Hoje é:19 de setembro de 2024

Crise energética e seus impactos

Entenda quais as consequências dos problemas de energia para o país

Por Juliana Meneses | Imagens: Caio Coronel/Itaipu Binacional/Direitos Reservados, Usina Hidrelétrica de Mauá/Agência Brasil, divulgação

O país está enfrentando a pior seca no Sudeste dos últimos tempos, o que influencia diretamente na quantidade de água nas barragens das principais hidrelétricas que abastecem diversos municípios, o que consequentemente abalará a geração de energia e encarecerá a conta de luz.

Para atenuar essa situação, a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) adotou a medida tida como impopular de reajustar a tarifa da bandeira vermelha nível 2 (que já é a mais cara), em 52%, o que representou um aumento de R$6,24 para R$9,49 por 100Kwh nos meses entre julho e dezembro. Essa medida, de acordo com a agência, foi para tentar educar o consumidor a gastar menos já que o valor da energia estará mais caro. Ao final do mês de agosto, a Aneel sinalizou que a bandeira vermelha deve sofrer novo reajuste em setembro.

Bandeiras Tarifárias: o que são

Em 2015, a Aneel criou o sistema de Bandeiras Tarifárias, que tem o objetivo de ajustar os preços e custos da energia elétrica de acordo com as condições de geração de energia, ou seja, dependerá da situação dos reservatórios das hidrelétricas do país, esse sistema poderá ser distinto em cada região, as bandeiras servem para indicar as condições de energia gerada pelo país.

O sistema das Bandeiras Tarifárias, de acordo com a Aneel, auxilia a equilibrar as despesas com as tarifas cobradas aos consumidores, a Agência acredita que as bandeiras também sensibilizam para um consumo mais consciente nos períodos de baixa dos reservatórios, onde a tarifa estará mais alta.

Para o ano de 2021, há um acréscimo determinado para cada bandeira:

Bandeira Verde

Não há alteração de valor

Bandeira Amarela

R$ 0,01874 para cada quilowatt-hora (Kwh) consumidor

Bandeira Vermelha 1

R$ 0,03971 para cada quilowatt-hora (Kwh) consumidor

Bandeira Vermelha 2

R$ 0,039492 para cada quilowatt-hora (Kwh) consumidor

Energia mais cara

Cerca de 62% da energia do Brasil é produzida por hidrelétricas, o que será diretamente afetado pela estiagem. De acordo com o Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), o sudeste do Brasil está enfrentando o pior período de escassez de chuva dos últimos 91 anos e o fato da maior parte da energia elétrica depender da quantidade de chuvas para abastecer as cidades se torna um problema coletivo.

As crises de energia elétrica não acontecem repentinamente, com um sistema de meteorologia refinado que o país possui as previsões do período de estiagem já haviam sido feitas no ano passado, além do que os reservatórios já vinham operando com nível baixo, entretanto, como nenhuma medida foi tomada para atenuar a crise, a consequência disso será o enfrentamento por parte dos consumidores da tarifa mais alta.

O aumento do custo da energia elétrica tanto para os pequenos consumidores, que fazem o uso doméstico, como para o setor industrial, em um país já abalado pela crise sanitária do coronavírus e crise econômica, pode ser mais um fator prejudicial para o equilíbrio financeiro, dificultando a situação dos usuários para efetuar os pagamentos em dia.

Crise de energia no passado

Durante o mandato do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, em 2001, o Brasil enfrentou uma grave crise de energia elétrica, que afetou a distribuição de luz por todo o país. O problema durou até o início de 2002, e com a escassez de chuvas, o nível dos reservatórios naquele ano levou o governo a fazer cortes forçados de energia elétrica, que ficaram conhecidos como apagões ou blecautes.

A situação energética naquele ano estava tão crítica que era urgente um corte de 20% no consumo em todo o país. No período, houve uma grande campanha de racionamento de energia para conseguir reduzir os gastos, com incentivos para os consumidores que cumprissem a meta e punições para quem não reduzisse o consumo. Somente com a recuperação das chuvas que o controle rigoroso chegou ao fim.

