Por Carlos Cruz | Imagens: Anicer e divulgação
De acordo com o relatório lançado pelo Programa das Nações Unidas para os Assentamentos Humanos, até 2020, cerca de 33 milhões de pessoas no Brasil estavam sem moradia. Os dados escancaram a realidade de milhares famílias que são afetadas pelo Déficit Habitacional no país. É nesse cenário que diversas iniciativas não governamentais atuam para fazer a diferença e transformar a vida dos brasileiros.
Separamos cinco ONGs que oferecem arquitetura para pessoas de baixa renda e ajudam a amenizar esse problema. Confira a seguir!
ONG Construíde
Fundada em 2017 pelo arquiteto Bruno Bordon, a iniciativa tem o objetivo de construir moradias para famílias em situação de vulnerabilidade social através de mutirões feitos com voluntários. Tainara Cristine, que integra a equipe de Recursos Humanos da ONG, contou que a ideia da Construíde nasceu após uma viagem missionária do arquiteto para o Sertão do Piauí, onde encontrou uma família vivendo em um lar precário. Foi a partir da tentativa de ajudá-los, que Bruno percebeu a necessidade de criar a Construíde e alcançar mais pessoas. Tainara reitera a importância da ONG para garantir aos beneficiados um direito básico de qualquer ser humano. “A gente vê que as pessoas não têm nem isso. Elas vivem numa situação onde elas não podem dormir em paz, colocar a cabeça no travesseiro e saber que elas vão acordar e o teto ainda vai estar intacto. Elas vão acordar e vai ter chovido à noite e a casa pode ser que esteja alagada, pode ser que não. Então, a Construíde vem para isso, para poder trazer realmente esse senso para essas famílias de que elas estão seguras”, apontou.
Dentre os desafios enfrentados pela ONG, Tainara destaca a captação de recursos, já que a Construíde é totalmente sustentada por doações, juntamente com a dificuldade de captação das famílias que serão beneficiadas. “A gente tem uma série de requisitos que a família precisa atender para conseguir ser atendida por nós. Por exemplo, a família precisa ter um lugar para ficar durante a obra, o terreno precisa estar no nome da família. A gente sabe que hoje muitas pessoas invadem terrenos, então a família não tem documentação e o nosso receio é da família entrar nesses lugares, a gente construir essas casas e depois de um ano, dois anos vem uma outra pessoa e toma. Nunca aconteceu isso com a gente, mas esse é um medo nosso, então a gente diz que tenha algum documento que comprove que aquele terreno é da família, que seja no nome da pessoa que a gente tá beneficiando”, explicou.
A ONG já realizou mais de 62 obras desde sua fundação, reuniu cerca de 4 mil voluntários e impactou diretamente a vida de 27 mil pessoas aproximadamente. Os mutirões de voluntariados acontecem aos finais de semana e, de acordo com Tainara, representam um dos maiores ativos na Construíde. Em dias de semana, as obras não param, mas ficam sob responsabilidade das empreitadas. “Na pandemia, na construção da obra da dona Maria de Fatima (uma das beneficiadas do projeto), a gente teve que parar todo nosso voluntariado por conta da pandemia e a gente trabalhou só com a empreita. Fomos afetados em questão de não conseguir utilizar esse recurso. Então, nos afetou financeiramente, porque a gente teve que trazer tudo isso para a responsabilidade da empreita poder fazer. E mesmo assim, a gente não parou, a gente continuou com as obras. A gente entregou a obra da dona Maria de Fatima em dois meses praticamente, só com a mão de obra da empreita”, contou.
A sede da Organização fica localizada em São Paulo, mas a Construíde já ergueu filiais em Sergipe, Goiás e Paraná.
Para ser um doador da ONG, existem duas possibilidades: a Liga Construider, formada por pessoas físicas que contribuem mensalmente com pacotes que variam de R$19,90 a R$199,90; e a Construider Business, voltada para as empresas que desejam financiar diretamente o projeto. Pessoas também podem optar por participar de mutirões ou realizar trabalho voluntário em obras ou internamente, na parte administrativa da ONG.
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ONG Arquitetura na Periferia
Mais do que oferecer melhorias para moradias, a Arquitetura na Periferia visa capacitar mulheres de baixa renda para que conduzam, com autonomia, a reforma de suas casas. O projeto, formado por uma equipe feminina, ensina a mulheres da periferia práticas e técnicas de construção e planejamento de obras, além de disponibilizar um microfinanciamento para que possam realizar as reformas e capacitá-las para que sejam protagonistas no processo de decidir como suas moradias serão construídas.
Criada em 2013 pela arquiteta Carina Guedes, durante sua pesquisa de mestrado na Escola de Arquitetura da UFMG, a Arquitetura na Periferia já capacitou cerca de 60 mulheres e auxiliou em 30 obras. A Organização também promove oficinas de construção voltadas para o mesmo público. De acordo com a criadora do projeto, um dos objetivos principais da ONG não se limita apenas à construção das casas, mas a todo o processo de planejamento. “É isso que eu acho que promove essa transformação entre as mulheres, porque não é um projeto que foca só no produto, só no projeto arquitetônico, na planta, porque a planta da casa você pode depois mudar, mas o aprendizado fica”, aponta Carina.
