Hoje é:21 de novembro de 2024

Pandemia aquece vendas de blocos cerâmicos

Em meio à crise econômica gerada pelo coronavírus, a venda de blocos cerâmicos passa por aquecimento na região nordeste do país

Por Manuela Souza com colaboração de Juliana Meneses| Fotos: Banco de imagem Anicer, Antônio Pimenta e divulgação de acervo pessoal

Impulsionada pela máxima do faça você mesmo e pelo isolamento social que obrigou a população a permanecer dentro de casa por mais tempo que o normal, as vendas de materiais de construção foram impulsionadas nos últimos meses.

De acordo com estudo da Juntos Somos Mais, joint venture da Votorantim s, Gerdau e Tigre, as vendas da indústria para o varejo no mês de março subiram 8% em relação a fevereiro. Uma pesquisa, em que 1.200 lojistas foram ouvidos, revelou que apenas 24% vendiam pela internet antes da pandemia – mesmo este mercado não sendo popular no setor. Com o isolamento social, houve um aumento de 50% das empresas que passaram a apostar no e-commerce.

Recentemente, a Associação Brasileira da Indústria de Materiais de Construção (Abramat) divulgou seu Termômetro, que revelou que para 34% das empresas associadas o desempenho nas vendas em maio foi considerado bom ou muito bom. Já em junho a mesma expectativa subiu para 44% e a expectativa para julho é manter os 44% com desempenho bom ou muito bom.

O que acontece é que, durante a quarentena, o consumidor – para se manter ocupado ou porque finalmente encontrou tempo em sua agenda – sentiu necessidade em realizar pequenas obras e reparos em suas casas. Na região nordeste do Brasil, a venda de blocos de vedação foi positivamente impactada e vem mantendo o mercado aquecido para fabricantes deste material. “No final do mês abril e início de maio, a demanda por produtos da construção civil acelerou bastante, pegando de surpresa muitos empresários do setor. Alguns ceramistas, conseguiram retornar logo as atividades das fábricas, por exemplo aqueles que haviam somente reduzido a produção. Outros que tinham desligado plantas produtivas ou suspendidos as atividades demoraram mais para religar as fábricas, organizar novamente os colaboradores, planejar para readequar e respeitar os protocolos de segurança existentes. Muitas delas, ainda não conseguiram voltar plenamente. Concomitante a religação das fábricas, a demanda por produtos cerâmicos era acelerada em uma velocidade cada vez maior, sobretudo no varejo do interior do estado. Estados vizinhos com Piauí, Rio Grande do Norte e Paraíba, tiveram medidas de isolamento social que reduziram a atividade industrial do setor cerâmico, crescendo a demanda por produtos cerâmicos cearenses para essas regiões”, explica o presidente do Sindcerâmica/CE, Marcelo Tavares.

O presidente do Sindicer/RN, Pedro Terceiro de Melo, faz coro e explica que apesar de existir diversos outros sistemas de construção, no nordeste o bloco de vedação é muito utilizado. “Não obstante a alvenaria estrutural vir ganhando espaço no mercado de construção civil, a demanda maior continua sendo pelos tradicionais blocos de vedação, em razão das suas características de versatilidade e flexibilidade. Mesmo perante o atual momento da pandemia do coronavírus, a busca pelo bloco de vedação na região do Rio Grande do Norte mantém-se bastante significativa. Utilizado na estruturação convencional, com ferro, aço, laje, pilares e vigas, este tipo de alvenaria é o mais empregado nas construções brasileiras. A função principal deste modelo de alvenaria é vedar vãos, bem como separar ambientes e fachadas”.

A alvenaria nada mais é, que um conceito da construção civil, onde a junção de blocos ou tijolos, resultam na construção de paredes. Adentrando um pouco mais no assunto, temos a alvenaria de vedação, que pode ser executada com blocos de vedação – quando as peças são posicionadas com os furos na horizontal – e para instalações elétricas são necessários “rasgos” na parede -, a alvenaria de vedação racionalizada, com blocos de vedação de furo vertical –, quando as peças são sobrepostas com os furos na vertical, o que facilita a passagem de fios em seu interior e o bloco cerâmico perfurado ou maciço – em que as peças podem ser posicionadas vertical ou horizontalmente.

As principais vantagens do bloco de vedação é a facilidade de mão de obra além da grande aceitação no varejo, utilização em casas populares e em autoconstruções. Os blocos são utilizados em alvenarias de vedação, principalmente na construção de paredes e muros. No caso de estruturas, é necessária a construção de vigas, pois esses blocos suportam apenas cargas leves. Possuem furos na posição horizontal ou vertical, sendo esses últimos para alvenarias de vedação racionalizada. As alvenarias de vedação são destinadas a organizar espaços e devem suportar apenas o próprio peso e futuras cargas de utilização, a exemplo de armários e estantes. Além disso, é necessário que apresentem resistência às cargas laterais estáticas e dinâmicas, como por exemplo, a atuação do vento e impactos acidentais.

“Podemos citar como uma das principais vantagens do bloco de vedação a sua versatilidade e flexibilidade na execução das obras. Diferentemente do que ocorre com o bloco estrutural, a arquitetura e o design não ficam limitados pelo tamanho e forma dos blocos, quando são utilizados os blocos de vedação. Ele permite uma maior liberdade criativa, pois não há restrição em relação ao tamanho do projeto. Ele possibilita, por exemplo, portas e janelas fora das medidas padronizadas. Na alvenaria de vedação existe uma maior autonomia quanto ao layout do projeto, sendo possível fazer modificações até mesmo depois de a obra estar finalizada. Isto se deve ao fato de a alvenaria de vedação contar com vigas e pilares, que conferem suporte na sustentação, não prejudicando a estrutura do imóvel. Outra vantagem é que o bloco de vedação tem seus furos feitos na horizontal, facilitando a passagem de encanamentos e fiações, além de ser um material de baixo custo e bastante acessível”, indica Pedro Terceiro.

