Hoje é:19 de setembro de 2024

Construções em tijolos cerâmicos maciços – Parte 2

Por Emil Sanchez

O conteúdo deste artigo não necessariamente reflete a opinião da Anicer e é de responsabilidade de seu autor.

O reparo e por vezes o reforço das paredes estruturais de tijolos maciços das edificações erguidas no século XIX e no início do século XX são, muitas vezes, executados de forma inadequada por aplicação de materiais incompatíveis com os que compõem essas construções.

O desconhecimento das técnicas construtivas antes utilizadas, e no caso das paredes estruturais, ou de fechamento, com pé-direito alto, devem ser criteriosamente observados os três seguintes itens:

  1. Se a cobertura for removida para reparos, ou outro serviço qualquer, deve ser dada atenção às paredes sobre as quais o telhado está apoiado, pois o travamento horizontal proporcionado pelos elementos que o compõem ao serem retirados tornam o bordo superior da parede livre, sendo que ela está simplesmente apoiada na parede do andar inferior, o que pode ocasionar deformações laterais ao longo da parede devido a encurvadura;
  2. A recomposição total ou em partes das paredes, estruturais ou de fechamento, com tijolos inadequados, como no caso de tijolos que não tenham sido cozidos, vulgarmente denominados tijolos ecológicos, geram graves problemas ao longo do tempo;
  3. O uso de argamassa cimentícia incompatível com características muito diferentes das argamassas que foram utilizadas na edificação.

Atualmente em busca de atender aos quesitos de sustentabilidade, que por vezes são subjetivos, são especificados produtos não normalizados e sem a garantia de resultados confiáveis obtidos em ensaios de laboratórios credenciados. Nesse caso específico se enquadra o “tijolo ecológico” sem cozimento. Esse produto não é estrutural, foi concebido para atender uma demanda numa obra onde não se tinha os tijolos tradicionais, daí se difundiu por todo o Brasil.

O cozimento em alto forno, com temperaturas em torno de 8000C, elimina a água existente nos interstícios e poros do tijolo, o que diminui as suas deformações específicas diferidas.

Deve ser destacado que o uso desse tipo de tijolo em paredes estruturais, sobre o qual não se tem prescrições na NBR 16868:2020 Alvenaria Estrutural, que é composta de três partes que abordam os projetos, a execução e o controle de obras, e os métodos de ensaios, é um procedimento errado e descabido.

O uso de argamassas cimentícias com dosagens que visam apenas atender a resistência à compressão, é outro procedimento sem critério técnico válido. Numa parede se tem 20% de juntas de argamassa, isso ao se considerar as juntas com 10 mm de espessura. Nas paredes de construções antigas as juntas têm espessura superior a esse valor, logo devem ser adotados procedimentos e materiais apropriados na dosagem da argamassa de modo a se evitar que ela se deforme muito ao longo do tempo. As funções da junta de argamassa são: nivelar as superfícies de contato entre os tijolos, transmitir as forças verticais e horizontais de modo o mais uniforme possível e vedar.

Mestre e Doutor em Engenharia Civil, pesquisador visitante da T.U. Braunschweig/Alemanha, professor titular aposentado da Universidade Federal Fluminense, membro do ACI, PCI, FIB, IABSE, IBRACON e ABCM. Publicou mais de 250 trabalhos (artigos em congressos e periódicos, autor de 4 livros, organizador de 3 livros com autoria de 9 capítulos, e teses).

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