Por Carlos Cruz | Imagens: Anicer
Inicialmente utilizadas nos fornos das cerâmicas como alternativa ao gás natural pelo baixo custo, as biomassas estão aos poucos deixando de ser um combustível tão atrativo aos empresários do setor. É que, assim como aconteceu com o gás natural, as biomassas viram seus preços dando um salto considerável nos últimos meses, deixando de ser uma alternativa vantajosa.
O presidente da Anicer, Natel de Moraes, explica que em determinadas regiões, o preço desses insumos aumentou mais de 100%. “Pega aqui no Mato Grosso do Sul mesmo. O cavaco, por exemplo, custava R$ 40, hoje está custando, em alguns lugares, R$ 95, R$ 100. No Mato Grosso, que custava de R$ 40 a R$ 45, já está custando R$ 180”, explica Moraes. O aumento dos valores, segundo o executivo, tem variado de acordo com o estado.
Na busca por uma solução, a Anicer está realizando um levantamento da situação que será encaminhado, em forma de relatório, ao Ministério de Minas e Energia. A análise está sendo feita a partir de um questionário enviado aos filiados da associação. A intenção é frear o quadro atual e evitar possíveis problemas maiores resultantes da falta de biomassas no mercado.
“Queremos sensibilizar o ministério a criar um grupo de trabalho para começar a monitorar esse problema, porque muitas indústrias vão parar por falta e por excesso de preço”, reitera o presidente da associação.
Alternativas emergentes
Nesse momento de falta e encarecimento do insumo, algumas cerâmicas já estão procurando alternativas para manter seus fornos a pleno vapor, sem comprometer tanto as contas da empresa. É o caso do Grupo Tavares, proprietário e diretor de marketing do grupo, Marcelo Tavares reitera a importância de trabalhar com várias opções de combustíveis para os fornos.
Raimundo Tavares, sócio do Grupo Tavares e seu filho, Marcelo Tavares, diretor de marketing do Grupo
“Há mais de 14 anos, a gente tem um projeto aqui no grupo Tavares de crédito de carbono para os nossos fornos. Então, desde que a gente começou com isso, a gente buscou novas soluções e novos fornecedores e, desde então, temos um leque de opções de combustíveis, que em um momento como esse, de falta, de inflação, com subida de preço, a gente não fica tão afetado”, conta Tavares.
O grupo também vem investindo em planos de manejo florestal. Tavares conta que o grupo tem, atualmente, mais de 15 planos, o que os deixa abastecidos e sem depender do fornecimento de lenha de terceiros. “Também utilizamos vários resíduos provenientes aqui do Ceará, que podem ser usados como biomassa, que são casca da castanha de caju, resíduo de coco, de oiticica, de mamona, de cana e o que estiver disponível na safra, no momento. Se nos oferecerem, a gente está utilizando”, relata o gerente.
Ele também afirma que é importante que as empresas tenham seu próprio picador florestal, para que não haja a dependência de terceiros para a compra do cavaco, mas que possa ser produzido e estocado. O grupo também economiza na compra de madeiras para produzir o cavaco, já que utiliza resíduos da construção civil e de outras fábricas, que doam o material para que empresas possam utilizá-lo de forma sustentável. “Nós também utilizamos resíduos de limpezas urbanas. Quando há um loteamento e tem que fazer o desmatamento urbano, a gente já faz a parceria com a construtora que vai construir, para que ela seja nossa cliente e aumentarmos a parceria: além de fornecer os produtos cerâmicos, vamos buscar a madeira do desmatamento”, explica. Por conta disso, o grupo conseguiu parcerias suficientes para abastecer os fornos com resíduos. Assim, a Tavares consegue manter cerca de 80 a 90% do picador florestal com madeiras próprias para a produção de cavaco.
Apesar disso, Marcelo explica que não podem deixar de comprar as biomassas, por isso misturam esses insumos, comprados de madeireiras e serrarias, aos produzidos na própria cerâmica, o que também agrega valor ao produto final.
O uso de todas essas estratégias tem feito com que a empresa consiga se manter e continuar lucrando.
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