Hoje é:20 de setembro de 2024

Eleições 2022 e seu reflexo na economia brasileira

Veja algumas análises de como o cenário político pode impactar a economia do país

Por Carlos Cruz | Fotos: TSE e Divulgação

Não há dúvidas de que 2022 será um ano carregado de expectativas e inseguranças para a economia. A crise política instaurada no atual governo somada às eleições no fim do ano são motivos mais que suficientes para pôr abaixo qualquer discurso do ministro da Economia, Paulo Guedes, que aposta na recuperação em “V” da atividade econômica nos próximos 12 meses.

Com a taxa básica de juros (Selic) sendo mantida em dois dígitos ao longo de todo o período, já é esperado que o consumo e o crédito permaneçam em baixa. Nem mesmo o Banco Central faz questão de esconder que sua política monetária freará o crescimento da economia brasileira.

Como consequência, a produção industrial também deverá se manter estagnada. E, embora especialistas acreditem que a inflação poderá chegar ao final do ano num patamar 50% inferior em relação a janeiro, tudo indica que, ao longo do ano, ela seguirá destruindo o poder de compra dos brasileiros, principalmente da população de baixa renda.

Por ser um ano de eleição, o esperado é que os programas sociais de distribuição permaneçam ativos ou até mesmo que tenham um aporte maior de recursos, o que, por melhor que pareça, não deve suavizar os impactos da crise. Com o dólar e o euro nas alturas, produtos importados e combustíveis deverão sofrer mais ajustes nos preços, o que contribuirá ainda mais para a redução do poder de compra do brasileiro.

Para o proprietário da Cerâmica Argibem e ex-presidente da Anicer, Luis Lima, antes de avaliar os possíveis resultados das próximas eleições, é importante identificar o que levou a eleição do atual presidente, Jair Bolsonaro. “A gente precisa entender que na verdade toda aquela pauta imperialista do Guedes, que inclusive eu sou muito a favor, era muito importante. Sou totalmente a favor do imperialismo, a economia tem que falar por si só. Um bom exemplo disso é a China, que é um país comunista, mas com a economia bem liberal. Tem um braço do governo sim, mas eles a tratam como liberal. Isso é liberalismo, não é reserva de mercado, como as estatais que temos aqui”, destacou.

Lima enfatizou a necessidade da realização das reformas. Segundo ele, se não houver reformas, não conseguiremos sair do mesmo lugar. “Muita gente, principalmente da esquerda, fala que tem que aumentar impostos e as empresas não aguentam, nem as pessoas, porque no final, quem paga isso tudo somos nós cidadãos. A gente acaba pagando o dobro do preço das coisas em função dessa carga tributária absurda”, disse. Ele elogiou a ajuda emergencial dada pelo governo às famílias de baixa renda durante a crise sanitária, que ajudou a movimentar a economia do país e a colocar comida na mesa dos brasileiros.

Houve muitos gastos que não estavam planejados. Mas por outro lado, o governo vem terminando obras importantes de infraestrutura, mesmo com todos esses gastos, ainda conseguiu recursos para terminar essas obras, algumas que estavam abandonadas e hiperfaturadas, e está acabando várias delas, de ferrovias, estradas, canais, que são obras extremamente importantes para o desenvolvimento do país e da indústria. “São análises que precisam ser feitas mais friamente sem ideologias, sem paixões”, destaca.

Números apontam para o desaquecimento da economia

Um relatório publicado pela Organização das Nações Unidas (ONU) mostra que a economia brasileira deverá apresentar um dos desempenhos mais fracos do mundo em 2022. De acordo com o documento, divulgado no dia 13 de janeiro, o Produto Interno Bruto (PIB) do país será o terceiro menor, de uma lista de 170 economias analisadas pelo relatório. Com apenas 0,5% de crescimento, o Brasil só fica atrás de Mianmar (-0,08%) e de Guiné Equatorial (-0,06%). A projeção da ONU é 1,7% menor do que a realizada em seu último relatório de 2021.

Um pouco mais pessimista, o Boletim Focus aponta para um crescimento de apenas 0,28%, mostrando uma economia estagnada. A projeção também é inferior a publicada anteriormente pelo Banco Central, de 0,36%. Esta é a menor previsão da série história do Focus, que começou a ser feita em 2002.

Em suas redes sociais, o empresário, engenheiro e ex-banqueiro de finanças Eduardo Moreira publicou um vídeo com duras críticas à atuação do presidente Jair Bolsonaro e do ministro da Economia, Paulo Guedes. “Isso é inédito na história deste país, isso nunca aconteceu”, afirmou Moreira com relação à previsão de crescimento do PIB. “Não é que Bolsonaro e Guedes estão levando o país para o desastre e são ruins, eles são historicamente o que de pior já aconteceu para este país”, acusou o empresário.

Clique aqui e assista ao vídeo de Eduardo Moreira.

Necessidade de reformas

Na opinião de Luis Lima, o país só melhora se forem feitas as reformas necessárias. “As três reformas são fundamentais. A política, porque não dá para governar dessa forma que está. Ou é presidencialista ou é parlamentarista, ou um ou outro. Não dá para ser essa mistura que está aí que ninguém vai a lugar nenhum”, destacou.

Segundo Lima, não dá pra conviver com o tamanho do Estado brasileiro e tamanha ineficiência. “É muito ineficiente a nossa administração pública. Nosso funcionalismo público não funciona, é só você precisar de alguma coisa do serviço público para perceber o tanto de burocracia que é”.

Sobre a reforma tributária, ele explica que não dá pra arrastar um Estado tão pesado, tão caro e tão ineficiente. O custo disso é muito alto. “Por mais eficiência que você consiga dentro do seu negócio, na hora que você cai na arrecadação, na parte tributária, tudo aquilo que você consegue você joga fora. Eu não sei como a gente resiste. Ou leva todo mundo para a informalidade de uma vez”, apontou.

O Presidente da Anicer, Natel Moraes, destaca a importância das reformas para alavancar o crescimento do segmento da construção civil. “A questão da retomada da economia na construção civil é importantíssima, porque em 2020 a gente já tinha previsão de ter um aumento da construção civil, mas a pandemia nos assustou um pouco. Percebemos que o comportamento das pessoas foi mudando, elas passaram a ficar mais em casa, arrumando a casa, isso também estimulou muito as vendas e de lá para cá, vemos um movimento crescente de vendas, junto aos anúncios de que o PIB está crescendo. Então, uma coisa é fato: o Brasil precisa fazer as reformas. A Anicer apoia de forma muito contundente a Reforma Tributária, que é primordial e, logo em seguida, a Reforma Administrativa, para que possamos superar os desafios futuros. Precisamos de um executivo reformista, precisamos de um legislativo reformista”, finaliza.

Carlos Cruz é jornalista na Anicer.

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