Hoje é:10 de novembro de 2024

Como o setor de maquinário para indústria cerâmica vem superando a pandemia

Apesar das dificuldades políticas e econômicas do Brasil, o setor de máquinas e equipamentos vem driblando as adversidades e lucrando

Por Juliana Meneses – Imagens: Divulgação e Anicer

A pandemia do novo coronavírus foi algo totalmente inesperado para o mundo e acarretou um enorme prejuízo para vários setores da economia, com demissões e fechamento de diversos tipos de negócios, era de se esperar que não fosse diferente com a indústria da construção civil e da cerâmica vermelha. Entretanto, surpreendentemente, a crise sanitária e a crise econômica que tomaram conta do mundo e do país, trouxeram um fator novo, o home office e a necessidade de ficar em casa, com isso, as famílias viram a oportunidade de realizar pequenas reformas e melhorias para deixar suas casas mais aconchegantes, já que teriam que ficar mais tempo nestes ambientes, aquecendo o setor da construção.

Em meio aos acontecimentos que vêm sucedendo a crise do novo coronavírus, o setor fabril de equipamentos que atende as necessidades das indústrias cerâmicas tentou fornecer atendimento conforme as demandas e de acordo com o que era solicitado. Uma série de fatores foi determinante para que pudesse haver um bom andamento dos processos neste período, que se estende ainda sem data para acabar. Assim, as empresas vêm se adaptando a nova realidade.

O engenheiro da Direxa Engineering, Renato Alberti, afirma que a maior dificuldade para seu setor com a Covid 19 foi quanto as matérias-primas para produção do maquinário, o que afeta diretamente o custo e preço do repasse. Ele conta que uma estratégia para não perder clientes foi tentar reduzir o tempo de entrega. “O maior impacto no nosso setor foi a falta e o aumento gigantesco nas matérias-primas. Onde fica complicada a compilação de valores dos nossos produtos, já que os aumentos são mensais e também a falta de muitos materiais no mercado. Fomos obrigados a trabalhar com orçamentos com validade menor e, mesmo assim, fica complicado no momento do fechamento do contrato, já que nossos produtos demandam meses para fabricação e entrega, desta forma, sempre buscamos a compra das MP [matérias-primas] quanto antes possível, para ter menor risco”.

O engenheiro conta que o layout da fábrica não sofreu grandes mudanças e que estão investindo em desenvolvimento de novos equipamentos. “Nosso layout não foi modificado grandiosamente, mas sempre buscamos o melhor processo de fabricação com sistemas de gabaritos para grandes quantidades e equipamentos de maior volume. Estamos desenvolvendo equipamentos com tecnologia europeia e americana em padrões brasileiros. Movimentações de vagões e vagonetas 100% automatizados. Portas de Forno com sistema de segurança e conforme necessidade do cliente”.

Alberti explica que houve prós e contras neste processo de adaptação que o mercado sofreu com a pandemia. “No modo geral, a pandemia aumentou a demanda de produtos de nossos clientes, consequentemente, a necessidade de maior produtividade e com isso investimentos. Em contrapartida, o aumento de MP [matéria-prima] e a escassez da mesma fez com que nossos equipamentos ficassem mais caros, mesmo assim, estamos conseguindo alavancar um pouco as vendas, coisa que não acontecia desde 2015”.

O diretor de vendas da Bonfanti, Luiz Bisaccioni, conta que com a pandemia, houve um aumento de demandas no setor da cerâmica e os pedidos de equipamentos aumentaram além do planejado, o que acarretou um atraso na entrega das máquinas. “Após um curto período de normalidade, o setor cerâmico ficou plenamente envolvido no rápido crescimento do mercado imobiliário. O mercado residencial iniciou com pequenas reformas e ampliações, enfim casas e edifícios habitacionais. A elevada procura do material cerâmico gerou atraso na entrega e todos os insumos utilizados na fabricação tiveram seus custos alterados, gerando novos preços de venda. A mesma situação aconteceu com a Bonfanti, a elevada procura e venda de equipamentos e peças de reposição gerou o atraso no prazo de entrega dos seus produtos, a matéria-prima utilizada sofreu e está sofrendo, até hoje, vários aumentos, elevando desta forma o seu custo de produção, sem considerar que a sua entrega é longa, parcial e atrasada. Mesmo com 350 colaboradores e duas unidades fabris, continuamos com problemas de entrega e a carteira de pedidos continua crescendo”.

