Hoje é:19 de setembro de 2024

Novas abordagens das normas para construções em Alvenaria Estrutural

Por Emil Sanchez | Imagem: Luis Lima

O conteúdo deste artigo não necessariamente reflete a opinião da Anicer e é de responsabilidade de seu autor.

O sistema construtivo em Alvenaria Estrutural é vantajoso e evidenciado ao longo dos séculos, destacando-se, resumidamente, benefícios como:

a) a produção do elemento básico desse sistema construtivo, o bloco, corresponde a aproximadamente 80% da área de uma parede, e está presente numa vasta rede de plantas;

b) os seus demais componentes: cimento, areia, brita e água potável são de fácil acesso e aquisição;

c) a sua durabilidade e vida útil são comprometidas pela ação das intempéries (sol, chuva, radiação solar, poluição, etc.);

d) o custo é baixo.

Considerando o fortalecimento do conceito de desenvolvimento sustentável (DS) para a indústria da construção civil, o processo construtivo, na atualidade, tem mudado de forma substancial, principalmente no que diz respeito aos fatores ambientais, sociais e econômicos, ou seja, não basta somente analisar os custos, a qualidade e os prazos, deve-se inserir aspectos que garantam a obtenção de construções mais sustentáveis, descritas de forma resumida a seguir.

Dimensões DS Descrição (resumo)
Ecológica ou Ambiental Compreender e respeitar as dinâmicas do meio ambiente e considerar o ser humano como uma parte deste ambiente e dependente deste.
Econômica Está associada ao emprego dos recursos naturais do planeta: “o saber usar” de forma eficiente através da racionalização econômica local, nacional e mundial
Social Garantir que todas as pessoas tenham condições iguais de acesso a bens e serviços de boa qualidade necessários para uma vida digna.
Espacial ou Territorial Refere-se ao crescimento demográfico desorganizado: envolve a organização do espaço e respeita critérios superpostos de ocupação territorial
Cultural Direcionada às raízes dos modelos de modernização traduzindo o conceito de eco desenvolvimento respeitando as especificidades de cada ecossistema, cultura e local.
Institucional Políticas nacionais e internacionais que assegurem a promoção e a cooperação em prol da integridade do desenvolvimento sustentável.

As normas técnicas tendem a contemplar os quesitos mencionados, mas outro, de igual ou maior importância, está a despontar nas prescrições normativas, o conceito de risco de ruptura de parte da estrutura ou ruína total (colapso progressivo). As obras em Alvenaria Estrutural devido à sua grande robustez têm uma grande rigidez, mas devem ser analisadas contra os riscos provenientes de uso inadequado ou eventuais danos, pois são facilmente comprometidas devido a atos humanos, cujos efeitos podem ser de difícil reparo.

O tradicional conceito de risco é definido como o produto da probabilidade de um evento F, dada por P(F), pela consequência C desse evento:

R=P(C)*C ≤ risco limite

Esses parâmetros são definidos estatisticamente e compõem o que se denomina Teoria da Confiabilidade. O risco limite é estabelecido pelo proprietário, agente responsável pela construção ou pela normalização (nacional ou internacional). O uso dessa teoria em projetos usuais ainda está incipiente, restringindo-se às pesquisas acadêmicas, mas serve de arcabouço teórico para o estabelecimento de prescrições aplicáveis às práticas construtivas.

Os edifícios altos construídos em Alvenaria Estrutural, acima de seis pavimentos, estão cada vez mais presentes nos grandes centros urbanos, assim as responsabilidades dos projetistas se tornam mais contundentes. Então, se faz necessária uma análise mais abrangente do risco de dano estrutural, muitas vezes de difícil mensuração.

A normalização brasileira, ABNT/CB-002 PROJETO ABNT NBR 16868-1 FEV 2020, já aborda critérios que permitam, de maneira clara e eficaz, estabelecer uma redução da probabilidade de danos acidentais nas estruturas das edificações em Alvenaria Estrutural e, assim, evitar o colapso progressivo de uma parte significativa dessa estrutura. Essa nova norma aborda os danos diversos, os impactos de veículos e equipamentos e explosões, recomendando que o dimensionamento dos elementos da estrutura deve ser realizado considerando a retirada de um elemento que a compõe; estabelece, também, coeficientes de segurança assim como detalhes construtivos em lajes moldadas in loco ou pré-moldadas para evitar o colapso progressivo. Em resumo, enfatiza em suas prescrições, claras e objetivas, mostradas por meio de detalhes construtivos e não só por texto e expressões, que armaduras adicionais devem ser utilizadas sobre as paredes passíveis de danos, e desse modo permitir uma redistribuição das solicitações, garantindo a resistência estrutural.

No caso de explosões relata que todos os elementos no entorno do ambiente onde os danos podem ocorrer devem ser desconsiderados no sistema estrutural adotado e ressalta que após a ocorrência de um dano, mesmo sem que ocorra o colapso progressivo, a estrutura tem seu nível de segurança diminuído, sendo necessária a concepção de um projeto de reforço estrutural.

Essas prescrições formalizam um grande avanço no dimensionamento de Alvenaria Estrutural no Brasil.

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Mestre e Doutor em Engenharia Civil, pesquisador visitante da T.U. Braunschweig/Alemanha, professor titular aposentado da Universidade Federal Fluminense, membro do ACI, PCI, FIB, IABSE, IBRACON e ABCM. Publicou mais de 250 trabalhos (artigos em congressos e periódicos, autor de 4 livros, organizador de 3 livros com autoria de 9 capítulos, e teses).

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