Hoje é:20 de setembro de 2024

Coronavírus x construção civil

O que os agentes do setor têm feito para minimizar os impactos diante da pandemia

Por Juliana Meneses sob supervisão de Manu Souza | Imagens: Banco de imagens da Anicer, Cerâmica City, Tecmundo, Divulgação Casa Cerâmica

Diante do novo coronavírus (Covid-19) o mundo praticamente parou. O vírus, que inicialmente começou na China, se transformou em um pandemia e por se tratar de algo desconhecido, não há ainda vacinas ou medicamentos que possam controlá-lo. De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS) e Ministério da Saúde, a doença pode causar febre, tosse, falta de ar, dificuldades respiratórias, pneumonia, síndrome respiratória aguda grave e até morte.

Uma das medidas adotadas em todo o mundo tem sido a do isolamento social, já que esse vírus tem um poder de contaminação muito maior que outros já conhecidos, cada pessoa contaminada, sem o isolamento, pode transmiti-lo para cerca de outras dez. Além dos idosos, estão inclusos no grupo de risco cardíacos, asmáticos, fumantes, diabéticos ou pessoas que estejam imunodeprimidos, em tratamentos de câncer e que tenham passado por cirurgias recentemente.

Impactos no setor

Os impactos do novo coronavírus se estendem por todo o mundo e no setor da construção civil brasileira não tem sido diferente, apesar do Ministério da Saúde relatar que o Brasil ainda está no início da curva de crescimento da doença, ou seja, nos próximos dias ainda haverá uma acentuação na quantidade de casos.

Segundo pesquisa realizada pela Confederação Nacional da Indústria – CNI, a cadeia já é afetada pela crise. O material revela que 92% das empresas consultadas foram afetadas negativamente pela epidemia do coronavírus. A indústria é afetada pela crise devido a queda na demanda por seus produtos, pela dificuldade em conseguir insumos e matérias-primas e pela redução da oferta de capital de giro no sistema financeiro.

Fonte: Portal da Indústria

A pesquisa da CNI constatou que a pandemia causou uma queda na demanda por produtos e serviços para 79% das empresas, sendo que 53% relatam queda intensa. Uma parcela de 5% registra aumento da demanda e 2%, aumento intenso.

Fonte: Portal da Indústria

De acordo com o presidente da Anicer, Natel Moraes, nesse momento a Associação está constantemente mensurando os impactos que a crise causará no setor de cerâmica vermelha e ressaltando a importância de seguir as orientações do Ministério da Saúde. “O que nós temos que fazer hoje é reforçar a importância de seguir a recomendação da Organização Mundial da Saúde e da secretaria de saúde do seu estado, vamos orientar bem os nossos colaboradores na questão da higienização. Nosso trabalho é monitorar e acompanhar, com certeza isso vai passar, não tenho dúvidas de que quanto mais rápido pudermos agir, mais rápido vamos passar esse momento”.

Nosso trabalho é monitorar e acompanhar, com certeza isso vai passar, não tenho dúvidas de que quanto mais rápido pudermos agir, mais rápido vamos passar esse momento

Para orientar seus associados e agentes do setor de cerâmica vermelha, a Anicer preparou uma Cartilha Orientativa sobre o Coronavírus e vem compartilhando depoimentos de ceramistas e parceiros da Associação em seu perfil no Instagram.

A Anicer também encaminhou ao governo e demais agentes do setor, como CNI e Abramat, além de parlamentares influentes, um conjunto com diversas propostas para minimizar os danos causados pela Covid-19 nas empresas de cerâmica vermelha.

Guilherme Parsekian

Para o Doutor em Engenharia Civil, Guilherme Parsekian, esse é um momento atípico para todos, mas necessário para entender a gravidade da questão e tentar se adaptar para superar. “Essa é uma situação inusitada, não me recordo de ter tido outra situação dessa forma, mas como é um problema de saúde pública, um problema grave, entendemos que são as medidas certas para superar isso. Acho que vai ser um tempo de adaptação, um tempo de forma diferente, talvez mais devagar, onde todo mundo vai sofrer, receber menos, trabalhar menos, mas todos vamos sobreviver no final, acho que juntos todos vamos superar isso”.