Para o arquiteto baiano, Caio Fontoura o modelo construtivo ainda está bastante arraigado naquela região, em parte por tornar a obra barata. “Acredito que seja um misto de hábito enraizado e custo mais baixo. Este tipo de sistema já está sendo utilizado há décadas, poucos conhecem, sequer, outros modelos de blocos cerâmicos, os pedreiros já estão habituados com a imagem, o peso e na forma de trabalhar, utilizando o bloco de furos horizontais. Utilizar algo diferente disto significa mudar tudo que a vida toda foi se acostumando a fazer e isso torna muito difícil a inclusão de uma técnica construtiva ou produtos diferentes do que já é utilizado. Aqui na Bahia, minha principal região de trabalho, é muito difícil encontrar outro tipo de bloco cerâmico. A maiorias das lojas só vendem blocos de furos horizontais, os pedreiros estão acostumados com esse produto, clientes não conhecem outro tipo de bloco ou técnica construtiva. Utilizar outro tipo de bloco significa ir contra toda a cadeia de construção, tenho que convencer o cliente, treinar operários, localizar um fornecedor que possa me atender. É um esforço enorme para se trabalhar com algo diferente do habitual e algo desgastante para qualquer gestor de obras”.

Diante da variedade de opções que o mercado oferece é importante focarmos no que realmente interessa: o projeto da construção e a qualidade final da obra. Mas, afinal, o que é preciso saber para adquirir um produto de qualidade e que possa ser usado, sem riscos, na sua construção? Antes de tudo e como regra básica, é preciso focar na qualidade e atentar se o produto atende as normas técnicas vigentes. “Atender a Norma Técnica ABNT NBR 15270/2017. Lá são encontrados todos os requisitos exigidos para a fabricação e comercialização dos blocos cerâmicos para vedação, além da Portaria INMETRO 558/2013, que agrega outras exigências e também considera para alvenaria os tijolos cerâmicos maciços e perfurados. As condições exigidas são o aspecto visual dos produtos, sua identificação (carimbo), dimensões, espessuras de paredes e septos, desvio com relação ao esquadro e planeza das faces, absorção de água e resistência à compressão. Há a possibilidade do desenvolvimento de produtos especiais com dimensões diversas, para atender especificamente requisitos dos engenheiros, arquitetos ou projetistas, com a finalidade de otimização da obra ou alcançar melhorias no isolamento acústico, térmico ou outro item, especialmente para atendimento da Norma de Desempenho (ABNT NBR 15.575/2013)”, explica o consultor técnico da Anicer, Antônio Carlos Pimenta.

Sabemos que entre os erros mais frequentes na atuação do comprador, estão o desconhecimento das normas técnicas e as compras voltadas para a economia financeira, muitas vezes sem levar em consideração a qualidade dos produtos adquiridos. É preciso executar a compra de acordo com as necessidades da construção, sendo necessário conhecer as especificações do projeto. “Para todos os materiais existem normas técnicas e portarias que servem de base para uma boa aquisição. O principal pré-requisito a ser levado em conta é a qualidade”, diz Pimenta, ao explicar que os fabricantes com qualificação no Programas Setorial da Qualidade (PSQ), do PBQH – Programa Brasileiro da Qualidade no Habitat, do Ministério do Desenvolvimento Regional (MDR), atendem as normas técnicas brasileiras.

Vantagens dos produtos cerâmicos

Os produtos cerâmicos são mais leves e apresentam enormes vantagens de qualidade, como características físico-químicas que resultam em uma condutibilidade térmica inferior aos outros materiais ou, em outras palavras, têm o melhor isolamento termoacústico. Isso permite grandes economias de energia com ar condicionado ou aquecedor ao longo de toda a vida útil do imóvel. Segundo a ACV dos produtos cerâmicos, realizado pela empresa canadense Quantis, trabalho encomendado pela Anicer, o estudo aponta, dentre outras coisas, as vantagens ecológicas dos produtos cerâmicos em comparação aos equivalentes em concreto, inclusive um desempenho ambiental superior. Além disso, blocos cerâmicos são facilmente encontrados, em qualquer região do Brasil. Testados e utilizados pela humanidade há mais de 10 mil anos, os produtos cerâmicos são os preferidos dos brasileiros por diversas razões e estão presentes em grade parte das residências. Produzida a partir dos quatro elementos da natureza, a cerâmica é 100% natural e não utiliza aditivos insalubres aos ocupantes dos imóveis e ao meio ambiente, sendo assim, são os mais procurados por quem deseja uma construção ecológica.

A leveza desse material é uma característica valorizada pelos engenheiros e que lhe confere maior eficiência energética e ecológica. Como os blocos de cerâmica pesam aproximadamente a metade do peso de seus equivalentes feitos com outros materiais, isso possibilita a economia no consumo de energia no transporte horizontal – das fábricas aos canteiros de obras – e no vertical – nos elevadores dos canteiros. Em relação às qualidades estéticas, também são os mais procurados pelos arquitetos, pois conferem charme aos projetos quando usados de forma aparente.

Manu Souza é gestora de comunicação e editora da Revista da Anicer.

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