Hoje é:19 de setembro de 2024

Construções em tijolos cerâmicos maciços

Por Emil Sanchez

O conteúdo deste artigo não necessariamente reflete a opinião da Anicer e é de responsabilidade de seu autor.

O conjunto de ações dos poderes públicos, prefeituras, estados e IPHAN, que visa preservar o patrimônio histórico, cultural e arquitetônico dos casarões construídos no século XIX e no início do século XX, busca manter as características originais dessas construções.

As técnicas utilizadas nessas obras, na maioria das vezes, não são mais utilizadas, daí a necessidade do calculista se ater às exigências emanadas do agente fiscalizador das intervenções a serem realizadas.

As estruturas de alvenaria, paredes de tijolos maciços, executadas com elementos que por vezes não foram cozidos (apenas secos ao Sol), assentados com argamassa em cuja composição foi adicionado saibro (“areiola”, denominação usual no Rio de Janeiro), requerem um cuidado especial quando são recompostas, pois têm os seus carregamentos direcionados para pontos específicos, passando de carregamento uniformemente distribuído para carga concentrada.

A Figura 1 mostra a intervenção num porão de casarão histórico, no qual a viga original que suportava o carregamento da parede se apresentava quase em ruína. A primeira etapa da intervenção foi o escoramento da área que transfere carga para a viga. A solução mostrada para resistir ao carregamento foi a adoção de uma viga de concreto armado. Entretanto, nos apoios havia uma área carregada que foi analisada de maneira criteriosa pelos seguintes fatos:

  • as características das propriedades mecânicas dos materiais, tijolo e argamassa, não atendem aos atuais critérios de resistência e durabilidade;
  • a fundação, em alicerce de pedras rejuntadas com argamassa, foi verificada, e no caso de vazios entre as pedras esses foram preenchidos com grout químico com 30% de pedrisco;
  • o berço de apoio da viga (Figura 2) deve ter dimensão maior ou igual a duas vezes a altura desse elemento, e ultrapassar pelo menos dois tijolos da parede de apoio, para diminuir a tensão nessa área;
  • a espessura desse berço, em grout químico com 30% de pedrisco, deve ser no mínimo igual a 5 cm.

O solo que serve de apoio ao alicerce requer um estudo cuidadoso, e se necessário for, deve ser injetado com jetgrout ou grout químico apropriado. A incidência de águas de qualquer natureza deve evitada. No caso apresentado não houve necessidade de ingerências no solo.

Ressalta-se que as intervenções estruturais nesse tipo de construção são trabalhosas e requerem critérios que por vezes não são contemplados nas atuais prescrições normativas.

Figura 1

Figura 2

Mestre e Doutor em Engenharia Civil, pesquisador visitante da T.U. Braunschweig/Alemanha, professor titular aposentado da Universidade Federal Fluminense, membro do ACI, PCI, FIB, IABSE, IBRACON e ABCM. Publicou mais de 250 trabalhos (artigos em congressos e periódicos, autor de 4 livros, organizador de 3 livros com autoria de 9 capítulos, e teses).

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *