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Made in Acre

Tradição, dedicação e força feminina traduzem a história de sucesso da Cerâmica Terças

Por Manu Souza | Imagens: Felício Muniz

Ainda na década de 1930, o imigrante português Manoel Terças – que no início do Século XX, veio de navio para Brasil e firmou moradia no Estado do Acre -, estabeleceu parceria com seu tio, Manoel Pedreiras e se associou à sua olaria, dando início a tradição dos produtos cerâmicos Terças na Região Amazônica.

Fundada em 1985, pelo filho de Manoel Terças, Joaquim Guerra Terças, a Cerâmica que leva o nome da família está localizada no município de Cruzeiro do Sul, no Estado do Acre e conta com a administração de empresária Janaína Verbena, representante da terceira geração da família – filha do fundador.

À frente de um negócio em que o mercado é formado por uma maioria masculina, Janaína prova que conhecimento, informação e amor pelo que faz são os verdadeiros ingredientes para uma administração de sucesso. “Meus pais me criaram de uma forma muito liberal, sempre me diziam que eu era capaz de fazer o que eu quisesse. Meu pai me levou pro barreiro da olaria, junto com meus irmãos muito cedo, antes dos 10 anos, e nos ensinou tudo sobre o barro, suas peculiaridades e cuidados, para que virasse um “bom tijolo”, nos ensinou a dirigir máquinas pesadas e a aprender tudo o que uma cerâmica precisa para funcionar, inclusive me ensinava como vender tijolos também. Quando me juntei a ele na administração da empresa, em 2010, eu sabia o que estava fazendo. O conhecimento me deu segurança na hora de tomar decisões e de firmar minha posição na empresa e na sociedade. Por não sofrer preconceito dentro da minha família, meu caráter foi forjado para não fazer distinção entre homem ou mulher. Não me importo com a opinião de pessoas preconceituosas”. 

A fábrica, que antes era uma pequena olaria, passou por investimentos e modernizações – com produção automatizada e tecnologia de ponta, diminuindo a mão de obra humana e aumentando a produção -, e hoje conta com a participação de 30 colaboradores diretos e dezenas de indiretos, na confecção de Blocos de Vedação de 9x14x19 e 9x19x19.

Meus pais me criaram de uma forma muito liberal, sempre me diziam que eu era capaz de fazer o que eu quisesse.

A história da Cerâmica Terça se mistura com a do município e está exposta nas construções das primeiras estruturas do local. As telhas cerâmicas utilizadas na cobertura da Catedral Nossa Senhora da Glória, inaugurada em 1965 e de arquitetura europeia, eram da antiga fábrica do avô de Janaína. Principal cartão postal de Cruzeiro do Sul, a Catedral tem 50 metros de altura e pode ser vista de quase todos os pontos da cidade. “Destaca-se ainda a sede da Associação Comercial do Alto Juruá, o Fórum, os Correios, o Mercado Central – atual Mercado Joãozinho Melo, o 7° Batalhão de Engenharia e Construção – BEC, atual 61° BIS – Batalhão de Infantaria e Selva. A utilização dos produtos da Cerâmica Terças perpassa as várias fases de desenvolvimento de Cruzeiro do Sul e das quatro cidades vizinhas, que compõem o Vale do Juruá. A história continua e os tijolos da Cerâmica Terças seguem nas novas edificações particulares e públicas da região. Muito me orgulha o fato de um bairro de Cruzeiro do Sul ter o nome do meu avô Manoel Terças. É onde está a casa onde meu pai nasceu, meu neto nasceu e onde eu vivo até hoje com minha família, de onde se vê o principal rio da região, o Rio Juruá”, conta Janaína.

O conhecimento me deu segurança na hora de tomar decisões e de firmar minha posição na empresa e na sociedade. Por não sofrer preconceito dentro da minha família, meu caráter foi forjado para não fazer distinção entre homem ou mulher. Não me importo com a opinião de pessoas preconceituosas.