A situação da energia ter ficado tão crítica a ponto de chegar aos apagões foi atribuída a falta de planejamento, falta de manutenção e tecnologia adequada, além da falta de investimento por parte do governo em outras formas de geração de energia. Após esta grave crise, houve outros blecautes causados por falhas de energia pelo país, mas em proporções menores.

Situação atual para o setor da construção civil

De acordo com o gerente de Energia Elétrica da Associação dos Grandes Consumidores Industriais de Energia e Consumidores Livres – Abrace, Victor Locca, a origem da crise de energética brasileira atual se deve a falta de chuvas, juntamente com equipamentos defasados nas usinas. “O principal motivo para estarmos no meio de uma crise hídrica é justamente a falta de chuvas nas principais bacias hidrográficas que abastecem a região sudeste. Adicionalmente uma parcela do déficit de água nos reservatórios pode ser creditada aos modelos computacionais que são responsáveis pelo acionamento de todas as usinas, tanto hidráulicas quanto termoelétricas. Como esses modelos estão desatualizados e são defasados, não foram capazes de antecipar esta crise e com isso gastaram muito mais água do que seria uma decisão eficiente”.

A Abrace é uma das associações mais antigas do setor elétrico do país e defende, com base em estudos e documentos técnicos, a importância da energia a preços competitivos para o desenvolvimento do setor produtivo no Brasil. A associação reúne mais de 50 grupos empresariais responsáveis por quase 40% do consumo industrial de energia elétrica do Brasil. De acordo com a instituição, a grande indústria consumidora de energia é responsável por cerca 49% do valor adicionado ao PIB e quase 67% do investimento no setor privado, gerando cerca de 3,2 milhões de empregos diretos e quase três vezes essa quantidade de empregos indiretos.

De acordo com o gerente da Abrace, o governo vem tomando uma série de medidas para tentar controlar a crise, entretanto, ainda existe risco de apagão. “De início, o governo buscou todas as alternativas possíveis para aumentar a oferta de energia, principalmente reativando usinas antigas e garantindo que o máximo possível permaneça disponível. Neste momento, ações pelo lado dos consumidores estão sendo tomadas, como destaque está em discussão um programa para Redução Voluntária da Demanda pelos consumidores de energia. A principal ação que ainda deveria ser tomada é uma comunicação efetiva e transparente para toda sociedade sobre a atual crise e como isso irá impactar as tarifas de energia no próximo ano, caso os consumidores não contribuam reduzindo um pouco seu consumo. Sim [existe risco de apagão], todas as atualizações das condições futuras para o atendimento da demanda dos consumidores mostra uma deterioração”.

Victor Locca afirma que é necessário um esforço de todos os consumidores de energia para solucionar o risco de blecautes. “Dois movimentos são fundamentais, lançar um programa simples e interessante para Resposta Voluntária da Demanda, assim como amplas campanhas de comunicação para que todos os consumidores, principalmente os residenciais e comerciais, também contribuam com um consumo racional”.

Locca explica que as bandeiras tarifárias são um instrumento importante para tentar atenuar o problema elétrico do país. “As bandeiras tarifárias são um mecanismo importante para antecipar receita que minimize o impacto financeiro em momentos que o custo da operação está elevado, principalmente pelo despacho de todas as termoelétricas. Além disso, funciona como uma sinalização educativa para toda sociedade compreender que estamos em uma grave crise”.

O gerente da Abrace afirma que devido a crise de energia, toda a sociedade e o setor da construção devem ser afetados com os custos da conta de luz mais cara. “O custo com a energia elétrica está presente em todos os produtos e serviços que consumidos. Estimamos que 25% do custo do saco de cimento e 10% do vergalhão de aço, é referente a energia elétrica. A atual crise deve elevar o peso da conta de energia para todos, inclusive impactando nos insumo de produção do setor de construção civil”.

Juliana Meneses é jornalista na Anicer.

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