Hoje é:20 de setembro de 2024

Deu na telha

Telhados de cerâmica vermelha não saem de moda, são resistentes, bonitos e sustentáveis

Por Manu Souza | Fotos: Acervo Anicer, Top Telha, Mafrense e Grupo Terra Brasil

Um dos principais elementos no projeto de construção de uma casa, o telhado está longe de ser apenas um coadjuvante na arquitetura da obra. Disponível em vários modelos e cores, as telhas cerâmicas ganham destaque em meio aos profissionais da área de construção.

De maneira geral, as telhas cerâmicas são peças produzidas individualmente, em formatos que se encaixam umas às outras, de maneira precisa, formando o telhado ao final. Este encaixe, proporciona resistência e evita infiltrações e outros problemas na construção. Muito além disso, dão charme e identidade ao projeto de uma obra.

Jeferson Lemke

Uma das opções mais antigas e acessíveis, a telha cerâmica é uma opção muito popular, que adequa-se bem ao clima tropical e oferece uma ótima relação de custo-benefício. Entre os tipos mais populares estão as romanas –  bem comum na arquitetura romana, portuguesa e brasileira – e a portuguesa, utilizada em telhados que primam pela ideia de movimento, pois possuem um acabamento ondulado. Entretanto, existe uma grande variedade de opções oferecidas no mercado, que variam quanto ao tipo de encaixe, rendimento por m² e inclinação exigida do telhado. “As telhas cerâmicas apresentam uma grande variedade de cores e formas, conferindo uma agradável visualização, além de melhor isolamento térmico e são mais leves que as telhas de concreto. A durabilidade das telhas cerâmicas, de décadas, também é uma grande vantagem em relação a outros materiais que, com o passar de poucos anos se deterioram e devem ser substituídos”, explica o consultor técnico da Anicer, Jeferson Lemke.

História da telha cerâmica

As primeiras telhas surgiram com os avanços no conhecimento de queima da argila e a sua transformação em cerâmica. Em eras passadas, descobriu-se que a argila possuía a propriedade de alterar facilmente sua estrutura, conforme o avanço de sua secagem, ou seja, a argila úmida podia ser modelada com tranquilidade, endurecendo à medida que secava. Assim, tornou-se a base para muitos utensílios, armazenamentos e transportes de líquidos e alimentos. Ainda no final da Idade da Pedra, percebeu-se que este processo de endurecimento da argila poderia ser acelerado em altas temperaturas. Assim, passaram a utilizar fornos para queimar as peças, proporcionando um material ainda mais resistente e que poderia ser utilizado em diversas atividades, daí surgiu a cerâmica.

Foram os romanos que impulsionaram a utilização da cerâmica na construção civil. Outros povos buscaram diversas formas de utilizar este material e um deles desenvolveu o sistema de cobertura de casas, que substituiu as coberturas de colmos e de madeiras, que não eram muito eficazes.

As técnicas de cobertura foram se modernizando com o passar do tempo e a telha romana ganhou grande destaque em construções na Europa, até surgirem as telhas de encaixe, desenvolvidas pelos irmãos Gilardoni, fabricadas industrialmente e que se moldavam umas às outras perfeitamente. Hoje, é grande a variedade de formas, cores e acabamentos deste material.

Segmento de telhas cerâmicas no Brasil

O Brasil conta com quase duas mil fábricas de telhas cerâmicas que estão espalhadas e atendem a todas as regiões. Mensalmente, as empresas são responsáveis pela produção de 1.300 bilhões de peças, que vão dos modelos clássicos aos modernos e incluem opções naturais e coloridas. (Fonte: IBGE)

Para o diretor da cerâmica Faulim, Jeferson Faulim, localizada em Jumirim (SP), houve um pequeno abalo no atual cenário do mercado de telhas no Brasil, mas os empresários continuam otimistas de que esta situação irá mudar. “Houve uma melhora na confiança e o mercado iniciou uma retomada. Um dos indicadores desta retomada foi o crescimento da construção civil, distante dos números passados, mas suficiente para recuperar o nosso mercado de telhas, ficando estável até meados do segundo semestre de 2019, onde novamente houve uma retração, que se manteve até março de 2020. Mesmo com todo o caos instalado através da pandemia, nos dois últimos meses obtivemos uma melhora significativa em relação ao primeiro trimestre de 2020. O cenário é incerto, porém com a reabertura da economia, o mercado tende a voltar à normalidade. Nossa expectativa é manter a estabilidade obtida nos últimos meses, acreditando em um possível crescimento para o segundo semestre”.

Grande parte das coberturas realizadas no País utilizam telhas cerâmicas, que oferecem um melhor conforto térmico e acústico para os ambientes. Além de ser 100% natural, a telha de argila tem maior durabilidade quando comparada com os demais produtos com a mesma função estrutural.

Cleyton Cabral

Para o arquiteto Cleyton Cabral, a formatação do telhado é um passo importante ainda na fase de elaboração do projeto. “O telhado deve ser pensado sempre em conjunto com a edificação, mantendo a perfeita harmonia entre a estética, a segurança e também os custos de todo projeto. Alguns aspectos significantes do telhado possuem uma função peculiar e bastante importante para a cobertura da edificação como um todo, tais como: conforto termoacústico, valorização da estética e segurança – pois irá proteger grande parte da estrutura do imóvel, das intempéries e ação do tempo causadas pelas mesmas. Devido a grande preocupação atual com o meio ambiente, há no país, municípios em que a utilização de telhados verdes é obrigatória, fazendo com que os locais em que há a existência dos famosos tetos verdes, sejam bem mais agradáveis tanto em questões térmicas, como também possuem um importante fator para reduzir a poluição existente nas grandes metrópoles. Nas questão da cor do telhado, devido a existência de uma gama enorme de produtos e com grande diversidade de cores, muitos arquitetos gostam de utilizar cores diferentes do tradicional “cor de telha”, para valorizar ou tornar a edificação única. Mas é importante lembrar que o uso de cores deve ser muito bem pensada, uma vez que as intempéries podem provocar desgastes, como a alteração da tonalidade, e então, o que era bonito pode vir a se tornar estranho”.

Telhas de cerâmica têm melhor isolamento térmico

Com os termômetros atingindo temperaturas cada vez maiores a cada ano, o conforto térmico dos imóveis passou a ser uma questão-chave na hora de comprar ou construir. Entre os principais fatores que determinam as condições térmicas no interior de uma edificação estão os materiais de construção nele empregados.

Cobertura de telhas cerâmicas propiciam um isolamento térmico melhor, garantindo alguns graus a menos no interior. Com menos calor sendo absorvido pelo interior, pode-se verificar grandes economias em energia elétrica destinada à refrigeração de ar, ao longo de toda vida útil de um imóvel.

Avaliação do Ciclo de Vida das Telhas Cerâmicas

A Associação Nacional da Indústria Cerâmica – Anicer, divulgou um estudo sobre a Avaliação do Ciclo de Vida dos Produtos Cerâmicos e o comparativo com seus equivalentes em concreto. O objetivo da ACV é analisar e entender os impactos ambientais ocasionados no decorrer de todo o ciclo de vida de telhas e blocos cerâmicos desde o momento da extração da matéria-prima, passando pelas etapas de transporte, produção, distribuição e utilização até seu descarte final.

Para isso, a empresa canadense Quantis, responsável pelo estudo, avaliou elementos como uso de energia, emissões de poluentes no ar, retirada de água, contaminação de solo e águas, impacto nas mudanças climáticas e na saúde humana para chegar ao resultado já conhecido: os produtos cerâmicos se mostraram significativamente superiores aos seus concorrentes.

Para o presidente da Anicer, Natel Moraes, o levantamento é uma forma de oferecer ao consumidor condições de escolher um produto por meio de critérios de consumo responsável. “É importante conhecer a condição do nosso produto e seu grau de impacto. Saber onde podemos melhorar, aperfeiçoar, no que podemos reduzir consumo na produção, transporte, uso e descarte. Mas isso fica ainda mais nítido quando o consumidor faz a comparação”, afirma Moraes.

Resultados da ACV de telhas

 O fluxo de referência do estudo é a construção e a manutenção de 1m² de telhado, com telhas cerâmicas ou de concreto, ao longo de 20 anos. Neste sentido, a análise mostrou que o m² de cobertura cerâmica requer 72% menos água do que o m² de cobertura de concreto, e pelo fato das telhas cerâmicas serem de 15 a 20% mais leves e fazerem menores distâncias de transporte, emitem 69% menos CO2 na atmosfera.

Além disso, consomem 57% menos energia que o concorrente. Um dos principais motivos é que as telhas cerâmicas, embora requeiram 3 vezes mais energia em seu processo de fabricação, utilizam fontes de energia renováveis e biogênicas como cavaco de madeira e biomassas descartadas por outras indústrias, ajudando a limpar o meio ambiente com a redução das emissões de metano (gás 21 vezes mais prejudicial para o aquecimento global do que o CO2) que seria dispersado se estas biomassas ficassem se decompondo. A menor distância de transporte também foi apontada pelo estudo como um ponto importante, pois resultará em uma menor emissão de CO2.