Bisaccioni conta que a Bonfanti utilizou de quatro estratégias para se reinventar neste período: aumento do número de fornecedores idôneos e qualificados, aumento do quadro de funcionários, aumento dos turnos de trabalho das duas unidades fabris e aumento do controle de qualidade durante as fases de produção.

Dentre as últimas inovações em produtos que estão sendo desenvolvidos pela Bonfanti estão a Extrusora Monobloco a Vácuo, para extrusão a duro, modelo “Hurricane” com caracol dianteiro inferior de 500mm de diâmetro e os Secadores Semicontínuos Semi-rápidos [sic] com secagem rápida de 5 a 8 horas para qualquer produto cerâmico com paredes finas, paredes grossas e telhas cerâmicas, que possui tecnologia italiana da empresa Marcheluzzo/Cosmec, parceira da marca. Para manter um layout atualizado em uma cerâmica, Bisaccioni diz que é preciso seguir algumas etapas. “Acho que o ceramista precisa, neste momento, seguir os seguintes passos: controlar e administrar a matéria-prima e suas jazidas para manter um padrão de mistura das argilas. Mesmo com o aumento de produção, fabricar produtos cerâmicos com qualidade, conforme as normas vigentes. Ter um contato técnico/comercial após as entregas dos produtos cerâmicos (pós-venda) para verificar a satisfação final do cliente. Analisar as perdas de produção e estabelecer um plano de ação para diminuir, até eliminar, as perdas, aumentando assim a lucratividade operacional. Analisar os custos fixos/sua evolução/neste período X preço de venda e qualificar através de cursos a mão de obra da sua fábrica e isso vai gerar uma diminuição do custo de produção”.

Para o diretor comercial da Natreb – Soluções Inteligentes para a Indústria e Presidente da Associação Nacional dos Fabricantes de Máquinas e Equipamentos para Indústria Cerâmica (Anfamec), Agnaldo Cezar Bertan, a Covid-19 impactou o setor, sobretudo no início. Ele afirma que o aumento das matérias-primas afetou a margem de lucro dos equipamentos. “A Natreb foi impactada nas vendas logo nos primeiros 3 meses de pandemia. Em seguida, as vendas retomaram, mas os afastamentos de funcionários por Covid ou por suspeita foram muitos ao longo dos meses até hoje, o que afetou muito o ritmo de produção da fábrica. Houve também aumentos abusivos de preços das matérias-primas como o aço, que acabou afetando as margens de lucro e adiando algumas compras de clientes. Por alguns meses, a principal dificuldade deixou de ser vender e passou a ser comprar e produzir”.

O diretor comercial acredita que o setor conseguiu se reinventar neste período diante do cenário imposto pela crise sanitária com a ajuda do online. “Apesar da pandemia ter gerado forte crise em alguns setores, a cerâmica e construção civil foi pouco afetada, então, consequentemente as vendas de máquinas seguiram aumentando durante 2020 e 2021. A principal mudança durante o período foi a intensificação do uso de reuniões online com os clientes, substituindo parcialmente as visitas presenciais”.

Agnaldo Bertan indica que para manter um layout atualizado na fábrica é importante pensar na eficiência e como atingir os melhores rendimentos. “A Natreb tem feito diversos layouts para implantação de novas máquinas em linhas de produção em atividade e também para fábricas novas. A eficiência da fábrica é o ponto principal a ser respeitado em qualquer layout, buscando sempre obter o melhor rendimento dos equipamentos com eliminação de paralizações e obtendo produção com menor custo de energia e mão de obra. A automação também é um caminho sem volta nas cerâmicas, visto que a disponibilidade de mão de obra para funções de trabalho pesado e insalubres vem reduzindo ao longo do tempo e esta tendência tende a acelerar”.

