Hoje é:21 de novembro de 2024

Construção amiga do bolso

Fácil, rápido e eficaz, o sistema de Alvenaria Racionalizada pode ser um aliado da sua obra

Por Manuela Souza | Imagens: Cerâmica City

O sistema de Alvenaria de vedação racionalizada pode ser entendido como mais eficiente na aplicação dos recursos e atividades realizadas na execução de uma obra, em comparativo com a alvenaria tradicional, o que facilita o planejamento e a produção, além de interferir na redução considerável do desperdício de insumos. Trata-se de um sistema composto por blocos modulados que contribuem para uma obra otimizada, eliminando perdas de material e tempo e proporcionando uma execução rápida, limpa e que acompanha e incentiva a qualidade e a sustentabilidade nas construções.

Grande defensora deste sistema, a Engenheira Civil Maria Angelica Covelo Silva, conversou com a revista da Anicer e nos contou as principais vantagens da Alvenaria Racionalizada em uma obra.


Revista da Anicer: Quais as principais evoluções da alvenaria racionalizada com relação aos projetos e outras técnicas construtivas?

Maria Angelica: A alvenaria racionalizada quando utilizada com um projeto desenvolvido de forma compatibilizada com o projeto de arquitetura, de instalações hidráulicas e elétricas, de gás e outros que possam interferir na vedação, tem um grande potencial de gerar elevação significativa da produtividade no canteiro de obras. Ao resolver no projeto todas as interferências, definindo com precisão toda a modulação a ser seguida, os tipos de blocos, as plantas e elevações, a definição objetiva da passagem de tubulações e componentes das instalações, o detalhamento das interfaces com portas, esquadrias etc, trabalha-se com a eliminação de improvisos em canteiro, a eliminação de cortes e quebras de blocos, a redução do consumo de argamassa de revestimento, principalmente pela maior precisão geométrica das paredes. A produtividade dependerá ainda de vários fatores da gestão da obra, como a programação de abastecimento dos locais de execução, a organização do canteiro, o planejamento adequado das atividades precedentes e as simultâneas à alvenaria, mas se estas condições forem bem trabalhadas, há um efetivo aumento de produtividade em relação à alvenaria tradicional e condições de competir com outros sistemas construtivos que buscam também agregar potencial de elevação de produtividade às construtoras.

RA: E em relação ao desempenho?

MA: Em termos de desempenho, também se observa que a alvenaria racionalizada apresenta melhor resposta aos requisitos e critérios da ABNT NBR 15575 do que a alvenaria tradicional, em função das características dos blocos e da parede construída com eles para o desempenho acústico, resistência ao fogo para tempos requeridos maiores e outros critérios.

RA: Qual é o desempenho desejado do sistema?

MA: O desempenho do sistema é determinado pelos requisitos e critérios da ABNT NBR 15575 – Parte 4, que são também aplicáveis a qualquer sistema de vedações envolvendo requisitos de desempenho estrutural (mesmo tendo função de vedação apenas), segurança contra incêndio (resistência ao fogo em função do tipo de parede, tipo de uso e altura da edificação), desempenho térmico e estanqueidade para as paredes de fachada, desempenho acústico e durabilidade.

RA: Quais fatores viabilizam o sistema de alvenaria racionalizada?

MA: A implantação da alvenaria racionalizada requer a disponibilidade regional de produtos cerâmicos adequados, a disponibilidade de projetos específicos elaborados por profissionais capacitados para tal, em total integração com os demais projetos e a gestão da obra adequada para que todo o potencial de elevação da produtividade seja de fato alcançado. Antigamente, tínhamos dificuldade em desenvolver projetos à distância, então era necessário que houvesse projetista local, mas atualmente, os projetistas estão desenvolvendo projetos por meio de sistemas de compartilhamento de documentos, reuniões virtuais e com excelentes resultados. A gestão da obra é uma questão de treinamento de profissionais das construtoras para esta gestão adequada, mas para as construtoras que já têm sistemas de gestão da qualidade, sistemas de planejamento de obras consistentes, é bastante tranquilo tirar partido do potencial da alvenaria racionalizada.

RA: Quais as limitações desse sistema?

MA: Em situações que as construtoras queiram oferecer flexibilidade de plantas aos clientes – isto é, empreendimentos em que a construtora quer prever uma facilidade de ampliação de ambientes pela retirada de paredes. É comum as construtoras oferecerem a condição de que uma parede de dormitório possa ser retirada facilmente para futuramente, se o cliente desejar, possa com facilidade ampliar a sala, por exemplo.

