Hoje é:19 de setembro de 2024

A qualidade das construções em Alvenaria Estrutural

Por Emil Sanchez* | Imagem: Casa Cerâmica e City

O conteúdo deste artigo não necessariamente reflete a opinião da Anicer e é de responsabilidade de seu autor.

As macrofases construtivas de um empreendimento habitacional, comercial ou industrial consistem, resumidamente, em: projeto e execução. Nesse contexto, a qualidade de uma obra em Alvenaria Estrutural, ou seja, o acompanhamento em uso está intimamente relacionada ao bom projeto e a obediência a este por parte dos seus executores, já que um excelente projeto e uma má execução geram uma má estrutura, bem como um projeto deficiente gera uma obra de má qualidade mesmo se essa for bem executada.

Um lema fundamental deve ser firmemente observado: “No escritório se planeja, na obra se executa”. A qualidade de um empreendimento deve ser garantida por meio de controles de produção e de recepção dos produtos e serviços, aí se incluem as suas duas fases.

Os projetos: arquitetônico, estrutural e instalações, esses devem ser verificados por profissionais que não participaram de suas elaborações. Esse procedimento, por si só, conduz os autores a terem maiores responsabilidades na confecção dos projetos, minimizando erros, sejam os ocasionados por fatores extrínsecos ou intrínsecos, incluindo nesse último os humanos.

Outro procedimento ignorado por muitos é a compatibilização de projetos, que no caso de Alvenaria Estrutural pode assumir grande significância, como no caso de se embutir tubulações de gás ou outro fluido em parede estrutural, ou a execução de cortes graves nessas paredes para possibilitar a passagem de tubulação. Durante cada fase do empreendimento, projeto ou execução da obra, deve ser realizado o controle de processo, que é uma variável contínua e, na entrega do serviço, material ou a própria obra, deve ser realizado um controle de recepção que é efetuado por amostragem e configura uma variável discreta.

Deve-se destacar que o controle de produção, no caso dos projetos, inclui a verificação dos mesmos, e também, por exemplo, os resultados dos ensaios realizados nos blocos pelo produtor (o ceramista) sem a certificação de um laboratório credenciado, desprezando, portanto, o elo do sistema de controle de qualidade. Evidencia-se nas práticas quotidianas de diversos empreendedores a premissa do “saber adquirido”, ou melhor, fundamentados nas experiências adquiridas em serviços similares para justificar os não cumprimentos dos procedimentos normativos, que segundo a normalização brasileira são garantidos por: capacidade resistente, desempenho e durabilidade. Uma prática usual, perpetrada no sul do Brasil, é considerar que em construções habitacionais de Alvenaria Estrutural até cinco pavimentos, a resistência característica à compressão dos blocos estruturais deve aumentar 1 MPa para cada pavimento. Esse lamentável artifício despreza todos os procedimentos fundamentais na elaboração de um projeto estrutural, seja pelo carregamento atuante numa estrutura, ou pela decisão baseada em “preceitos práticos errôneos”.

O CB002 da ABNT elaborou o projeto ABNT NBR 16868-2, sendo a última versão a de fevereiro de 2020, que está disponível para consulta pública e posterior aprovação, que dentre outros temas aborda no item 4 os Requisitos do Sistema de Controle, tratando no subitem 4.1 do Plano de Controle de Qualidade, onde são estabelecidas as atribuições do executor (construtor) e não dos terceirizados, a saber:

    1. controle do fluxo das informações;
    2. especificação dos responsáveis pelo tratamento e resolução das não conformidades;
    3. registro e arquivamento das informações.

O item 4.2 da ABNT NBR 16868 versa sobre o projeto executivo, documento fundamental em qualquer obra, mas diversas vezes “elaborado em partes”, isto é, apenas a modulação das paredes, adotando-se práticas para a determinação das resistências dos diversos componentes, leia-se blocos, argamassas e prismas, com base em obras similares e até mesmo adaptações de procedimentos de outros construtores; fortalecendo os “preceitos práticos errôneos”, como citado anteriormente, de adotar-se 1 MPa para cada andar.

Entretanto, esse item prescreve que “….a obra deve ser executada após a compatibilização de todos os projetos, e se houver interferências de projetos complementares sobre o estrutural, essas interposições devem estar explicitamente aprovadas”. Nesse contexto, comprova-se a supremacia do projeto estrutural sobre os demais, que a ele são adaptados. Essas prescrições visam não só a segurança da estrutura, mas também a garantia de qualidade do sistema construtivo em Alvenaria Estrutural.

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Mestre e Doutor em Engenharia Civil, pesquisador visitante da T.U. Braunschweig/Alemanha, professor titular aposentado da Universidade Federal Fluminense, membro do ACI, PCI, FIB, IABSE, IBRACON e ABCM. Publicou mais de 250 trabalhos (artigos em congressos e periódicos, autor de 4 livros, organizador de 3 livros com autoria de 9 capítulos, e teses).

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