O diretor explica ainda que a Natreb tem investido em inovações dos equipamentos e máquinas. “Hoje, a Natreb tem como principal inovação no Brasil o Secador Rápido, que é um equipamento que vem quebrando paradigmas em todas as regiões do país, eliminado processos tradicionais de secagem de blocos que levavam entre 20 e 30 horas, passando a secar em 50 a 70 minutos com índice de qualidade muito próximos de 100%. Também fomos os primeiros no Brasil a fabricar a Draga Recolhedora de Argila, que tem se provado um investimento viável para cerâmicas que movimentam grandes estoques de argila, eliminando pás carregadeiras e melhorando a qualidade da preparação de massa. Novas tecnologias para movimentação de peças cerâmicas reduzindo mão de obra também foram desenvolvidas pela Natreb e estão sendo muito bem recebidas pelo ceramista. Além de avanço nas tecnologias de queima, com fornos móveis diferenciados”.

Agnaldo Bertan diz que estar disponível para o ceramista e investir em engenharia foram os diferenciais adotados pela empresa nos momentos de crise. “Os fabricantes de máquinas passaram por forte crise entre 2015 e 2019. Alguns tiveram que sair do mercado e outros fizeram a escolha de se pouparem e voltarem só com o mercado em alta. A Natreb escolheu investir na sua engenharia durante a crise e manter a assistência aos clientes, o que tem gerado bons frutos nesta retomada pois o setor tem reconhecido o esforço dos fabricantes que se mostraram verdadeiros parceiros do setor, trazendo inovações, dando o suporte para continuarem operando, mesmo na crise. Além do reconhecimento, é claro que o cliente sempre busca por equipamentos que melhorem seus ganhos na fábrica e é nessas horas que os produtos inovadores entram, para substituir as tecnologias antigas e darem mais lucro ao ceramista”.

Visão do Ceramista

No setor cerâmico, os ceramistas que utilizam estes equipamentos, também não viram a crise como um problema, houve uma maior procura por produtos cerâmicos no país, sobretudo durante o ano passado, quando o auxílio emergencial possuía um valor mais elevado.

Para o gerente financeiro da Cerâmica Braúnas, Paulo Innecco, a Covid-19 não afetou de forma negativa o setor, mas sim auxiliou para que fosse possível vender mais. Para ele, os principais problemas para a manutenção dos equipamentos são quanto a pessoal capacitado para saber como proceder de forma adequada. “É um problema conseguir mão de obra especializada para equipamentos importados, robôs e forno. Falta mão de obra especializada”.

Já o supervisor comercial da Cerâmica Porto Velho, Samuel Nogueira de Assis, acredita que o impacto positivo nas vendas de produtos cerâmicos que houve no ano passado, com o início da pandemia, se deu devido ao auxílio emergencial do governo e ao fato das pessoas terem que ficar em casa, o que as levou a investir em melhorias nos imóveis. “Impactou de uma certa maneira, não sabemos o porquê, acreditamos que de certa maneira, através do auxílio emergencial o pessoal gastou mais com construção civil, ficando em casa, então deu um boom aí momentâneo”.

 Nogueira acrescenta que a Cerâmica Porto Velho atendeu a demanda do mercado e que devido a modernização da empresa não houve nenhum tipo de problema com os equipamentos. “Não teve muita reinvenção, acabou que a gente só atendeu a demanda, parou de trabalhar na linha mais tecnológica de blocos estruturais e voltou para produtos mais tradicionais, que era o que estava tendo demanda. Não teve problema de manutenção de equipamentos, até porque nossa empresa é bem moderna, linha de automação a empresa é toda automatizada e robotizada”.

Juliana Meneses é jornalista na Anicer.

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