Hoje é:20 de setembro de 2024

O Uso de Tijolos Cerâmicos em Alvenaria Estrutural

Por Emil Sanchez

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A Alvenaria Estrutural no Brasil, no século XIX e início do século XX, era basicamente de tijolos cerâmicos maciços, brick masonry. O testemunho da utilização desse material são as estações ferroviárias e indústrias têxteis construídas pelos ingleses em todo o território nacional.

Atualmente a normalização brasileira contempla, também, o emprego de blocos vazados de concreto, blocos cerâmicos e define tijolo cerâmico como sendo um componente básico da alvenaria, o elemento com altura menor que 115 mm, podendo ser perfurado ou maciço. Verifica-se, nesse caso, que o tijolo cerâmico é abordado de maneira similar ao bloco cerâmico com algumas restrições e diminuição de parâmetros relativos ao dimensionamento estrutural. A fundamentação para esse procedimento deve-se ao fato que a capacidade de carga de uma parede executada com tijolos cerâmicos é aproximadamente 15% inferior à com blocos cerâmicos para uma mesma argamassa de assentamento, como comprovam pesquisas realizadas no Brasil.

Salienta-se que as amarrações diretas das paredes de blocos de concreto, cerâmicos ou de tijolo têm as mesmas prescrições, não ocorrendo diferenças específicas em relação ao elemento utilizado. As diferenças mais acentuadas estão nas magnitudes dos parâmetros físicos a serem adotados no dimensionamento estrutural, isto é, a resistência à compressão do tijolo cerâmico é determinada pela resistência do prisma, o que possibilita a determinação do módulo de deformação longitudinal, que é igual a 600 vezes a resistência do prisma. No caso das paredes, a sua resistência está estimada em 60% da resistência do prisma. Deve-se considerar que coeficiente de Poisson é inferior ao do bloco cerâmico, enquanto o coeficiente de dilatação térmica linear, o coeficiente de expansão por umidade e o coeficiente de fluência específica, são os mesmos para as paredes de tijolos cerâmicos ou de blocos cerâmicos. E, finalmente, o peso específico a ser adotado no caso de tijolos cerâmicos maciços é 18 kN/m2, 28% superior ao peso específico das alvenarias de blocos vazados de concreto ou de blocos cerâmicos vazados com paredes maciças.

No dimensionamento à flexão simples, têm-se diferenças acentuadas na adoção da tensão do aço da armadura tracionado quando da adoção de blocos e tijolos cerâmicos em relação ao uso de blocos vazados de concreto. A redução da tensão característica de escoamento do aço é função do diâmetro da barra, com diminuição marcante para a bitola de 16 mm. Ressalte-se que foi mantida uma redução de 50% na tensão do aço na expressão do braço de alavanca à flexão, fato que carece de fundamentação teórica. Por exemplo, se o diâmetro da barra for 12,5 mm a tensão a ser adotada para o aço CA 50 é igual a 163 MPa e para o diâmetro 16 mm é 109 MPa.

Esses valores são muito baixos e não asseguram o escoamento da armadura antes da ruptura da zona comprimida da seção, o que contradiz o dimensionamento dúctil no Estado Limite Último prescrito na normalização brasileira. As tensões com essas magnitudes eram adotadas quando o dimensionamento era realizado por meio do método das Tensões Admissíveis. Para comprovar esse fato, basta uma consulta à primeira norma brasileira para dimensionamento de alvenaria e verificar as tensões relatadas nesse texto. No caso do aço CA 25, as tensões a serem adotadas para os diâmetros iguais a 12,5 mm e 16 mm ficam iguais a 83 MPa e 54 MPa, respectivamente, o que praticamente inviabiliza o uso desse tipo de aço.

Uma novidade marcante na normalização é o uso de alvenaria protendida, onde para as alvenarias executadas com blocos ou tijolos cerâmicos a deformação específica de retração é nula. Tal fato está associado ao processo de fabricação do material, visto que durante a sua queima, em temperaturas elevadas nos fornos, da ordem de 1000 0C, eliminando grande parte da água existente no elemento.

A permissão do uso de tijolos cerâmicos deve ser avaliada com mais acuidade, pois no mercado é encontrada uma gama variada desse elemento, muitos dos quais não são adequados para o uso em estruturas.

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Mestre e Doutor em Engenharia Civil, pesquisador visitante da T.U. Braunschweig/Alemanha, professor titular aposentado da Universidade Federal Fluminense, membro do ACI, PCI, FIB, IABSE, IBRACON e ABCM. Publicou mais de 250 trabalhos (artigos em congressos e periódicos, autor de 4 livros, organizador de 3 livros com autoria de 9 capítulos, e teses).

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