Por Manu Souza com informações da ascom do MAR | Imagens: Divulgação
O Museu de Arte do Rio – MAR, apresenta sua principal exposição do ano: “Casa Carioca”. Com um recorte de cerca de 600 obras e mais de 100 artistas, a mostra apresenta temas como sociabilidade, o papel da mulher como esteio de família e direito à moradia. Trabalhos que retratam o período de isolamento social também fazem parte da montagem, assinada por Marcelo Campos, curador-chefe do MAR e Joice Berth, arquiteta, urbanista e ativista do movimento feminista negro.
A exposição ocupa integralmente duas galerias do terceiro andar do museu, além da Sala de Encontro localizada no térreo. Reunindo nomes como Andrey Zignnatto, Érica Magalhães, max willà morais, Maxwell Alexandre, Millena Lízia, Mulambö, Rafael BQueer, Raquel Nava, Rodrigo Torres, Wallace Pato, Yhuri Cruz e Yuri Firmeza, “Casa Carioca” é a exposição do MAR com maior número de artistas jovens e periféricos. São trabalhos nos mais diversos suportes, como vídeos, objetos, instalações, fotografias e pinturas, que dialogam com temas como a diferença entre as moradias de favela e as moradias de elite - designadas aqui como exceções -, incêndios, mudanças, construções, demolições e celebrações.
Obra do artista Bruno Portella
Além de apresentar ao público a produção contemporânea de novos talentos da arte brasileira, a mostra também conta com trabalhos de artistas consagrados, como Adriana Varejão, Alfredo Volpi, André Rebouças, Beatriz Milhazes, Cícero Dias, Lasar Segall, Marcel Gautherot, Mestre Valentim e Walter Firmo. Além de obras da Coleção MAR, trabalhos emprestados por mais de 30 instituições e por colecionadores ajudam a formar o percurso expositivo, que começa com uma linha do tempo da arquitetura no Rio de Janeiro e segue por 10 núcleos que fazem uma abordagem transversal das questões relacionadas ao morar.
“Durante a fase de pesquisas, nos deparamos com um dado surpreendente. Apenas 15% das casas brasileiras são construídas por arquitetos, com a grande maioria se enquadrando no que os especialistas chamam de autoconstrução, quando o próprio morador comanda a obra com ajuda de parentes e vizinhos. Pensando nisso, buscamos artistas e trabalhos que tratam das condições dessas moradias e que exploram o interior das residências, relacionando-as com a questão social”, conta o curador Marcelo Campos.
Obra do artista Alan Fontes, da série "Sweet Lands"
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Das redes sociais para o museu
Entre os destaques da curadoria está a tirinha "Os Santos - Uma tira de (humor) ódio". Muito conhecido nas redes sociais, o projeto da escritora Triscila Oliveira e do ilustrador Leandro Assis joga luz sobre assuntos como a desigualdade social, a falta de empatia e o racismo, entre outros temas, a partir de situações do cotidiano. Obras relacionadas à pandemia, como a de max willà morais, na qual os artistas retratam o isolamento dentro de suas casas, também estão no acervo. Outro destaque é uma grande instalação com filtros de barro, do Estúdio Gru.A, que mostra a relação entre a água e a cidade. O trabalho cria um novo sub-ramal de distribuição de água do edifício do MAR, prolongando-o até a calçada da Praça Mauá, onde são instaladas três bicas públicas.
Obra "Preto por fora, branco por dentro e sangra", de Fábio Barolli, 2014
Inicialmente, “Casa Carioca” estava prevista para inaugurar em maio deste ano como parte da programação do Congresso Mundial de Arquitetos – UIA e, por conta da pandemia da Covid-19, tanto a exposição quanto o congresso precisaram ser adiados. Por isso, em abril, o museu iniciou a campanha #CasaCariocaMAR que levou para as redes sociais conteúdos inéditos relacionados à mostra coletiva, já despertando a atenção e interesse do público para a exposição.
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Enquanto o museu permanecer fechado as visitas devem ser programadas
A exposição e toda a programação online oferecida pelo MAR desde o início da pandemia foram viabilizadas por seus parceiros e patrocinadores e executadas por uma equipe mínima. Até que a Prefeitura do Rio faça a recomposição dos recursos financeiros necessários para o seu pleno funcionamento, o museu permanecerá fechado.
Por ora, “Casa Carioca” poderá ser visitadas apenas mediante inscrição gratuita no site www.museudeartedorio.org.br. A Vale é patrocinadora da exposição por meio da Lei Federal de Incentivo à Cultura.
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Andrey Zignnatto conta à Revista da Anicer a sua relação com a cerâmica para desenvolver suas obras
Andrey Gûaîanã Zignnatto nasceu em 18 de fevereiro de 1981, natural de Jundiaí, cidade onde reside. Artista autodidata, trabalha entre São Paulo e Jundiaí. Participou de diversos cursos e oficinas pela Associação dos Artistas Plásticos de Jundiaí, onde também atuou como professor entre 1999 a 2011. Em 2013, participou da 4ª Edição do “Colônia de Férias”, realizado no Atelier 397. Participou do grupo de discussões de projeto Atelier Hermes, com acompanhamento dos artistas Nino Cais e Marcelo Amorim e do grupo de discussões de projeto Atelier Fidalga, com acompanhamento dos artistas Sandra Cinto e Albano Afonso. Presidente fundador da Associação Cultural Menorah. Diretor do Circuito de Artes Visuais de Jundiaí; Futuro - Salão Nacional de Artes Visuais - Arte Contemporânea e Novas Tecnologias; Movimenta - Festival Nacional de Dança Contemporânea; Diretor Artístico da Fluxus Cia de Dança Contemporânea.
Revista da Anicer: Para a mostra Casa Carioca, de onde veio a inspiração para a sua intervenção?
Andrey Zignnatto: A escultura “Empilhamento” [foto de abertura da matéria] foi produzida a partir dos gestos dos operários de uma fábrica de tijolos, quando descartam as peças que apresentam algum tipo de imperfeição, empilhando e amassando estes tijolos um sobre o outro, dentro de um carrinho de mão. Minha intervenção se dá interrompendo este processo de descarte, levando um montante destas peças para o forno, e remontando o empilhamento das peças dentro do carrinho de mão num local destinado para exposições de obra de arte. A ideia deste trabalho é pensar a escultura não a partir de um processo reconhecido como método artístico tradicional, mas por meio de um gesto ordinário da ação de uma pessoa não artista.
RA: Qual a sua história com a cerâmica?
AZ: Eu trabalhei dos 10 aos 14 anos de idade como ajudante do meu avô em diversas reformas e construções de casas. Essas memórias afetivas de minhas experiências como pedreiro, influenciaram diretamente minha escolha dos materiais e processos para a produção de arte contemporânea. Os primeiros trabalhos foram produzidos quando há alguns anos atrás eu procurei uma das fábricas de tijolos onde meu avô comprava tijolos e lá, comecei minhas pesquisas para produzir trabalhos artísticos com os materiais cerâmicos. Desde então, tenho passado por diversas fábricas de tijolos no Brasil e outros países como Colômbia, Peru e Argentina para produzir novos trabalhos.
RA: Como funciona o seu processo criativo?
AZ: Para desenvolver as ideias de cada trabalho, eu procuro passar por um processo de imersão no cotidiano das fábricas de tijolos e canteiros de obras e neste processo, colher materiais, observar os processos e métodos de trabalho e principalmente, ouvir as histórias de vida destes operários. A partir disso, eu seleciono os materiais e processos de produção que servirá como forma para transmitir a mensagem da forma mais potente possível sobre os temas sociais, políticos, históricos que pretendo abordar.
RA: Onde você trabalha? Em parceria com alguma cerâmica? Com várias? Como funciona isso?
AZ: Eu trabalho com diversos parceiros que, mui gentilmente, já por um bom tempo, abrem as portas de suas cerâmicas para colaborar com meu trabalho. Nestes últimos 10 anos, tenho trabalhado com as cerâmicas Gresca, Desaya, Ermida e Donatti, todas localizadas em Jundiaí (SP), cidade onde moro e onde está meu ateliê. Mas já trabalhei também com as cerâmicas Tatuí (SP), Stark (Lima-Peru); Santa Fé (Colômbia); entre outras. Sempre quando preciso, procuro conversar com a cerâmica que possui o material mais adequado para cada ideia de trabalho.
O Museu de Arte do Rio – MAR
Uma iniciativa da Prefeitura do Rio em parceria com a Fundação Roberto Marinho, o Museu de Arte do Rio é gerido pelo Instituto Odeon, uma organização social da Cultura e tem o Grupo Globo como mantenedor, a Equinor como patrocinadora master e o IRB Brasil RE e a Bradesco Seguros como patrocinadores por meio da Lei Federal de Incentivo à Cultura.
A Escola do Olhar conta com o patrocínio do Itaú e o apoio da Icatu Seguros e do Machado Meyer Advogados via Lei Federal de Incentivo à Cultura. Por meio da Lei Municipal de Incentivo à Cultura – Lei do ISS, é também patrocinada pela HIG Capital, RIOgaleão e JSL.
O MAR conta ainda com o apoio do Governo do Estado do Rio de Janeiro e realização do Ministério da Cidadania e do Governo Federal do Brasil, por meio da Lei Federal de Incentivo à Cultura.
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