Por Maria Angelica Covelo Silva – Engenheira Civil, Mestre e Doutora em Engenharia e Diretora da NGI Consultoria e Desenvolvimento, sediada em São Paulo.
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Em fevereiro completaremos 8 anos de publicação da Norma de Desempenho – ABNT NBR 15575 – Edificações habitacionais – Desempenho – Partes 1 a 6. O impacto desta norma na construção civil residencial foi grande por estabelecer um novo conceito, uma nova metodologia de desenvolver projetos e de selecionar sistemas construtivos e construir empreendimentos residenciais.
A título de exemplo podemos mencionar algumas mudanças que ela vem provocando: dependendo do sistema construtivo, em algumas zonas bioclimáticas, as soluções que sempre foram adotadas em fachadas se mostraram insuficientes para assegurar o atendimento aos limites de transmitância térmica e capacidade térmica; em algumas situações, dependendo das cores dos revestimentos externos; sistemas de paredes internas entre unidades tradicionalmente utilizadas em todo o Brasil também se mostraram insuficientes para o desempenho acústico quando há dormitório na geminação entre unidades habitacionais; lajes que são projetadas unicamente para atender aos requisitos de desempenho estrutural e de resistência ao fogo igualmente se mostraram insuficientes para o desempenho acústico; esquadrias de dormitórios cujo comportamento em relação ao desempenho acústico era desconhecido se mostraram, em muitos casos, completamente aquém dos níveis mínimos requeridos.
Não tivemos no setor da construção civil ao longo dos anos 1990 e primeira década dos anos 2000 critérios que agregassem aos empreendimentos residenciais o adequado comportamento quando em uso (que é a definição geral de desempenho) para as condições de exposição e reais necessidades dos usuários em requisitos que são essenciais e que só passaram a ser tratados a partir da norma de desempenho.
Assim, com a chegada destas novas exigências muitas mudanças foram necessárias em projeto, sistemas construtivos e até mesmo execução de obras e orientações aos usuários, mas principalmente vêm sendo necessários novos conhecimentos técnicos para todos os profissionais envolvidos na cadeia produtiva da construção.
Vários fabricantes vêm realizando ensaios e avaliações que permitem ter clareza do comportamento de seus produtos no sistema construtivo diante dos requisitos da norma.
Mas é preciso que todos os envolvidos neste processo tenham conhecimento técnico adequado para saber o que determina o desempenho final ao usuário.
Os produtos que fazem parte de um sistema de vedações verticais precisam atender requisitos específicos conforme sejam vedações verticais externas (fachadas) ou internas. Para que se defina os requisitos e critérios a atender é preciso considerar as condições de uso e exposição. Uma fachada numa zona bioclimática 1 ou 2 (regiões de clima predominantemente frio como Curitiba, Campos do Jordão ou municípios da serra gaúcha) terá que atender a um critério de transmitância térmica mais rigoroso que uma fachada numa zona bioclimática 3 a 8. Para atender adequadamente a estes critérios o projetista responsável deve dominar o que significa a transmitância térmica, como buscar dados prontos de composições de vedação que estejam dentro dos limites previstos ou saber calcular para a composição de componente de vedação + tipo e espessura de revestimento que pretende usar. Precisa dominar também o efeito que a absortância à radiação solar tem sobre a transmitância, para poder definir a cor que vai usar ou, partindo da cor que deseja usar, definir a composição da fachada. E tudo isso equilibrando com o custo que o empreendimento precisa ter.
Na definição da fachada ainda deverá equilibrar a configuração para o desempenho térmico com os demais requisitos que a fachada deve apresentar: o Tempo de Resistência ao Fogo, o desempenho estrutural, a estanqueidade e a durabilidade. Para tanto precisa ter conhecimento para analisar os dados de ensaios que os fabricantes apresentam para verificar a adequada configuração que possa atender aos diferentes critérios simultaneamente em função das variáveis que definem este atendimento, como a altura do edifício para a resistência ao fogo, as pressões de vento para a estanqueidade, a resistência mecânica para o desempenho estrutural.
Quando chega a hora de especificar as vedações internas é preciso considerar que, para cada situação de uso, requisitos e critérios específicos precisarão ser atendidos: paredes de escadas de emergência e de poço de elevador têm critérios específicos na norma de desempenho e legislação de segurança contra incêndio para resistência ao fogo; quando entregamos ambientes decorados, as paredes precisam receber revestimentos que atendam às classes de reação ao fogo previstas na norma; paredes entre unidades habitacionais precisam ter isolamento acústico definido nos critérios e para isso deverão assumir configurações específicas.
Por outro lado, evidenciaram-se aspectos de cuidados de execução de obras que são absolutamente determinantes do desempenho a ser atingido tais como o preenchimento completo das juntas verticais, horizontais e transversais nas alvenarias; o controle de vedação dos encontros alvenaria x estrutura, alvenaria x esquadrias, a instalação de caixas de sistemas elétricos, a escolha de argamassas adequadas à interação entre a alvenaria e a estrutura para um desempenho estrutural adequado, entre outros aspectos.
O conhecimento sobre o desempenho em relação a todos estes requisitos vem sendo gradativamente proporcionado por ensaios e avaliações que os fabricantes e empresas construtoras vem realizando desde a publicação da norma de desempenho.
Foram conhecidos fatores importantes que determinam o desempenho a partir destes ensaios. Novos conhecimentos vêm sendo possibilitados com eles e novos produtos e sistemas vão sendo desenvolvidos para atender melhor os requisitos e critérios.
No entanto, é preciso ainda que profissionais de projeto e de execução de obras tenham pleno domínio do comportamento de materiais, componentes e sistemas construtivos para que suas decisões de projeto e sua gestão de obra, de fato, completem o ciclo que assegurará o desempenho.
E ainda falta comunicarmos melhor os usuários finais sobre sua responsabilidade de uso correto e efetiva manutenção para que a vida útil projetada seja de fato atingida ou até superada.
Quando fecharmos este ciclo completo riscos e custos para todos os envolvidos estarão devidamente controlados e o desempenho final dos sistemas construtivos e das edificações será assegurado ao usuário final.
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