Resultados da Avaliação do Ciclo de Vida

Mudanças Climáticas

Uma cobertura construída com TELHAS CERÂMICAS emite 52% menos CO₂eq. do que a mesma cobertura utilizando telhas de concreto. Embora requeira 3 vezes mais energia, a fabricação de telhas cerâmicas utiliza fontes de energia renovável;

As TELHAS CERÂMICAS são 15-20% mais leves por m² de telhado e fazem menores distâncias de transporte, resultando em uma quantidade menor de CO₂eq. lançado na atmosfera.

Esgotamento de Recursos Naturais

1 m² de cobertura CERÂMICA tem impacto 57% menor no Esgotamento de Recursos não renováveis que a mesma área com telhas de concreto, pois utiliza fontes renováveis de energia.

Retirada de Água

Uma cobertura com TELHA CERÂMICA retira 72% menos água que a feita com telhas de concreto.

Casa de colorir

Em meio a diversidade de cores existentes no mercado, o consumidor anda mais ousado na hora de escolher a cobertura de sua casa. Além da questão estética, a escolha da cor do telhado das casas também influencia no conforto térmico do ambiente. De olho nesse filão de mercado as indústrias de telhas cerâmicas apresentam constantemente novidades e itens com nova roupagem.

É cada vez mais comum encontrarmos telhados de cores diversas, saindo do tradicional laranja-avermelhado para uma cartela mais personalizada, como o azul, amarelo, branco, verde, entre tantas outras possibilidades. Em 2010, na cidade de São Paulo, tramitou na Câmara Municipal um projeto de lei que pretendia obrigar os paulistanos a pintar os telhados de branco. O projeto, de autoria do vereador Antonio Goulart (PMDB), foi baseado na campanha One Degree Less (Um Grau a Menos), divulgada pela organização não governamental GBC Brasil. A entidade sugere que o uso de telhados brancos nos edifícios pode reduzir os efeitos do aquecimento global e o consumo de energia.

A ONG divulgou estudos do Lawrence Berkeley National Laboratory, vinculado à Universidade da Califórnia, que estimam que, a cada 100 m2 de área branca, é possível compensar a emissão de 10 toneladas de CO2 por ano, além disso, a instituição estima que 25% da área de uma grande cidade sejam ocupadas por telhados.

Talvez por isso, as cores claras sejam uma opção também bastante utilizada na hora da escolha da cobertura.

O processo de coloração das telhas cerâmicas pode ser executado de três maneiras, o que configura as telhas esmaltadas, engobadas e eletrostáticas. A telha esmaltada é composta por uma camada colorida de compostos inorgânicos, à base de tintas e corantes. A composição é aplicada sobre a telha durante a queima e a fusão do esmalte à telha dá o aspecto vitrificado. A telha engobada é feita através da mistura de corantes óxidos (pigmentos) e argila fina. A fusão é espalhada na superfície da telha e, durante a queima, os materiais se fundem, proporcionando um colorido uniforme. Já na pintura eletrostática, considerada ecologicamente correta por não utilizar solventes, a telha recebe uma camada de tinta em pó, com base de poliéster, por eletrodeposição e depois é submetida à queima.

O consumidor deve ficar atento na hora de escolher o material que irá usar em sua obra para que não tenha dores de cabeça no futuro. Antes de mais nada, ter consciência do tipo de telhado que irá construir, definir a telha e as cores e se informar se o produto atende ao requisitos das Normas Técnicas e se tem o selo do PSQ ou alguma certificação, o que irá garantir a qualidade do material, daí para frente, mãos à obra.

Cabral explica que é importante levar alguns pontos em consideração na hora de projetar o telhado. “O uso a ser empregado na edificação, irá interferir bastante na escolha do tipo de telhado a ser projetado, pois o mesmo deverá atender as particularidades do prédio, que vai da forma como é implantado no terreno a um simples edifício vizinho existente, onde neste último caso pode gerar uma grande sombra, o que irá fazer com que a temperatura mantenha-se menor e mais agradável, como também pode haver uma construção em que haja uma enorme fachada de pele de vidro espelhada e com uma grande incidência do sol sobre a mesma – o que poderá tornar o local uma enorme estufa. Nesta última situação, a solução seria o uso de materiais que tenham uma grande facilidade em absorver e dissipar o calor, como também investir em uma boa circulação de ar sob esse telhado. Outro bom exemplo são os telhados com grandes inclinações, mais conhecidos como “telhados de estilo suíço”, onde possuem inclinações que podem passar de 60 graus, pois têm a função de escoar facilmente a água e nos tempos mais frios, evitar o acúmulo de neve sobre as cobertas, impedindo que todo o peso gerado fique concentrado sobre o telhado, o que poderia vir a causar um desmoronamento do mesmo. Então, podemos concluir que os aspectos ambientais interferem bastante no desenvolvimento dos projetos dos telhados”.

Cleyton Cabral indica ainda que a estrutura do projeto do telhado é o mais importante na hora de fazer as contas da quantidade de peças. “No cálculo das peças, a inclinação do telhado e a quantidade de águas que o mesmo irá possuir irão fazer grande diferença no quantitativo de materiais, pois um telhado reto com duas águas, irá exigir um número menor de material que um telhado com 6 ou 8 águas, por exemplo, explica.

O arquiteto conta ainda uma curiosidade que ele enfrentou durante a execução de um projeto para a Prefeitura do Recife. O Mercado do Cordeiro, localizado no bairro de mesmo nome, na cidade do Recife, foi inaugurado em 23 de março de 1937 e completamente revitalizado no ano de 2002. O local, conta com 117 boxes, além de um pátio interno para eventos e praça de alimentação e sanitários. Durante a sua revitalização, o arquiteto enfrentou dificuldades para encontrar telhas do mesmo modelo que as utilizadas no projeto inicial. “As telhas existentes à época não eram mais fabricadas. Então, tivemos que mudar o tipo de telha a ser aplicado no novo telhado. A preocupação era manter as características da construção anterior. Adotamos telhas Romanas, por serem mais resistentes e terem um baixo custo. O fator mais importante em não manter o mesmo tipo de telha do antigo talhado, foi o custo e o prazo curto para a conclusão da obra, pois ter que encomendar a fabricação de telhas similares, iria exigir um aditivo de prazo no contrato da obra, como também acarretaria um acréscimo no valor contratual, o que era praticamente inviável, pois a concepção do projeto foi baseado no baixo custo e no menor tempo para conclusão do mercado. Portanto, utilizar a telha cerâmica foi uma grande diferencial para que conseguíssemos manter o traçado e a volumetria do prédio antigo”.

O custo das telhas cerâmicas, a sua instalação e a diversidade de fornecedores são fatores favoráveis ao uso em qualquer tipo de construção. “Telhas de cerâmica oferecem um bom custo-benefício e podem ser encontradas em todas as regiões do Brasil, além de serem mais leves e bonitas que os modelos da concorrência”, explica o consultor técnico da Anicer, Antônio Carlos Pimenta.

No processo de fabricação, tudo começa com a extração da matéria-prima. Após a extração, a argila é transportada até a área de estocagem da cerâmica, onde depois acontece a mistura e preparação da massa. A mistura, em forma de massa consistente, é transportada por meio de correia para estocagem e descanso. Então, acontece o processo de conformação mecânica dos bastões pré-modelados que originarão a telha após a prensagem. Seguindo para etapa de corte dos bastões. Depois vem a secagem, que consiste na eliminação da água utilizada na fabricação dos produtos cerâmicos. Após a secagem, as peças cerâmicas são transportadas para o forno, onde são queimadas em temperaturas na ordem de 800o C a 1.000o C.

Finalizado o processo de queima e resfriamento, as telhas seguem para etapa de expedição, onde são classificados de acordo com a sua conformidade em relação ao atendimento às normas nacionais vigentes, sendo então paletizadas e estocadas ou dispostas para carga e comercialização. Até chegar ao distribuidor e, consequentemente, até o consumidor.

Telha Padrão

Coordenado pela Anicer, um grupo de trabalho formado por ceramistas, técnicos e fabricantes de moldes vem discutindo o desenvolvimento de modelos padrão paras as telhas cerâmicas, nos modelos Americana, Romana e Portuguesa.

Para alcançar esse objetivo, o grupo está estudando as geometrias com melhor comportamento, em amplo aspecto – desempenho, mercado e produção. Até o momento, já foram realizadas treze baterias de ensaios, tanto da ABNT NBR 15.575 – Norma de Desempenho -, como também da ABNT NBR 15.310 – que é a norma prescritiva do produto.

É importante destacar que os modelos ainda estão em fase de estudo, após a definição da telha padrão pelo grupo de trabalho, o estudo ainda deverá ser submetido à reunião da Comissão de Estudos de Telhas Cerâmicas (ABNT/CE-179 000.002), para aprovação em plenária. Depois, irá passar por consulta nacional e só então a norma passará a vigorar. Além disso, a proposta é que as geometrias atuais fabricadas por cada cerâmica possam continuar sendo produzidas normalmente, com seus devidos projetos. No entanto, só poderão ser chamadas de Telha Padrão as geometrias prescritas em norma.

Modelos de telhas mais comuns no mercado

Em dúvida sobre a cobertura do seu telhado? Conheça alguns modelos de telha e escolha o que melhor atende ao projeto da sua construção

Portuguesa

Americana

Romana

Francesa

Italiana

Piauí

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Manu Souza é gestora de comunicação e editora da Revista da Anicer.

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