Hoje é:3 de dezembro de 2024

Precisamos fazer a nossa parte

Conheça algumas medidas que podem ajudar na redução do consumo de água na construção civil

Por Carlos Cruz

Recurso essencial para a construção civil, a água apresenta inúmeras aplicações nos canteiros de obras, desde a supressão de poeira durante a fase de escavação à compactação do solo, passando pelo preparo da argamassa, pela limpeza durante e ao final do processo de construção e finalizando com o paisagismo.

Com tantas aplicações, é fácil deduzir que o consumo de água na construção civil seja algo realmente vultuoso e que mereça certa atenção das pessoas para evitar desperdício, sempre optando por utilizar técnicas e materiais que minimizem os impactos nos recursos hídricos.

Especialistas apontam que o caminho está na redução do consumo de água potável, sem prejuízo do desempenho, na gestão da demanda, na redução do desperdício e das perdas e em minimizar a geração de efluentes. Além de investimentos em desenvolvimento tecnológico e na busca de soluções para aumentar a disponibilidade hídrica, como, por exemplo, a utilização da água de reuso. Viabilizar edificações em que o usuário possa ter uma prática econômica do consumo, adotar medidas de consumo consciente nos canteiros de obras e utilizar fontes alternativas de água são algumas das boas práticas que garantem que a água seja utilizada de forma adequada pela construção civil.

Em todo o país, e também no mundo, empresas já se destacam na implantação de sistemas de gestão de água para monitorar o consumo nos canteiros de obras – seja na obra em si, seja no suporte necessário à sua execução, como sanitários, refeitórios e torneiras. Outras práticas que também vêm sendo muito utilizadas são a divulgação do consumo mensal para conscientização dos funcionários e a utilização de fontes alternativas, provenientes da chuva, de lençóis freáticos ou da drenagem do terreno.

No entanto, quando o assunto é evitar o desperdício, poucas pessoas atentam para o consumo de água na fabricação dos produtos que abastecerão essas obras, como, por exemplo, vidros, alumínio, tijolos e telhas. Gestão do desperdício de água na construção civil também passa pelo emprego de materiais e sistemas construtivos mais sustentáveis.

ACV dos blocos e telhas cerâmicas

Não há dúvidas – e os estudos comprovam – que optar por produtos cerâmicos é a solução mais sustentável para as construções. Não são poucas as vantagens que esses produtos apresentam sobre seus concorrentes, como menor impacto nas mudanças climáticas, menor esgotamento de recursos não renováveis, além do fato de que necessitam de 24% menos água que uma parede construída com blocos de concreto e 7% menos que a parede de concreto armado moldada in loco, por exemplo.

Os números são de um estudo publicado pela Anicer e realizado pela empresa canadense Quantis, sobre a Avaliação do Ciclo de Vida dos Produtos Cerâmicos e o comparativo com seus equivalentes em concreto.

O objetivo do estudo foi analisar e entender os impactos ambientais ocasionados no decorrer de todo o ciclo de vida de telhas e blocos cerâmicos desde o momento da extração da matéria-prima, passando pelas etapas de transporte, produção, distribuição e utilização até seus descarte final. Para isso, a Quantis avaliou elementos como uso de energia, emissões de poluentes de ar, retirada de água, contaminação de solo e águas, impacto nas mudanças climáticas e na saúde humana.

Um estudo publicado pela Revista Sustentabilidade mostrou que, para a confecção de um metro cúbico de concreto, gasta-se em média de 160 a 200 litros de água. Na compactação de um metro cúbico de aterro, cerca de 300 litros são consumidos. Isso sem contar a lavagem das fôrmas utilizadas para produzir o concreto. A água é usada em quase todos os serviços de engenharia, às vezes como componente, outras como ferramenta.

A opção por materiais produzidos por empresas qualificadas no Programa Setorial da Qualidade (PSQ), vinculado ao PBQP-H, contribui também para a redução do desperdício de água. Nos canteiros e edificações, é essencial que torneiras, chuveiros, bacias e mictórios tenham qualidade, sejam produzidos de acordo com as normas técnicas, além de dotados de mecanismos de consumo controlado.

E não são só os blocos que mostram números positivos. O uso de energia limpa também é responsável por garantir a eficiência das telhas de cerâmica. Segundo a ACV, 1m² de telha cerâmica impacta 69% a menos nas mudanças climáticas que seus equivalentes em telhas de concreto. Mesmo usando 3 vezes mais energia, as fontes renováveis impactam 57% menos no esgotamento de recursos não renováveis.

A Avaliação do Ciclo de Vida dos Produtos Cerâmicos realizada pela consultoria canadense Quantis indicou que:

  • impactam menos nas mudanças climáticas que seus equivalentes em concreto
    Blocos cerâmicos: 50% menos / Telhas cerâmicas: 69% menos
  • retiram menos água do meio ambiente
    Blocos cerâmicos: 24% menos / Telhas cerâmicas: 72% menos
  • impactam menos no esgotamento de recursos naturais
    Blocos cerâmicos: 43% menos / Telhas cerâmicas: 57% menos

*O estudo comparou coberturas e paredes cerâmicas com coberturas e paredes de concreto
utilizando o método de avaliação de impacto do ciclo de vida Impact 2002+

Para a engenheira civil, mestre e doutora em Engenharia de Construção Civil e Urbana, Fernanda Belizário, apesar dos bons resultados, os processos de fabricação dos materiais também devem ser ambientalmente responsáveis.

A engenheira relembra que a alvenaria é o método construtivo mais utilizado no Brasil para vedações e, em alguns casos, também com função estrutural. Por isso, é importante que os blocos sejam fabricados da forma mais ‘ecoeficiente possível’. “Na minha opinião, a indústria cerâmica tem esse potencial de contribuir com esse curso de combate às mudanças climáticas, justamente pela possibilidade de se utilizar biomassas, resíduos agrícolas, resíduos de outras indústrias. Por exemplo, eu conheço fornos que utilizam pó de serra como combustível. Investir em fornos que sejam mais eficientes do ponto de vista energético e em combustíveis que sejam de base biológica, como as biomassas, faz com que os blocos venham a ser uma solução, nesse sentido de uma construção civil menos intensiva em carbono, uma construção de baixo carbono”, avalia.

Carlos Cruz é jornalista na Anicer.

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