Formada em Serviço Social, Janaína é estudante de direito atualmente, na Universidade Federal do Acre – UFAC. A ceramista tem uma agenda apertada e além do expediente das 7h às 17h na fábrica, também representa a Federação das Indústrias do Estado do Acre – FIEAC, no Vale do Juruá, trabalhando pelo desenvolvimento e fomento da indústria no estado. A empresária aponta a questão ambiental e logística como principais gargalos do setor na região “Hoje respondemos a um sistema ambiental muito rigoroso, por estarmos localizados na Amazônia, tornando o nosso custo operacional caro, com o ônus de licenças e mão de obra especializada nessa área. O nosso anel viário também é muito precário, com uma zona rural extensa, o que nos impossibilita atender 100% a região. Outro gargalo é a logística, por estarmos distantes de regiões aonde compramos nossos equipamentos e peças de manutenção, o frete muitas vezes é maior que o valor do bem, isso encarece e dificulta a manutenção dos nossos maquinários. Havendo um melhoramento na logística dessa região e a ligação com outros mercados, melhora e incentiva as indústrias cerâmicas da Região”.

Apesar das dificuldades apontadas, a Cerâmica Terças fornece blocos de Feijó à Marechal Thaumaturgo, além de atender alguns municípios do Estado do Amazonas, somando nove cidades alcançadas. Além disso, estão nos planos da empresária uma futura ampliação do seu parque fabril, com o objetivo de dobrar a sua produção. Na estratégia de negócios, estão o investimento em novos fornos, modernização do sistema de entrega e implantação de e-commerce.

Em sete décadas no ramo de cerâmica vermelha, conquistamos a confiança da clientela.

Para enfrentar a concorrência, a ceramista conta que demanda, constantemente, a atualização da sua equipe e uma comunicação dirigida estrategicamente ao seu público-alvo. “Trabalhamos a qualidade do nosso material, com treinamentos aos funcionários, consultorias que vão desde o administrativo da empresa até o processo de fabricação, finalizando no controle interno dos produtos acabados. Em sete décadas no ramo de cerâmica vermelha, conquistamos a confiança da clientela. Temos lista de espera pelos nossos produtos e nos mantemos entre as três maiores indústrias do Vale do Juruá. A estratégia das vendas on-line se consolidou no último ano, vendemos pela internet ativamente, seja pelas redes sociais ou WhatsApp, onde as vendas são finalizadas. Ganhamos agilidade na venda e o cliente comodidade e segurança em poder fazer a compra dos seus tijolos, sem precisar sair da sua casa ou trabalho”.

Apesar de ainda não possuir um atestado de qualificação no Programa Setorial da Qualidade – PSQ, a empresária indica que esse é um dos planos futuros e que hoje trabalha a qualidade integrada às consultorias oferecidas pelo Sebrae, Sesi e Senai. A qualificação do produto assegura a excelência do material, o atendimento às normas técnicas quanto a sua produção, além de garantir maior agilidade na construção, maior competitividade, diminuição do desperdício, aumento e controle de produção. Essa participação ativa do setor, construída pelo consenso entre entidades, parte de uma adesão voluntária ao programa. “Não conhecia o Programa, em recente contato da Anicer, passei a conhecer e me interessei em integrar o PSQ na nossa empresa, através do PSQ, certificar nosso produto, buscando clientes mais exigentes”.

Por conta das medidas necessárias para evitar a contaminação da Covid-19, nos últimos meses a Cerâmica Terças precisou se adaptar aos decretos restritivos dos órgãos sanitários, tendo parado a sua produção por 30 dias durante o período de pico da doença, mas o setor da construção na região já vem passando por um aquecimento, o que mantém a esperança da empresária em fechar 2021 com saldo positivo. “A lista de espera por nossos tijolos foi reduzida de dois meses para sete dias, mas as vendas seguem aquecidas. Estamos no período do “verão Amazônico”, tempo de muito sol e poucas chuvas, que dura de junho até o início de outubro, quando a construção civil no estado está a todo vapor”.

Manu Souza é gestora de comunicação e editora da Revista da Anicer.

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