Por Emil Sanchez
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As ações térmicas ocorrem em todas as estruturas, com maior ou menor intensidade dependendo dos tipos dos elementos, materiais que as constituem, das configurações em planta e elevação e das vinculações dos seus diversos componentes. Os efeitos dessas ações são as fissuras ativas, cuja abertura varia com a temperatura e de modo algum devem ser vedadas com material rígido.
Em estruturas simples como muros divisórios ou estruturais é comum encontrar fissuras devido à ação térmica, oriundas das dilatações causadas pelos raios solares que podem gerar fissuras com aberturas na ordem de 2 mm a 3 mm, espaçadas de 4 m a 5 m. Essas fissuras, em geral, ocorrem na junção da alvenaria com os pilares ou de outros elementos de enrijecimento, mas também podem surgir no meio da parede.
Entretanto, de maior importância e gravidade são as que surgem em edifícios. Nesses as tensões térmicas nas lajes com bordos simplesmente apoiados se desenvolvem do centro da placa para os seus extremos, e teoricamente são nulas no centro. A força de tração horizontal e as cargas verticais nas paredes, estruturais ou não, geram tensões tangenciais e normais, cuja composição vetorial indica a existência de uma tensão de tração nesse elemento.
A temperatura na face superior da laje é maior do que a temperatura no seu intradorso, daí ocorre uma flexão que causa uma flecha de baixo para cima, ocasionando uma fissura horizontal na junção parede-laje. Numa fase posterior há desenvolvimento de fissuras inclinadas à aproximadamente 45 graus, de cima para baixo e do centro para o extremo da parede podendo ocorrer, inclusive no centro da parede fissuras verticais, com menor abertura. Essas fissuras muitas vezes são diagnosticadas de modo errado como devidas a recalque. Entretanto, as decorrentes de recalque diferencial, apesar de terem uma inclinação similar originam-se no canto da parede e direcionam-se ao seu centro.
A fixação das lajes nas paredes, por compatibilidade das deformações específicas, gera tensões nesses apoios, cujos materiais constituintes deverão ter tensões últimas superiores a essas tensões. Se a resistência à tração do bloco (tijolo) for maior que a resistência à tração da argamassa, a fissura acompanha as juntas de argamassa. Para blocos (tijolos) de má qualidade a fissura pode se desenvolver rompendo esses elementos, por isso as juntas de assentamento são executadas em tipo “amarração” devendo-se evitar as em prumo.
Em diversas obras constata-se o uso de grampos entre a última laje e as paredes, o que configura um erro grosseiro. Para sanar as manifestações patológicas originadas por essa falta de conhecimento têm-se as seguintes medidas corretivas não estruturais:
- proporcionar a ventilação cruzada na cobertura (área situada entre laje de cobertura-telhado) de modo a amenizar o aquecimento do ar no interior dessa região e alterar a temperatura no local;
- prever o isolamento térmico da laje de cobertura para diminuir a temperatura no local e dessa maneira diminuir o gradiente térmico.
Nesse caso as medidas estruturais a serem adotadas são: eliminar os grampos que unem as paredes, estruturais ou não (vedação), na laje de cobertura, de modo a permitir a movimentação da mesma; na junção da laje de cobertura com as paredes, estruturais ou não (vedação), inserir um apoio flexível de manta, material elastomérico ou EPS de alta densidade, com espessura máxima de 9 mm, de modo a permitir a movimentação da laje; executar, se possível, juntas de dilatação de modo a minorar os efeitos da ação térmica.
Ressalta-se que o pleno conhecimento dos conceitos básicos das ações térmicas, muitas vezes desprezados pelos projetistas e construtores, é essencial para minimizar os danos dessas ações.
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