Obras

Para o Presidente do Sindicato das Indústrias de Cerâmica para Construção e Olaria do Estado da Bahia – Sindicer/BA e proprietário da Cerâmica Senhor do Bonfim, localizada em Simões Filho (BA), Jamilton Nunes, o segmento das indústrias da Bahia, atravessa momentos difíceis, mas ele acredita que dias melhores virão. “Existe, de fato, uma queixa generalizada de queda nas vendas, motivada pela situação que vivemos e que atinge todos os segmentos da sociedade. A indústria cerâmica é alimentada pelo movimento da construção civil e a construção civil, como os demais segmentos, passa por momentos difíceis, de poucos negócios. Apesar de tudo, confiamos que tudo passará. Venceremos essa pandemia e, como todo brasileiro corajoso e forte, encontraremos caminhos para a retomada. Na nossa empresa, estamos antecipando os feriados e demos quinze dias de férias coletivas, visto que, no momento, não há demanda”.

O proprietário da Cerâmica Santo André, situada em Várzea Grande (MT), Carlos Guimarães, afirma que quando o pior passar, vai demorar para que as empresas voltem a crescer. “Por aqui não paramos de produzir, mas as vendas despencaram quase 90%. Estamos estocando até quando aguentar, com fé que o Brasil comece a andar, mas sabemos que as vendas vão demorar para voltar”.

De acordo o Presidente do Sindicato das Indústrias de Cerâmica do Estado do Espírito Santo – Sindicer/ES e proprietário da Cerâmica Massa, com sede em Linhares (ES), Ocimar Sfalsin, na sua região a indústria ainda pode estar operando, entretanto, o setor está sendo afetado pela demanda, já que as lojas de materiais de construção estão fechadas. Muitas empresas adotaram as férias coletivas por 15 dias, com possível prorrogação de mais 15. “São duas ondas, como se diz. Nós estamos nessa do momento da contaminação e a segunda trará as consequências dessa paralisação toda. Talvez, algumas empresas do nosso setor não consigam sobreviver diante dessa situação. Nós estamos sendo muito impactados com essa questão do coronavírus. A minha empresa é uma empresa pequena, então ainda estou conseguindo administrar com algumas vendas diretas, mas não está sendo fácil”.

O Diretor de Marketing da Anicer e Diretor Técnico Comercial da Cerâmica City, com sede em Cesário Lange (SP), Constantino Frollini, afirma que na fábrica foram adotadas medidas extras para todas as equipes, sobretudo para as equipes de logística. Além disso, sua equipe técnica e comercial vem trabalhando em esquema home office. “A gente entende que essa pandemia é um caso extraordinário que estamos passando e que temos que fazer nossa parte também, para ajudar toda a população. Nesses momentos, entendemos que os melhores aliados são paciência e informação”.

Nesses momentos, entendemos que os melhores aliados são paciência e informação.

O arquiteto e colunista da Revista da Anicer, Caio Fontoura, conta que a sua rotina na Bahia, já vem sofrendo alguns impactos, como a redução da produção nos canteiros de obras, pelo fato dos trabalhadores circularem pela cidade, utilizando transportes públicos, além do compartilhamento de ferramentas de trabalhos e máquinas, refeitório e vestiário nesses locais, o que dificulta o controle do contato entre as pessoas, podendo se tornar foco de contaminação. “Visando a garantia da saúde dos funcionários e dos familiares dos funcionários e consequentemente da sociedade em si, reduzimos nossa prestação de serviço. Estamos programando, com cada cliente, como fazer isso. Mas, o momento realmente é já começar a parar as atividades extra administrativas e de operação. Já não atendemos visita técnica que o cliente solicita e nem reuniões presenciais, somente virtuais. É um momento de precaução e a produção já começou também a reduzir. Não adianta contaminarmos toda equipe, contaminar clientes, familiares, temos que pensar na saúde geral, para que tudo ocorra bem e esperar que tudo passe logo, para voltarmos à ativa e conseguirmos voltar com os trabalhos e a economia melhorar também”.

Para o proprietário da Cerâmica Santo Augusto, localizada em Vilhena (RO), Francisnei Augusto Negri, a paralisação poderia ter sido realizada por região, conforme o grau de gravidade. Ele afirma que sua cidade possui 100 mil habitantes e que o caso mais próximo de registro da doença foi a 500 quilômetros. Em sua cidade houve uma paralisação da produção das fábricas cerâmicas e de entregas, contudo, o setor da construção civil foi autorizado a restabelecer a produção. O receio do empresário é o impacto econômico que esta situação possa gerar, já que a maioria das empresas são de pequeno porte, o que dificulta administrar os prejuízos. Em sua cerâmica, todas as medidas necessárias de cuidados com os funcionários, para prevenção ao coronavírus, estão sendo seguidas. “Vai impactar muito, pois o povo não vai ter dinheiro para nada, imagina pra construir”.

Eventos

Diversos eventos, feiras e congressos nacionais, do setor de construção civil, sofreram alterações em seus calendários devido à pandemia. De acordo com as recomendações dos órgãos oficiais de saúde, nenhum evento deve ser realizado, para evitar a propagação do vírus. Dentre eles, estão a Feicon Batimat, Casa Cor PR e Casa Cor SP, Feira Internacional de Máquinas e Equipamentos – Feimec, 64º Congresso Brasileiro de Cerâmica – CBC, 27º Congresso Mundial de Arquitetos, 23ª Construsul e Summit Abrainc.

Novas Datas
  • Feicon Batimat – 15 a 18 de setembro de 2020
  • Casa Cor PR – 02 de agosto a 13 de setembro de 2020
  • Casa Cor SP – Ainda sem data definida
  • Feimec – Ainda sem data definida
  • 64º CBC – 21 a 24 de setembro de 2020
  • 27º Congresso Mundial de Arquitetos – 18 a 22 de julho de 2021
  • 23ª Construsul – 03 a 06 de novembro de 2020
  • Summit Abrainc – 27 de novembro de 2020

Medidas econômicas já anunciadas

  • O BNDES anunciou a suspensão de cobrança de empréstimos por 6 meses. Será injetado R$ 55 bilhões na economia para auxiliar no caixa de empresas. Desse valor, R$ 5 bilhões serão destinados em linhas de crédito para micro, pequenas e médias empresas. Os empréstimos facilitados terão carência de até 24 meses e prazo total de pagamento de 60 meses.
  • A Caixa Econômica Federal reduziu os juros por 60 dias, nos pagamentos de prestações de contratos de empréstimo acertados por pessoas físicas e jurídicas, incluindo os habitacionais. De acordo com o banco estatal, cerca de R$ 75 bilhões podem ser disponibilizados em curto prazo.
  • Foram prorrogados por 6 meses o pagamento dos tributos federais no âmbito do Simples Nacional. Já as contribuições das empresas ao Sistema S serão reduzidas em 50% por 3 meses.
  • A Medida provisória altera uma série de regras trabalhistas durante o período de calamidade pública com o objetivo de auxiliar as empresas e preservar os empregos. MP estabelece a legitimidade de acordos individuais e prevê a adoção de home office, antecipação de férias individuais e concessão de férias coletivas, com aviso ao trabalhador até 48 horas antes, aproveitamento e antecipação de feriados, regime especial de compensação de horas no futuro em caso de interrupção da jornada de trabalho e suspensão de exigências administrativas em segurança e saúde no trabalho. Bem como o adiamento em 3 meses, do depósito do Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS) dos trabalhadores.
  • Prorrogação por 90 dias do prazo de validade das Certidões Negativas de Débitos (CND) e das Certidões Positivas com Efeitos de Negativas (CNEND) já emitidas, ambas relativas à Créditos Tributários federais e à Dívida Ativa da União.
  • Suspensão dos prazos dos processos minerários por 40 dias. Os prazos máximos para analisar requerimentos de liberação das atividades econômicas minerárias, sujeitos a aprovação tácita, sob competência da ANM, previsto na Resolução nº 22, de 30 de janeiro de 2020, também estão adiados.
  • Os tributos federais relativos ao Simples Nacional de março, abril e maio ganharam um prazo maior de seis meses para pagamento.
  • Prorrogação do prazo de validade por 90 dias das Certidões Negativas de Débito (CDN).
  • Publicada no dia 01 de abril, a MP 936/2020 renovou alguns temas que afeta servidores e empregados públicos, entre eles os de estatais. Entre as novas regras, que terão validade apenas durante o estado de calamidade pública, estão: a permissão para a redução proporcional de jornada de trabalho e de salários; a permissão para suspensão temporária do contrato de trabalho e o pagamento de Benefício Emergencial de Preservação do Emprego e da Renda, uma espécie de complementação financeira, pelo governo, na celebração de acordos específicos.

