e ainda apresentou as principais normas regulamentadoras da União Europeia, exaltando as qualidades dos produtos cerâmicos. “A Dinamarca possui um clima extremamente frio. Eu não gosto de frio, prefiro calor. Por isso, todas as casas do meu país são feitas com blocos cerâmicos, que garantem melhor conforto térmico e qualidade do ar dentro de casa. Esta é uma realidade em toda a Europa”, concluiu.

As chamadas construções verdes ou construções sustentáveis estão em ascensão, não apenas no Brasil, essa é uma tendência mundial. De acordo com dados do Green Building Council (GBC), o Brasil é o 4º país em edificações certificadas como sustentáveis no mundo, (certificação LEED – Leadership in Energy and Environmental Design – certificação internacional, presente em 167 países). O GBC é um instituto americano que visa fomentar a indústria verde da construção civil, incentivando a prática e auxiliando a natureza. A pesquisa mostra ainda que o país possui 1.345 registros, sendo 533 certificações, não apenas em edificações de alto padrão, mas também em prédios comerciais, restaurantes, escritórios, shoppings, escolas e hospitais.

As construções verdes são projetos que visam proporcionar construções que não agridam o meio ambiente, trazendo novas tecnologias que auxiliem na preservação dos recursos naturais, como por exemplo as válvulas de pressão para gestão sustentável de água, o que ajuda na redução de desperdício, trazendo ganhos de cerca de 70% em torneiras e 80% em descargas. Outra alternativa sustentável dessas obras são as placas de energia solar, aplicadas por cima do telhado, que auxiliam na redução da utilização da energia elétrica, essa nova forma de consumo de energia limpa é tão sustentável, que pode reduzir até 90% do consumo.

Mais uma tendência são os chamados “telhados e paredes vivos”, onde em grandes edifícios são feitos jardins suspensos em seus telhados, ou grandes paredes com jardins verticais que auxiliam na redução de poluição, em muitos casos, são feitos em prédios comerciais onde os edifícios fazem hortas comunitárias para os funcionários usufruírem, além de tornar uma área antes inutilizada do prédio em um espaço para lazer.

Uma boa prática é a utilização da cerâmica vermelha nas construções, um fator de contribuição ambiental, uma vez que o processo de fabricação do produto cerâmico utiliza matéria-prima 100% natural, a argila, e nenhum componente agressivo ao meio ambiente. Para converter a matéria-prima no produto final, utilizam-se os quatro elementos da natureza: terra – argila; água – misturada à argila para ser moldada, ar – para alimentar o fogo e secar as peças; e fogo – para aumentar sua resistência.

Este material tão antigo e tradicional é o favorito dos brasileiros devido às suas propriedades únicas, como seu alto isolamento térmico e acústico, dois fatores essenciais para as condições de salubridade e conforto de uma residência. Inclusive, temos no Brasil um bom exemplo de sabedoria popular acerca das características de isolamento térmico desse produto, que é o hábito de armazenar água em potes cerâmicos – moringas -, ou em filtros de barro, para manter o seu frescor por muito tempo.

Nos últimos anos, um número crescente de indústrias cerâmicas vêm adotando, como combustível para os fornos, diversas biomassas renováveis que são descartadas pela agroindústria, como bagaço de cana, cascas de coco e de castanha, sementes de açaí, palhas de café, milho e arroz, além do pó de serragem da indústria moveleira e grandes volumes de podas de árvores de parques e jardins, entre outros. Além de utilizar combustíveis que emitem menos gases do efeito estufa e que não desmatam, a indústria cerâmica passou a absorver e eliminar resíduos de outros segmentos, atuando como indústria limpadora do meio ambiente.

A redução das emissões de gases do efeito estufa alcançada pela adoção dessas biomassas alternativas tem permitido às empresas gerar e negociar créditos de carbono no mercado internacional por meio de diferentes operações, como o mecanismo de desenvolvimento Limpo (MDL). Os recursos obtidos nestas transações têm permitido que as empresas financiem a conversão de seus equipamentos para se tornarem cada vez mais sustentáveis. Este ciclo virtuoso, que tem se repetido em um número cada vez maior de indústrias, vem ganhando escala no segmento cerâmico e está transformando o setor em um importante aliado contra o aquecimento global.

A recuperação das áreas de extração de argila também é tratada com atenção, em cumprimento às obrigações estipuladas pelo artigo 225, inciso 2º, da Constituição Brasileira. Apesar de estar entre as maiores atividades mineradoras do Brasil, ela é muito difusa e de baixo impacto. Os projetos de recuperação, geralmente, dedicam essas áreas às atividades de piscicultura, fruticultura, ecoturismo, pastagens ou florestas plantadas com vegetação nativa ou exótica. Outro fato importante é que os resíduos de cerâmica vermelha não são nocivos ao meio ambiente e são classificados pelo Conselho Nacional de Meio Ambiente (Conama) como classe “A”, como reaproveitáveis e totalmente recicláveis, sem danos ao meio ambiente.

Mas, é em termos de eficiência energética – tema que norteia todo o reposicionamento sustentável da indústria mundial – que a indústria de cerâmica vermelha tem dado a sua contribuição para o meio ambiente, multiplicando seus efeitos na cadeia da construção civil. Desde a fabricação, transporte e manuseio no canteiro de obras, os produtos cerâmicos apresentam melhor desempenho, já que seu peso é metade do seu equivalente de concreto, com a mesma resistência mecânica, o que permite reduzir o consumo de combustível empregado no transporte, menor dispêndio de energia no transporte vertical etc.

Outro aspecto que confere grande eficiência energética relativa aos transportes, é o fato da indústria cerâmica estar espalhada por todo o território nacional, com jazidas de matéria-prima muito próxima às fábricas e com uma rede de distribuição capilarizada que atende a todos grandes centros consumidores com uma distância máxima de 250 km, incluindo aí a Região Norte.

Aliados, estes fatores provocam grande redução nas emissões de CO2 em decorrência da logística envolvida. Além disso, vale ressaltar, blocos cerâmicos possuem melhor isolamento térmico, o que proporciona grandes economias em energia elétrica destinada à refrigeração de ar, ao longo de toda a vida útil de um imóvel. As práticas sustentáveis do setor cerâmico auxiliam diretamente em uma construção que preze por materiais menos poluentes e de grande durabilidade, garantindo que o tempo de uso seja eficaz e de qualidade, há menos desperdícios em novas edificações ou mesmo produção de entulho e descartes desnecessários.

A arquiteta Bruna Bitencourt acredita que uma forma de minimizar os danos da construção civil é com a utilização de recursos como o BIM, que conseguem antecipar possíveis falhas o que geraria retrabalho. “Como sabemos, a construção civil é uma das principais fontes de descartes irregulares do mundo, para minimizar esse efeito é preciso utilizar materiais que gerem menos impacto ambiental, potencializar o uso consciente de energias renováveis, uso de recursos tecnológicos para construir, como por exemplo o programa BIM, que auxilia muito a redução de resíduos de construção e atende as novas necessidades de evitar demolições, ajudam muito na redução dos custos com operações”.

A cerâmica vermelha é conhecida por ser um material mais sustentável – de acordo com a Avalição do Ciclo de Vida – ACV, realizada pela empresa canadense, Quantis. Para a engenheira civil Iza Valadão, o material cerâmico pode ser um aliado para uma construção sustentável. “É importante difundir essa informação aos construtores e priorizar o uso do bloco estrutural, o qual favorece ainda mais a sustentabilidade, em função da sua modularidade, economia de tempo de execução de obra e minimização na geração de resíduos”.

A engenheira destaca ainda que para uma construção ser realizada de modo que esteja de acordo com a preservação dos recursos ambientais é preciso que se utilize materiais mais sustentáveis. Precisa utilizar materiais que favoreçam, da melhor maneira possível, a relação com o meio ambiente e as pessoas, ou seja, é preciso favorecer o uso de produtos certificados e principalmente aqueles que realizam a ACV, a qual auxilia na identificação de pontos do processo produtivo que precisem de intervenções, para que os produtos fiquem mais sustentáveis e competitivos economicamente”.

Iza ressalta ainda as medidas necessárias para a realização de um projeto mais sustentável. “Elaboração de projetos cada vez mais detalhados e com tempo hábil antes da construção, priorização no uso de materiais que sejam fabricados com menor impacto ao ambiente e que priorizem a saúde de todos envolvidos no processo – desde a produção até o consumo final -, valorização da mão de obra envolvida em todo o processo, priorização de materiais que sejam fabricados o mais próximo possível da construção e de preferência, todos de fabricação nacional”.

A Anicer realiza uma série de consultorias que visam contribuir para o enriquecimento do setor cerâmico, conectando valores sustentáveis aos produtos produzidos. Com temas que norteiam eficiência energética, gestão ambiental para as cerâmicas, sustentabilidade e inovação através de resíduos e biomassa no processo produtivo e qualidade. Saiba mais em www.anicer.com.br

Juliana Meneses é jornalista na Anicer.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *