Hoje é:23 de novembro de 2024

BIM: Revolucionando a construção

Modelos 3D são mais fáceis de assimilar e garantem maior fidelidade ao produto final

Por Manu Souza | Imagens: Dubai Government, Firjan e divulgação

No Decreto nº 9.377, de 17 de maio de 2018, o governo federal oficializou a Estratégia Nacional para a Disseminação do Building Information Modeling (BIM), ou Estratégia BIM BR. No documento, ficam estabelecidos metas e prazos para implementação da metodologia BIM nas obras públicas, com a finalidade de promover um ambiente adequado ao investimento na tecnologia e sua difusão no Brasil. Mas o que é BIM e porque você deve entender a sua importância na construção civil?

O Building Information Modeling, ou simplesmente BIM, é o conjunto de tecnologias e processos incorporados aos softwares de engenharia, que permite a criação, utilização e atualização de modelos digitais de uma construção, de maneira colaborativa, servindo a todos os participantes do projeto, durante todo o ciclo de vida da construção. Um processo que muda completamente a maneira de criar, projetar, construir e manter as construções.

A iniciativa surgiu na década de 70, após pesquisas em países com tecnologia para a construção mais desenvolvidos e teve como principal objetivo a melhoria na tomada de decisão em meio as exigências de segurança, certificações ambientais, conforto e sustentabilidade. Sua utilização transformou a construção civil ao disponibilizar modelagem em 3D para facilitar a correta execução de uma obra e todas as possíveis alterações no decorrer de sua vida útil.

Para o engenheiro civil, Cícero Sallaberry, da Ambar Tech, o sistema apresenta inúmeras vantagens e é um facilitador importante para o desenvolvimento de um projeto. “Dentre as vantagens na utilização do BIM estão: permitir modelar e compartilhar modelos de construção virtual tridimensional completos de empreendimentos; melhora na comunicação e cooperação entre colaboradores do projeto; permite prever e analisar interferências entre disciplinas de projeto; geração precisa de dados; controle de cronograma de obras à partir do modelo virtual; permite estimar e analisar riscos; auxilia no controle de logística da construção e geração de quantitativos automaticamente, diminuindo perdas em obra”, cita o profissional.

A diretora na Construtora Virtual, que atende ao mercado da construção civil em São Paulo e em Porto Alegre, Flávia Maritan, está envolvida com tecnologia e processos de implementação BIM desde o ano de 2006, criadora do blog BIMrevit, onde divulga dicas e notícias sobre o tema, ela explica as mudanças que a plataforma impactou no dia a dia de seu trabalho. “O uso da tecnologia BIM modificou os processos internos no desenvolvimento de projetos. Fez com que repensássemos a maneira que se entregavam os projetos e a forma de comunicação. Conseguimos criar novos produtos, definir soluções com mais segurança e maior visibilidade dos projetos. Conseguimos um ganho de tempo na geração de documentos e melhor qualidade na apresentação dos projetos executivos enviados para as obras”, explica a arquiteta e urbanista.

Construção Inteligente

É indiscutível que a tecnologia BIM faz parte do presente e não mais do futuro da construção brasileira. Embora ainda caminhe a passos lentos, quando comparamos o Brasil com países da Europa, Ásia e da América do Norte, aqui o conceito vem se desenvolvendo ao longo dos anos, e hoje contamos com 19 bibliotecas publicadas sobre o tema. Além de popularizar a ferramenta, instituições representativas da construção civil ajudam a tornar o setor mais competitivo no país. Com a iniciativa, ganham construtoras, engenheiros e arquitetos.

Pauluzzi foi a primeira cerâmica a publicar biblioteca BIM

Entre as instituições que publicaram suas bibliotecas estão: Amanco, Armstrong, Brasilit, Celite, Deca, Docol, Duratex, Eliane, Gerdau, Hilti, Incepa, Lorenzetti, Pauluzzi, Placo, Pormade, Portobello, Sasazaki, Sika e Tigre.

Diretor da Pauluzzi, Juan Carlos Germano explica a importância da publicação de sua biblioteca. “Em 2016, a Pauluzzi foi uma das primeiras indústrias no país a publicar uma biblioteca BIM de seus produtos e sistemas, e desde então, tem colhido frutos deste trabalho. A biblioteca foi o passo seguinte, e natural, ao finalizar o trabalho de desempenho. Uma coisa é modelar os produtos em 3D, que é uma etapa relativamente fácil, mas o que importa aos clientes e usuários em geral são as informações contidas em cada modelo. Quanto mais informações, mais rico o modelo e mais possibilidades para os usuários”, informa Germano.

Algumas entidades como BNDES e o Exército Brasileiro, também já trabalham com projetos BIM regularmente. Na esfera privada, construtoras entendem a plataforma como um diferencial do mercado e de auxílio para garantir maior transparência em prazos, custos e qualidade da obra. No nível acadêmico, sua utilização também vem sendo inserida em graduações e especializações.

Para Flávia, o Brasil ainda precisa adequar algumas questões, para potencializar os benefícios do BIM no mercado. “Para que o uso da tecnologia e os processos BIM tenham sucesso, será necessário rever a maneira de como se ‘recebe’ projetos, de como se orça uma obra e como seu planejamento está sendo estruturado. Acredito que projetos desenvolvidos em plataformas BIM irão tornar as obras mais transparentes e será possível verificar os itens orçados e seu planejamento, minimizando aditivos e retrabalhos. A implantação desta tecnologia/processo deve ser estruturada de maneira inteligente e revistos os processos atuais para obtermos as vantagens do BIM nas obras públicas no Brasil”.

A arquiteta ainda elenca as vantagens e principais dificuldades da plataforma. “Entre as vantagens estão a facilidade de comunicação e visualização dos projetos; Documentos baseados em banco de dados e com informações para execução, compra e planejamento; Identificar os elementos da construção e suas informações de forma mais segura e testar soluções digitalmente – construção virtual – antes da obra. Já as dificuldades, são as mudanças no processo de concepção de projetos; Indefinição dos elementos e sistemas construtivos – briefing de obra não definido; Indústria e fornecedores disponibilizarem seus produtos com as informações para obra e utilizados como banco de dados nos modelos BIM”.

Fátima Gonçalves, da Trimble, empresa líder em soluções BIM

Fátima Gonçalves, diretora de Novos Negócios da Trimble, empresa líder em soluções para otimizar o ciclo de vida completo do Projeto-Construção-Operação em obras de infraestrutura e edificações, explica como como funciona a aplicabilidade da tecnologia BIM mundialmente. “No mundo é bastante comum investir em um tempo longo de planejamento que resulta em um tempo menor em construção, trazendo uma série de benefícios, com a simulação virtual de todas as etapas do projeto, iniciando-se com a topografia, para que o modelo digital do terreno seja incluído desde o estudo de viabilidade evitando erros comuns, como por exemplo usar um mesmo projeto em diferentes tipos de terreno, que obviamente gerarão acertos em campo e os já conhecidos desperdícios e atrasos. Esta simulação abrange a sequência de montagem até a entrada de itens grandes, a exemplo de maquinário hospitalar, sistemas de aquecimento/refrigeração, mitigando os riscos. Ressalto que o alongamento do período de planejamento e a consequente redução do tempo de construção tem um impacto financeiro muito grande, não só nas taxas de financiamento, mas na redução de riscos, como por exemplo iniciar a construção em um período de alta atividade no mercado e finalizar em um período recessivo, dificultando a sua comercialização”, indica a especialista.

Famosa por modernos arranha-céus de vidro e aço, Dubai, cidade localizada nos Emirados Árabes Unidos, apresentou uma abordagem inovadora para a arquitetura do seu Museu do Futuro, que deve ser inaugurado no próximo ano. O museu terá uma forma oval de prata reluzente com um centro aberto. Projeto vencedor do Prêmio Tekla Global Building Information Modeling (BIM), uma competição bienal que mostra os projetos de construção estrutural mais impressionantes do mundo. “Na Europa em geral, especialmente nos países nórdicos, a utilização do BIM é mais avançada. Todavia, as obras onde o BIM foi imprescindível localizam-se no Oriente Médio. Obras como o Museu do Futuro de Dubai, seriam impossíveis de ser executadas sem o BIM. Este é um dos projetos de construção mais complexos do mundo. Uma estrutura de concreto da fundação ao topo suporta uma estrutura de aço até o 7º andar, com lajes de concreto compostas. Esta abordagem de projeto permite um espaço interior sem colunas, mas requer vários elementos diferentes e únicos no interior da estrutura de aço do edifício. A Eversendai supervisionou a implementação e coordenação do projeto BIM, projeto de conexão, desenhos de fabricação, estudo de engenharia de montagem, desenhos de fabricação, fornecimento, fabricação e montagem de estruturas metálicas. Com o poder do BIM, a empresa conseguiu lidar com todas essas responsabilidades com eficiência, precisão e pontualidade”, explica Fátima.

Museu do Futuro – Dubai

A diretora salienta que o Brasil precisa avançar na utilização da tecnologia, para potencializar o crescimento do setor. “O setor da construção no Brasil passou por uma séria crise nos últimos anos. Para acelerar o crescimento do setor é necessário quebrar paradigmas, profissionalizar a força de trabalho e modernizar o segmento. A implementação do BIM é um passo acertado nesta direção, mas não é o único, tampouco é suficiente para garantir a arrancada da indústria da construção no Brasil. É preciso estabelecer um processo de melhoria contínua, agregando outros elementos, pré e pós-BIM, para que a modernização traga benefícios reais para todos os elementos da cadeia produtiva”. E contextualiza o atual momento da construção e a proposta do governo em incluir a ferramenta em obras públicas. “O movimento para implementação do BIM em obras públicas teve como pioneiro o Estado de Santa Catarina, que iniciou em 2014, através de convênios de transferência de conhecimento com os fabricantes de tecnologia a elaboração do primeiro caderno BIM do Brasil. Na sequência, foram lançados os cadernos BIM do Governo do Paraná e Cbic. Os primeiros passos já foram dados, mas a curva de aprendizado é longa. Atualmente as solicitações de projetos BIM, por contratantes públicos ou privados, são feitas com base em projetos com um baixo nível de desenvolvimento (baixo LOD), assim é possível que o produto final construído seja diferente do esperado, sem descumprir a especificação. Por exemplo: durante a cotação, os participantes do processo seletivo de fornecimento cotam o projeto com perfis laminados a quente, mas depois de toda a negociação e o aperto nos preços, o vencedor executa o projeto com chapas dobradas. Os dissabores de contratações com baixo LOD não são restritas aos contratantes, muitos contratados sofrem prejuízos. Exemplo: estimei 20 toneladas de solda e gastei 40, mas não pude cobrar, foi uma frase ouvida mais de vez, o que não teria acontecido se o LOD fosse 400. O BIM, com um LOD adequado para cada etapa do processo é a primeira etapa para a jornada para a Construção 4.0, que é um processo de melhoria contínua, no qual ao longo do caminho são implementados, gradativamente, e implica no aumento gradativo da pré-fabricação, em substituição a fabricação in loco, trazendo os benefícios da produção em larga escala”, finaliza Fátima.

Firjan executa estratégia para disseminação de BIM

Em consonância com as linhas de atuação do Grupo Setorial da Construção Civil da Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro – Firjan, composto pelos sindicatos da cadeia produtiva, o decreto 9.377 do governo federal cria uma Comissão de Gestão Estratégica integrada por representantes de ministérios e um Grupo Técnico de assessoramento, formulado por membros de entidades públicas e privadas. Como política pública, a Estratégia BIM-BR tem como objetivo “propor atos normativos que estabeleçam parâmetros para as compras e as contratações públicas com o uso de BIM”, além de “atuar para que os programas, projetos e iniciativas dos órgãos e das entidades públicas que contratam e executam obras públicas sejam coerentes com o que determina o decreto”, entre outras ações.

A formulação da Estratégia BIM-BR surgiu a partir das demandas do próprio setor, por meio dos sindicatos de construção civil e do encadeamento produtivo de todo o país, que enxergam na metodologia uma inovação para o setor. A partir de agora, o Grupo Setorial tem como missão mobilizar os agentes públicos e privados do estado e dos munícipios fluminenses a implantarem as diretrizes do decreto.

Vantagens para a cadeia produtiva

Conforme o coordenador de Desenvolvimento Setorial do Sistema Firjan, Roberto da Cunha, o BIM é baseado em virtualização com os objetos tridimensionais e inteligentes, funcionando como uma plataforma de informações dinâmica e presente ao longo de todo o ciclo de vida de um empreendimento. Ele destaca que, por ser o principal realizador de obras, o poder público pode ser o grande indutor do uso do BIM. “O BIM traz a racionalização do projeto de construção civil. A partir da modelagem de informação é extraído o cronograma de todo o processo construtivo. A vantagem para a iniciativa privada é enorme, pois desde o início é possível ter o custo completo da obra. Também o incorporador será beneficiado, pois ele saberá o valor do seu produto, podendo ser mais competitivo na hora de oferecer o empreendimento; e, para a sociedade, fornece transparência sobre os valores reais do empreendimento”, exemplifica Campos.

O coordenador de Desenvolvimento Setorial da Federação lembra ainda que, a partir da implantação da política pública, haverá uma maior disseminação entre os agentes do setor. “Por isso, investimos cada vez mais na difusão dessa metodologia”, diz Cunha, afirmando que a Firjan está apta a atender a demanda de mercado por meio de cursos de capacitação profissional em BIM, com turmas disponibilizadas no Senai Cinelândia.

Além disso, o Senai possui uma carreta BIM, conhecida por BIM Truck, com todo o equipamento necessário para levar cursos BIM onde quer que haja demanda por esta capacitação profissional.

Escola Móvel Firjan Senai BIM

Para Rogério Suzuki, consultor BIM da Câmara Brasileira da Indústria da Construção (Cbic), é preciso começar a implantar essa metodologia o quanto antes, enquanto a demanda no setor está baixa por conta da crise econômica que assolou o país nos últimos anos: “Quando houver novo boom da construção civil, haverá mais preocupação com a entrega das obras do que com a implantação da tecnologia. Quem não a tiver, perderá muitas oportunidades de negócio”.

Para uma implementação bem-sucedida, Sérgio Leusin, proprietário da empresa Gerenciamento e Desenvolvimento de Projetos (GDP) e um dos principais especialistas do país no assunto, aconselha o envolvimento da alta liderança no processo. “Sem isso, é muito difícil funcionar”, observou.

Vale a Leitura

Coletânea e Cartilha do BIM – Cbic

A Câmara Brasileira da Indústria da Construção possui diversos materiais gratuitos sobre construção civil que estão disponíveis para download. Em destaque, dois conteúdos sobre BIM, uma cartilha com 10 motivos para evoluir com BIM e uma coletânea de implementação do BIM para Construtoras e Incorporadoras.

Composta por cinco volumes, a coletânea BIM pode ser baixada no site da Cbic. Basta preecher o cadastro com seu e-mail e iniciar o download. Plataforma inovadora da tecnologia da informação aplicada à construção civil, o Building Information Modeling (BIM) vem se consolidando como uma revolução por oferecer novas funcionalidades na execução das obras e por romper com paradigmas de produtividade nessa atividade econômica. “Pense na possibilidade de atrelar no projeto cronogramas, orçamentos e valores. É isso que a tecnologia oferece como potencial”, explica o consultor da Cbic, Wilton Catelani, autor da coletânea, realizada pela Cbic, através da Comissão de Materiais, Tecnologia, Qualidade e Produtividade (Comat), com a correalização do Senai Nacional.

Coletânea GUIAS BIM ABDI-MDIC

O Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços (MDIC), em conjunto com a Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial (ABDI) lançaram a Coletânea Guias BIM ABDI – MDIC em novembro de 2017, com conteúdo orientativo a prática de planejar, projetar, contratar, fiscalizar e aceitar obras públicas ou privadas em aplicações BIM.

Ao todo são seis volumes de guias que estabelecem diretrizes para orientar no processo de projeto BIM. O objetivo é contribuir para a redução de erros e melhoria da assertividade de editais, projetos, orçamentos e planejamento de obras públicas e privadas.

*Publicado originalmente na Revista da Anicer 115.

COMPARTILHE

Manu Souza é gestora de comunicação e editora da Revista da Anicer.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *