Hoje é:20 de setembro de 2024

Casa da Flor

Projeto feito de cacos traz representação da arquitetura popular e criativa

Por Juliana Meneses | Imagens: Nelson Kon/ Cris Isidoro/ Diadorim Ideias

Localizada na cidade Fluminense de São Pedro da Aldeia, na Região dos Lagos, no Rio de Janeiro, a Casa da Flor é tombada, desde 2016, como patrimônio nacional. Idealizada e construída por Gabriel Joaquim dos Santos, entre 1912 e 1985, a edificação é feita com materiais reciclados e refugos de construções locais.

O artista, que foi trabalhador nas salinas, filho de uma indígena e de um ex-escravo, decidiu construir sua casa de um modo singular, ele enxergava possiblidade de arte onde os outros viam lixo. Pouco a pouco foi juntando os cacos de cerâmica, louça, vidro, ladrilhos e fazendo uma casa toda em mosaico, repleta de esculturas e mandalas. Foram 63 anos na construção de uma ideia e na decoração da casa.

Na época em que viveu, sua obra não tinha reconhecimento, os relatos contam que Gabriel havia sido inspirado por um sonho, quando resolveu que faria uma espécie de revestimento único e original, esculpindo por décadas seu projeto, que se tornou um legado arquitetônico, hoje considerada pelo Instituto Estadual do Patrimônio Cultural – Inepac, como “expressão ímpar da arquitetura espontânea popular”.

O modelo de sua obra já foi comparado por críticos de arte com a obra do grande arquiteto catalão Antoni Gaudí, mas a construção de Gabriel Joaquim dos Santos é na verdade um patrimônio inédito e tupiniquim, considerada um “barroco intuitivo”, sua originalidade utiliza conceitos e materiais tipicamente nacionais, com influência nordestina, negra e indígena.

A concepção da ideia conta com uma série de itens cerâmicos, o telhado de toda a casa é de telhas de cerâmica vermelha, revestimentos, tijolinhos à mostra, além de uma série de moringas, copos, pratos e vasos de cerâmica, tanto na parte interna, como externa.

Cada caco, para Gabriel, significava a possibilidade de compor uma nova forma de arte, fosse um mosaico com representações de flores ou borboletas ou uma nova escultura abstrata. Seus conhecidos e vizinhos levavam objetos quebrados para que ele pudesse dar vida e ressignificá-los, dando um novo sentido para o que antes poderia ser lixo.

O artista, que tinha grande conhecimento sobre o local, em uma das laterais da casa colocou um grande vaso de barro, como uma grande moringa, do lado de fora da casa, de modo que o vento forte que entrava pela lateral do terreno, passasse pelo muro vazado, deixando a cerâmica fria e a água gelada.

A Casa da Flor representa a memória nacional, um legado único de como a cultura nacional pode ser forte, criativa e simbólica, dando a oportunidade para que uma grande parte da população, que por muitos séculos não teve voz, se veja representada por um artista local e de origem humilde.

O projeto de arquitetura inspirou e foi tema de livro e filme. O documentarista, Eduardo Coutinho, realizou um filme sobre a arquitetura original da Casa da Flor, “O Fio da Memória”. Já a professora e pesquisadora, Amélia Zaluar, escreveu o livro “A Casa da Flor – tudo caquinho transformado em beleza”, além de ser criadora da sociedade de Amigos da Casa da Flor, responsável pela preservação e divulgação do imóvel.

Na placa, que fica na porta da casa, uma frase do artista, que aprendeu a escrever apenas após os 80 anos, traduz seu amor por sua obra, “Esta casa não é uma casa… isto é uma história. É uma história porque foi feita de pensamentos e sonho”. “uma casa feita de cacos transformada em flor”.

Serviço

Endereço: Rua dos Passageiros, nº 232, São Pedro da Aldeia – RJ
Telefone: (22) 2625-0719
E-mail: casadaflor_instituto@yahoo.com.br

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Juliana Meneses é jornalista na Anicer.

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