RA: O que o projeto de alvenaria racionalizada deve contemplar?

MA: O projeto deve contemplar uma inteligente modulação sem o uso de muitos tipos de blocos diferentes, pois se houver muitos tipos de blocos diferentes há descontinuidade no serviço de obra e uma dificuldade de organização do trabalho; uma completa integração com todos os componentes que interferem nas vedações como as portas, esquadrias e todas as instalações e seus componentes, com a impermeabilização, quando for o caso, prevendo-se no projeto com exatidão estas interfaces. Deve ainda especificar completamente cada parede com a configuração adequada para atender aos diversos requisitos de desempenho da ABNT NBR 15575 – classe do bloco, tipo de argamassa de assentamento, espessura e tipos de juntas preenchidas, tipo e espessura de argamassa de revestimento. Estas especificações devem estar baseadas em dados de ensaios, os quais devem estar referenciados no projeto. Deve ainda apresentar o levantamento quantitativo que facilite a elaboração do orçamento pela construtora, apresentar recomendações de execução da alvenaria e recomendações que devem ser incorporadas ao manual de uso e manutenção que a construtora entrega aos clientes finais.

RA: Onde o sistema ainda precisa evoluir?

MA: Em soluções de produtos diferenciados para o desempenho, como soluções que facilitem atingir valores mais altos de desempenho acústico e de resistência ao fogo, por exemplo, em ferramentas e equipamentos ergonômicos para o manuseio pelo operário em obra e até mesmo equipamentos de pequeno porte que facilitem o transporte dentro da obra. Os revestimentos podem ainda ser um campo de evolução, pois a aplicação de argamassas no modo manual tradicional é uma operação que prejudica a produtividade do sistema como um todo e é de complexo controle do ponto de vista de evitar potenciais manifestações patológicas, especialmente em edificações de maior altura.

RA: Quem é o profissional que deve fazer o trabalho de inspeção/fiscalização de todo o processo?

A execução dos serviços de alvenaria deve estar baseada em procedimentos de execução e de inspeção que devem fazer parte do sistema de gestão da qualidade das construtoras, que define quem é o responsável por inspecionar, em geral engenheiros e assistentes técnicos que atuam naquela obra ou em algumas empresas profissionais da área de gestão da qualidade.

RA: Quais são suas principais atribuições?

MA: Verificar se todos os itens dos procedimentos foram cumpridos, se o serviço executado apresenta as condições de aceitação previstas, quando não estiverem nestas condições indicar ao engenheiro responsável pela obra o que está em não conformidade e acompanhar as medidas corretivas, voltando a inspecionar após elas terem sido tomadas.

RA: Como aferir o desempenho dos elementos que compõem o sistema?

MA: O desempenho é avaliado por meio de ensaios laboratoriais que para determinada configuração de alvenaria – tipo de blocos, tipo e espessura de juntas, tipo e espessura de revestimentos – constatam se o sistema atende a critérios definidos na ABNT NBR 15575. Ensaios de campo podem ser realizados para desempenho acústico, por exemplo, e além disso, as inspeções visuais ou no caso de revestimentos ainda há outros ensaios definidos em outras normas, como os ensaios de aderência.

RA: Quais são os pontos mais críticos da logística, principalmente com relação à movimentação no canteiro e mão de obra?

MA: O planejamento correto em relação às atividades precedentes e as que vêm após a alvenaria, de modo a serem previstos prazos adequados e organização do canteiro adequada. O canteiro é “vivo”, ele vai evoluindo com o avanço dos serviços e em determinados momentos, há muitos serviços simultâneos. Se não houver planejamento e controle adequados o potencial de produtividade pode ser prejudicado.

RA: E durante a execução, especificamente, quais cuidados merecem maior atenção?

MA: O controle geométrico, prumo e alinhamento, as fixações superiores (encunhamento), o preenchimento correto de juntas e a compatibilização com as instalações e outros componentes de modo a não prejudicar o desempenho.

RA: Quais normas técnicas devem orientar o projeto e execução?

MA: As normas de especificação – a ABNT NBR 15270 -, a Norma de Desempenho, em especial sua parte 4 (ABNT NBR 15575:4), e a ABNT 8545 que está em revisão e se tornará uma excelente norma para assegurar que a alvenaria seja de fato executada como deve ser para o desempenho e produtividade.

Manu Souza é gestora de comunicação e editora da Revista da Anicer.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *