Hoje é:19 de setembro de 2024

O que esperar de 2022

Por Carlos Cruz

Em um bate-papo descontraído, o proprietário da Cerâmica Argibem e ex-presidente da Anicer, Luis Lima, fala sobre economia, mercado, crise política, recessão e suas perspectivas para 2022.

Fundada em 1986 no município de Três Rios/RJ e com mais de 30 anos de mercado, a Argibem oferece soluções de alta qualidade para as principais obras e construtoras nos estados do Rio de Janeiro, São Paulo, Minas Gerais e Espírito Santo. 

Com sede no distrito de Bemposta, a cerâmica é especialista na fabricação de blocos cerâmicos de vedação para alvenaria racionalizada e, principalmente, blocos cerâmicos estruturais para alvenaria estrutural, atendendo um grande volume de obras para a construção de milhares de unidades de habitações de interesse social.

Confira a entrevista exclusiva que realizamos com o empresário.

Revista da Anicer: Quais são suas perspectivas para 2022?

Luis Lima: Eu espero realmente uma recuperação do Rio de Janeiro, porque nesse processo todo de recuperação de pandemia, alguns estados tiveram um rendimento bem superior ao do Rio. O Rio ficou parado por causa de muitos problemas políticos.

Revista da Anicer: A quais problemas o senhor se refere?

Luis Lima: O Rio, nos últimos anos, viveu de picos de eventos. Por exemplo, os Jogos Pan-Americanos. Houve um incremento da economia do estado e uma melhora nas vendas. Passados os jogos, as vendas caíram novamente e voltamos ao patamar normal. Depois tivemos alguns eventos políticos muito ruins que acabaram derrubando mais ainda a economia. Já estávamos em queda, e o uso de paredes de concreto nos programas habitacionais derrubou ainda mais o nível de vendas das empresas que vendiam para o Minha Casa Minha Vida. Em seguida, tivemos as Olimpíadas, e aí tivemos um pico muito favorável. Vivemos um período muito bom, de um ano e meio, com vendas em alta.

Revista da Anicer: Para todo o setor de cerâmica vermelha?

Luis Lima: Na verdade, só para algumas empresas. As que tinham uma tecnologia melhor, produtos melhores, sobreviveram. Depois das Olimpíadas, houve uma baixa normal, voltamos para o patamar de vendas normal, mas logo veio a Copa do Mundo.

Revista da Anicer: Um novo pico de vendas?

Luis Lima: Não foi um pico tão grande quanto o da Olimpíada, mas teve um incremento de vendas. Passamos um período relativamente bom. De novo, principalmente as empresas que tinham PSQ, que tinham produtos diferenciados e uma capacidade produtiva que suportava esse volume de obras. Mas logo depois nós entramos em novas crises políticas. A derrubada do Sérgio Cabral, do Pezão, do Witzel. De lá pra cá, a economia caiu muito, perdemos demais. E como nossa economia é muito dependente do estado, sofremos bastante e continuamos sofrendo até hoje.

Revista da Anicer: Mas, tirando esses problemas políticos, a crise econômica foi no país todo. Por que afetou mais o Rio de Janeiro que outros estados?

Luis Lima: Outros estados se saíram relativamente melhores que nós, mas também eles não tiveram tantas crises políticas como nós, tantos governadores presos como nós tivemos aqui no estado. Mas logo depois chegou a pandemia e aí veio um novo evento, que foi o auxílio emergencial de 600 reais. Esse auxílio enlouqueceu o mercado ao ponto de chegar a ter falta de produtos. Houve uma recuperação do preço. As pessoas ficaram muito tempo em casa, então acabaram aumentando os cômodos. Como não podiam sair de casa, investiram nas próprias residências. Agora, isso é voo de galinha, porque o auxílio acabou e a inflação chegou. Uma hora essa conta chega. O poder de compra caiu muito. Foi um incremento de mercado de formiguinha, do popular, e hoje o mercado desabou novamente.

Revista da Anicer: Por que desabamos?

Luis Lima: Porque falta investimento do governo do estado e do próprio governo federal em obras. O dinheiro está todo reservado para pandemia. As reformas nunca foram tão importantes, não somente a tributária, mas também a reforma política e a administrativa. Elas precisam vir, não dá para o país carregar o estado brasileiro do jeito que ele é nas costas por muito tempo. Ninguém aguenta isso, a economia sofre muito. O estado não tem condições de investir porque o recurso vai praticamente todo para o seu próprio custeio. E um custeio que a gente não tem benefício na outra ponta.

Revista da Anicer: E mesmo assim o senhor acha que 2022 será um bom ano?

Luis Lima: Para o ano que vem, eu tenho esperanças que a gente consiga alguma coisa de resultado melhor, porque está muito ruim e qualquer coisa de resultado será perceptível. Mas, longevidade mesmo, só se houver as reformas.

Revista da Anicer: Entre tantos pontos importantes tratados por essas reformas, diga um que o senhor mudaria já.

Luis Lima: Precisamos acabar com a reeleição. Os políticos se elegem já pensando na reeleição, trabalhando só para a reeleição e depois que conseguem se reeleger têm que ficar pagando os custos da reeleição, do mandato anterior, pra corrigir os erros. A gente não consegue sair do mesmo lugar. Precisamos das reformas, as três são muito atreladas e muito importantes. Não dá para carregar esse estado do jeito que é, com essa carga tributária para bancar o custeio do estado. Precisamos pensar bastante no país, o que fazer daqui para a frente para a gente conseguir ter um pouco de paz na economia e não ficar vivendo de voos de galinha e de intervenções esporádicas.

Revista da Anicer: Alguma obra grande esperada para 2022?

Luis Lima: Acho que o estado do Rio vai ter alguns investimentos importantes, principalmente na área de saneamento. E isso, querendo ou não, acaba puxando outras coisas. Estão vindo algumas indústrias para o estado, alguns investimentos pesados. Eu estou um pouco otimista. Nós estamos vindo de uma recessão muito grande dentro do estado. Se não houver aí uma reviravolta nessa questão da Covid que pare tudo novamente, acho que a gente consegue se recuperar. Estou animado para que no ano que vem a gente tenha um resultado um pouco melhor do que esse ano de agora.

Revista da Anicer: Esses investimentos esperados são públicos ou privados?

Luis Lima: A nossa economia é muito agarrada aos investimentos do estado, muito dependente do estado brasileiro. Se o estado tem uma capacidade de investimento, a economia como um todo sobe. Se ele não tem essa capacidade de investimento, a economia como um todo cai também. Eu acho que o estado do Rio vai ter uma capacidade de investimento maior do que teve nos últimos anos e isso vai fazer com que toda a economia se movimente.

Carlos Cruz é jornalista na Anicer.

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