Capacitação durante o período de pausa das atividades

Para ajudar as Micro e Pequenas empresas, durante esse período de quarentena, o Sebrae disponibilizou mais de 200 cursos online, nos mais variados temas, que podem ser feitos em casa. A iniciativa visa contribuir para o crescimento e aprimoramento das MPEs. As videoaulas incluem temas como gestão financeira, marketing digital para o empreendedor, como vender online, como captar recursos para o seu negócio e estratégia financeira para o crescimento.

Já o Portal da Indústria, disponibilizou cursos oferecidos pelo Instituto Euvaldo Lodi (IEL), online e webinars gratuitos na área de gestão. O programa de Educação Executiva tem como objetivo aumentar a produtividade operacional e contribuir com a qualificação dos que atuam em ambientes corporativos. Entre os temas, Estratégia para Indústria 4.0 e Gestão financeira para Fluxo de Caixa.

Apoio à indústria

A Confederação Nacional da Indústria – CNI, criou a campanha “Vamos juntos superar essa crise – A indústria no combate à Covid-19”, lançada pelo Sistema Indústria para reforçar o posicionamento da CNI, do Serviço Social da Indústria  – Sesi, do Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial – Senai e do IEL no enfrentamento da pandemia do coronavírus.

Serão disponibilizadas cartilhas e material publicitário para utilização nas ações das federações de indústrias nos estados. O objetivo é mostrar que a indústria tem condições de colaborar para minimizar os efeitos que o vírus causa no país.

Além de informar sobre a pandemia, a campanha apresentará ações desenvolvidas pelo Sesi, Senai e demais entidades do Sistema Indústria. A CNI encaminhou ao governo um conjunto de 37 propostas de medidas nas áreas de tributação, política monetária, financiamento, normas regulatórias e legislação trabalhista. As medidas são para o enfrentamento e a redução dos efeitos da crise econômica decorrente da pandemia da Covid-19.

Ministério da Saúde disponibiliza app sobre o Coronavírus

A fim de facilitar o acesso a informações sobre o Coronavírus e combater a propagação de notícias falsas, o Ministério da Saúde desenvolveu um aplicativo com dicas de prevenção, descrição de sintomas, formas de transmissão, mapa de unidades de saúde e até uma lista de notícias falsas que foram disseminadas sobre o assunto.

O aplicativo está disponível para usuários dos sistemas operacionais iOS e Android.

Também com o objetivo de alertar e esclarecer a população sobre as Fake News que começaram a ser disseminadas sobre o tema, foi disponibilizado um número de WhatsApp para envio de mensagens da população para apuração pelas áreas técnicas do Ministério da Saúde e respondidas oficialmente se são verdade ou mentira.

Qualquer cidadão poderá enviar gratuitamente mensagens com imagens ou textos que tenha recebido nas redes sociais para confirmar se a informação procede, antes de continuar compartilhando. O número é (61) 99289-4640.

“Estamos passando por um problema muito sério e onde ainda estamos avaliando o tamanho desse impacto em nosso dia a dia. Existem uma preocupação muito grande para que essa retomada aconteça logo. Uns dizem que ocorrerá em 60 dias, outros dizem 90 dias. Mas, o que eu posso deixar de mensagem aos nossos empresários é que nós estamos em uma corrida e, no momento, o sinal está no amarelo, ou seja, é um momento de atenção. Em breve, haverá uma relargada e voltaremos a correr. Por isso, peço que todos se cuidem. Vamos ter que nos manter vivos, todo mundo unido. Esperamos que até julho ou agosto estejamos voltando a todo vapor, então, vamos com cautela”, finalizou Natel Moraes.

COMPARTILHE

Juliana Meneses é jornalista na Anicer.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *