Hoje é:19 de setembro de 2024

Com o foco na produtividade

Saiba como iniciativas tipo BIM e Lean Constructions podem ajudar na melhoria de projetos em obras

Por Carlos Cruz | Imagens: Archdraw, BenjaminDavies88 (1 / 2), Engg317 (todas sob CC BY-SA 4.0)

Você provavelmente já ouviu falar em BIM e Lean Construction, iniciativas de origem acadêmica direcionadas à aplicação nas indústrias para a melhoria da produtividade. Atuam no planejamento da execução de empreendimentos e como métodos de gestão, respectivamente. Mas você sabe o que elas realmente significam e como funcionam?

É possível encontrar algumas definições sobre Building Information Modeling – BIM (Modelagem da Informação da Construção). A mais reconhecida o apresenta como um produto ou representação digital inteligente de um conjunto de dados estruturados que definem um edifício. Outra definição apresenta o BIM como uma ferramenta de gestão de instalações durante o ciclo de vida do empreendimento, constituindo uma base de informação confiável, verificável, transparente e sustentável que as equipes utilizam na exploração da instalação, ao longo de todo o seu ciclo de vida.

Trocando em miúdos, o BIM possibilita a escolha de uma melhor estratégia de ação, beneficiando a gestão dos empreendimentos pelo fato de antecipar decisões que, provavelmente, seriam tomadas em um segundo momento.

Seus benefícios são muitos, e vão desde a melhoria significativa de produtividade, projetos mais eficientes e detalhes e produção mais rápidos até a otimização de suportes para automatizar e reduzir erros devido à coordenação interna, melhor comunicação com o cliente, visualização do projeto e redução do retrabalho.

Já o Lean Construction, ou construção enxuta, quando aplicado na construção, tem contribuído consideravelmente para o desenvolvimento de sistemas de planejamento e controle, além de outras práticas que melhoram a gestão das atividades. Nascido de uma derivação do Lean Manufacturing (Manufatura Enxuta), criado no Japão nos anos 1950, dentro das fábricas da Toyota para reduzir a variabilidade do processo e eliminar desperdícios, foi adaptado para a construção civil em 1992 pelo finlandês Lauri Koskela.

Entre seus objetivos, estão algumas medidas como reduzir a parcela de atividades que não agregam valor, aumentar o valor do produto através da consideração das necessidades dos clientes, reduzir a variabilidade, reduzir o tempo de ciclo, simplificar através da redução do número de passos ou partes, aumentar a flexibilidade de saída, intensificar a transparência do processo, introduzir melhoria contínua no processo e fazer benchmarking.

Diferentemente da gestão convencional, onde a obra tem de correr atrás de resultados, independente da ineficiência do processo de gestão da empresa e, por isso, construtoras perdem oportunidades, o Lean Construction recomenda que o processo de gestão seja trabalhado no sentido inverso. Ou seja, é a obra quem vai definir o que ela precisa dos departamentos internos e todos trabalharão para que a obra aconteça dentro das premissas assumidas no plano.

Caminhando lado a lado

Ainda que os dois conceitos precisem de muitos estudos e respostas para suas consolidações, especialistas do mundo inteiro têm defendido a aplicação conjunta das técnicas. Autores como Sacks, Koskela, Dave e Owen garantem que existe muita sinergia entre eles, embora BIM e Lean Construction sejam conceitos diferentes e separados.

De acordo com Koskela, a possibilidade de o BIM detectar conflitos é uma das suas maneiras de contribuir diretamente para a aplicação de princípios Lean Construction. Outra verificação acontece no software BIM, que geralmente permite que confrontos entre diferentes disciplinas de design sejam eliminados. Dessa forma, é possível reduzir atrasos e retrabalhos no local de execução.

Por sua vez, características como previsibilidade, disciplina e colaboração presentes na Lean Construction tendem a apoiar a introdução e a implementação de tecnologias baseadas em BIM.

Entrega do Projeto Integrado

A utilização simultânea do BIM e da Lean Construction permite uma abordagem conhecida como Integrated Project Delivery – IPD. Esse conceito, conhecido no Brasil como Entrega do Projeto Integrado, é capaz de integrar pessoas, sistemas, estruturas empresariais e práticas em um processo colaborativo que utiliza os potenciais de todos os participantes para otimizar resultados, aumentar o valor para o proprietário, reduzir o desperdício e maximizar a eficiência em todas as fases do projeto.

Também possibilita uma gestão mais confiável e com uma menor variabilidade nos processos. A otimização do processo visará aumentar o fluxo do trabalho e a redução dos desperdícios.

O engenheiro civil com MBA em Planejamento e Gestão Ambiental Miguel Gustavo Fonseca explica que o fluxo de informações, essenciais e muitas vezes com espírito de urgência, pode prejudicar o correto desenvolvimento físico e até financeiro de uma obra, se não administrado corretamente. “Em todas as etapas da obra, essencialmente a iniciação, planejamento, execução, monitoramento e controle e a finalização, são necessárias informações confiáveis e disponíveis”, destaca o engenheiro. Ele conta que, na prática atual, é comum ter diversas partes do projeto separadamente. Por exemplo, as disciplinas de arquitetura, estruturas, elétrica, hidráulica e incêndio sendo desenvolvidas por equipes diferentes em separado.

“A não compatibilização desses projetos leva à necessidade de uma integração por outra equipe para que, aí sim, possa haver compatibilidade de execução em campo, fato que dispendia recursos humanos e mesmo de materiais e equipamentos quando se verifica a necessidade de fazer modificações em estruturas e componentes já prontos”, afirma Miguel Gustavo. “Daí a importância da Lean Construction, que nada mais é do que a aplicação da mentalidade enxuta no setor da construção civil”, completa.

Ele enfatiza que a tecnologia BIM oferece uma plataforma versátil em que toda essa integração ocorre em um mesmo modelo central, onde cada equipe pode alterar apenas seu escopo, cortando a etapa de compatibilização e evitando adequações posteriores.

“O conceito de Building Information Modeling também faz com que os componentes da equipe tenham acesso à informação muito mais rapidamente e com um grau de confiabilidade bastante alto, na verdade tanto quanto se queira, facilitando imensamente o entendimento geral do projeto como um todo, tanto no que tange à execução quanto ao planejamento das atividades. Na própria tela, é possível prever cenários quando aliado o modelo digital BIM com um cronograma do empreendimento”, conclui.

Logicamente, a adoção da abordagem BIM-Lean traz alguns desafios, como compreender as convergências das ferramentas dentro do ciclo de vida do empreendimento.

Carlos Cruz é jornalista na Anicer.

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