Hoje é:20 de setembro de 2024

Humor não é só remédio, mas agente de vendas

Por Ed Wanderley

O conteúdo deste artigo não necessariamente reflete a opinião da Anicer e é de responsabilidade de seu autor.

Um dos principais erros de quem quer construir um reconhecimento de uma marca é a distância entre o que seu público consome e a imagem proposta pela empresa. Normalmente, se quer a ideia de solidez, confiança e até sisudez, porque se busca a sensação de tradição e seriedade. E é natural que se busque isso. O negócio é seu e você quer que as pessoas acreditem nele como você acredita. Mas, pense comigo. O que mais você consome? O que chega até você com mais facilidade? O que seu WhatsApp não passa um dia sem te mostrar?

O humor é traiçoeiro quando colocado no campo dos negócios, mas a bem da verdade, é o recurso que consegue transpassar mais barreiras, chegar a mais público e se espalhar organicamente, na versão mais moderna do antigo boca a boca. E pega, gruda. Todo mundo tem a referência de “o gerente enlouqueceu” no canto de trás da cabeça. Tenho certeza que você lembra do caranguejo, bunda de fora, dançando Nananaaná para vender cerveja na TV. Ou do tio no elevador levando um fora para vender Sukita – você se lembra mais do tio do que da própria Sukita (aliás, quem toma Sukita?

Tio, moderniza aí from André Di Francci on Vimeo.

Entenda, ninguém quer dizer com isso que você não deva prezar pela sua imagem de solidez e confiança, mas é preciso se ajustar aos tempos – e eles requerem flexibilidade e um alinhamento significativo com o modo de vida das pessoas. E se humor é o que as pessoas mais consomem, por ele você chega mais rápido aos seus olhos e, consequentemente, bolsos. O humor, nesse caso, pode estar em cores mais leves, fontes mais ousadas, mensagens mais simples e com um quê de cotidiano, em vez de frases clássicas que mais parecem saídas de termos de uso e contratos (outras coisas que o brasileiro quase não lê, daí tanta necessidade de advogados).

Além de chegar a mais pessoas, o humor tem um caráter educativo como poucos. A comediante norte-americana Leslie Jones fez mais pelo câncer testicular nos EUA que as campanhas do Ministério da Saúde, ao gritar num especial da Netflix, “homens, deixem de ser nojentos, lavem embaixo de suas bolas. Já são feias, imagine fedidas? Lavem embaixo de suas bolas”. O público foi ao delírio. Você talvez tenha ficado um pouco constrangido e agora ria também. Mas a mensagem fica. E você, no mínimo para por um segundo: “será que tô fazendo certo? Checa aqui, amor”. O mesmo fez Felipe Neto ao falar sobre o costume das pessoas não escovarem os dentes ao acordar, revoltado com um bom dia mal direcionado às narinas antes de uma checagem prévia – e como ninguém aqui é personagem da Disney que acorda desamassado e cheirando a lavanda, imagino estarmos todos sujeitos. Você ri. E você lembra. Lembro até hoje. E o efeito colateral é acabar lembrando de Felipe Neto e Leslie Jones em várias manhãs, mas faz parte.

Há um caso bem recorrente. Você já deve ter visto. Uma placa que viralizou: “Um café – R$ 3, Um café, por favor R$ 2, Bom dia, um café, por favor R$ 1”. Educativa, bem humorada (ainda que passivo-agressiva) e com potencial viralizante. Não tenha dúvidas que o café lotou por bastante tempo após a campanha gratuita de divulgação. Falo por experiência própria, um sorriso abre portas, às vezes te consegue assentos melhores em voos, descola números de telefone e, sim, fecha negócios. No Japão, certamente a comunicação corporativa se faz de forma diferente, mas aqui é Esparta, digo, Brasil e em terra de sapos, a gente se agacha. Você pode até ser conhecido com Lunga, mas se não for fazer piada sobre isso para te trazer mais negócios, guarda teu mau humor e finge ser feliz da vida – as pessoas gostam de comprar, negociar e fazer parcerias com quem tem humor e senso de felicidade à flor da pele, isso é indicativo de sucesso, afinal, quem está sempre rindo e bem é porque venceu na vida (ou está te vendendo algo), né? Compra essa ideia! Até te conto uma piada…

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Ed Wanderley é repórter e escritor, natural de Pernambuco, destacado entre os 100 jornalistas mais premiados do Brasil. Torcedor do Sport e entusiasta da lógica de que quando a informação não é o bastante, só o humor salva.

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