A arquiteta destaca que o principal desafio na capacitação das mulheres é relacionado à autoestima das beneficiadas, que muitas vezes acham que aquele lugar não é para elas. “Uma coisa que acontece muito é elas não acharem que elas conseguem, acharem que não são capazes, porque a vida toda elas viram que não sabem fazer isso, que não sabem fazer conta, que não sabem mexer com obra. Mas a partir do momento que elas são apresentadas a esse conhecimento e a gente começa a fazer as oficinas, elas vão percebendo que elas conseguem”, contou a arquiteta.
Mais que conhecimento para realizar as reformas em suas moradias, o projeto desperta uma transformação interna nas mulheres. “Os relatos delas sempre mostram muito essa questão do fortalecimento da autonomia, da autoestima, da autoconfiança e isso reverbera em outros assuntos da vida, não só ali na construção da casa, que eu acho que é o mais legal, e é uma coisa que fica com elas para sempre”, afirmou Carina. De acordo com a criadora do projeto, esse é um dos resultados mais significativos para a Organização. “Já teve mulheres que comentaram que mudaram até a aparência física delas, de se sentirem mais donas de si mesmas, de se reconhecerem como elas são e se colocarem no mundo dessa forma e não mais como o mundo quer que elas sejam. Isso para uma mulher acho que é libertador”, concluiu.
Interessados em contribuir financeiramente com a ONG poderão fazê-lo de várias formas. Doações pontuais, de qualquer valor, podem ser feitas por meio de depósito em conta, transferência bancária ou pix. Para ser um doador mensal, o valor mínimo é de R$ 15. A ONG também aceita doações de empresas parceiras e doações internacionais.
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ONG Decor Social
Reformando e decorando abrigos, a ONG Decor Social já transformou a vida de diversas crianças e adolescentes em situação de vulnerabilidade social. Desde 2018, dez projetos de diferentes bairros de São Paulo foram beneficiados por esse trabalho.
De acordo com Katia Perrone, presidente e fundadora da ONG, o projeto conta com a colaboração de mais de 300 empresas e 120 profissionais voluntários, que juntos transformam um abrigo na “Casa dos Sonhos” das crianças e adolescentes. Para ela, o impacto na vida das crianças depois da reforma é nítido. “Esses jovens estão à margem da sociedade, alguns estão para adoção, mas a grande maioria está afastada da família por algum motivo grave e de grande impacto emocional. Isso faz com que sejam descrentes, com baixa estima e pouca esperança”, declarou Katia. E concluiu: “O projeto Decor Social nasce para dar voz a essas crianças e adolescentes, para permitir que sonhem, que expressem como querem a casa, o quarto, afinal é por eles e pra eles que existimos”.
E a comprovação disso vem por meio de números: pesquisas feitas pela ONG nos projetos após as reformas apontam que 100% dos acolhidos reportam ausência de medo e 60%, aumento na sensação de bem-estar.
A Decor Social aceita arquitetos, designers de interiores e paisagistas que queiram se voluntariar; além de condições especiais para a compra de materiais e contratações de serviços ou doações. Também é possível contribuir financeiramente, com valores definidos pelos próprios doadores.
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ONG TETO Brasil
Fundada oficialmente no Chile há cerca de 21 anos e presente em 18 países da América Latina, a ONG Teto atua em diversas comunidades precárias no Brasil há mais de 14 anos. Sua principal proposta é oferecer melhores condições de moradias para famílias em situação de extrema pobreza.
Uma das áreas de atuação da TETO, o projeto “Moradias de Emergência” visa atender às famílias por meio da construção de casas feitas com madeira de pinus. A ONG também é responsável por outros projetos, como a Sede Comunitária, os Centros de Captação de Água da Chuva, a Horta Comunitária, o Lavatório Comunitário e o Refeitório Comunitário.
O trabalho voluntário na TETO pode acontecer de algumas formas: é possível apoiar as ações da ONG de forma permanente, em um trabalho de no mínimo 6 meses, dedicando de 6 a 8 horas semanais em algum segmento da organização ou ajudar pontualmente nas ações.
Também há opções de voluntariado corporativo, voltadas para grupos de pessoas que trabalham na mesma empresa, ou voluntariado com colégios, em que grupos escolares podem participar das ações mais massivas da ONG.
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ONG Habitat
Desde 1992, a Habitat para a Humanidade Brasil, organização que faz parte da rede internacional Habitat for Humanity, desenvolve projetos de construção e melhoria de moradias no país. O principal objetivo da ONG é garantir que pessoas em situação de pobreza morem em um lugar digno que, aliás, é um direito constitucional de todos os brasileiros.
Nos 29 anos de atuação no Brasil, a Habitat para a Humanidade já construiu mais de 7.500 casas e reformou outras 2.200. Além disso, a organização também promove projetos que oferecem soluções de acesso a água, saneamento e higienização.
A Habitat para a Humanidade Brasil coleciona mais de 10 prêmios. O último deles, em 2021, foi o Selo Municipal de Direitos Humanos e Diversidade, da Prefeitura Municipal de São Paulo.
A ONG aceita doações únicas ou mensais com o valor mínimo de R$ 55 e parcerias com empresas que desejam investir em seus projetos.
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