Por Carlos Cruz
A sua empresa já adota iniciativas em direção à economia de baixo carbono? Esse tipo de economia visa reduzir ou eliminar os impactos provenientes da emissão de gases de efeito estufa (GEE) no planeta. Mais que o estímulo a boas práticas sustentáveis, a economia de baixo carbono também abarca questões referentes ao desenvolvimento e à geração de emprego.
Criador e CEO da consultoria Ideia Sustentável, o especialista em ESG e sustentabilidade empresarial Ricardo Voltolini considera essa abordagem um grande objetivo da humanidade. Ele explica que, no momento de pós-pandemia, a questão das mudanças climáticas é um grande eixo de preocupação global e, assim como a pandemia, o tema ‘economia de baixo carbono’ atinge a todos.
O que é a Economia de Baixo Carbono?
Existem diversas consequências negativas do excesso de emissão de GEE, como a intensificação do efeito estufa e o aquecimento global. A economia de baixo carbono chega para tentar solucionar todos esses problemas. Voltolini destaca que a Ciência do Clima considera que a humanidade está caminhando de forma acelerada para, em breve, ultrapassar o limite considerado seguro de aumento da temperatura média do planeta, que é de 1.ºC. Segundo o especialista, uma pesquisa publicada no final do ano passado mostra que a temperatura já está em 1.42ºC.
Para Ricardo, ultrapassar o limite de temperatura significa comprometer a existência humana, os recursos naturais e patrimoniais. “Então a economia de carbono nada mais é do que reorientar as empresas e governos na direção do jeito de produzir e de consumir, que seja mais respeitoso a esses limites, na medida em que esses limites ultrapassados colocam em risco a nossa própria existência”, afirma.
No ano passado, foi realizada a 26ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima, o mais importante evento do planeta sobre o tema. Ricardo relembra que, na ocasião, os países signatários do pacto global da ONU, inclusive o Brasil, assumiram o compromisso de reduzir as emissões de carbono em 45% até 2030 e neutralizar as emissões de carbono até 2050, e, especificamente no caso do Brasil, o país se comprometeu a reduzir as emissões em 50% até 2030, o que, de acordo com Voltolini, passa pela contenção do desmatamento.
Ele destaca que o desmatamento da Amazônia está em ritmo acelerado e a floresta, que é considerada um dos grandes condicionadores da temperatura global, está próxima de um ponto chamado pelos cientistas de Savanização. “A Amazônia, não tendo mais o poder de capturar carbono, que é um poder grande que ela tem, isso altera, afeta o equilíbrio da temperatura global”, reitera.
Economia de Baixo Carbono e as empresas
O evento que mobilizou os países em direção ao compromisso com o meio ambiente também deixa seus impactos positivos para as organizações. Voltolini afirma que o esforço exigido para empresas e governos é o de descarbonização, o que significa retirar o carbono das operações. “No final do ano passado, os países assumiram esses compromissos e, na medida em que os países assumem estes compromissos, as empresas também têm que assumir compromissos no mínimo compatíveis”, explica.
Para isso, as organizações também precisaram se adequar às metas firmadas na COP 26 e adotar novas iniciativas ou mudanças. Segundo o especialista, as empresas têm que mudar os processos de produção, investir em tecnologia limpa e substituir fontes de energias fósseis por renováveis. “Tem que atuar na proteção de biodiversidade, tem que investir em tecnologias que melhorem a exploração dos recursos naturais, tem que trabalhar sistemas de reuso de água, porque a água é um recurso escasso, tem que trabalhar, por exemplo, exigindo dos seus fornecedores que eles também tenham compromissos orientados para questão de baixa renda”, completa.
Geração que impulsiona mudança
As discussões sobre as mudanças climáticas e o meio ambiente são cada vez mais recorrentes entre governos e empresas, e as organizações que não se envolvem com essas iniciativas podem ficar para trás. Mas é preciso entender o porquê disso. Voltolini associa esse cenário à ascensão da geração de millennials ao poder. Também conhecidos como geração Y, os millennials são os nascidos no início da década de 1980 até o final do século.
Ele explica que a chegada dessas pessoas ao poder das empresas tem levado à ascensão do conceito de ESG, que consiste na avaliação das empresas ser pautada pela forma como estão endereçando seus desafios ambientais, sociais e de governança. “Estamos falando aqui de um desafio que é o da mudança do clima, ambiental, que, como eu falei, implica por parte das empresas uma série de mudanças que o ESG está, de certo modo, acelerando. Então, o ESG nada mais é do que o investidor, o dono do dinheiro usar, como formas de ter empresas melhores, uma avaliação mais rigorosa de como elas estão enfrentando os seus desafios ambientais, sociais e de governança”, explica o especialista.
As empresas brasileiras
Há cerca de 15 anos, as empresas brasileiras já vêm trabalhando para serem menos intensivas em emissão de carbono, muito motivadas pelo mercado e pela necessidade de se construir um novo tipo de economia. “A novidade agora é que, com a ascensão do ESG, as empresas estão acelerando esses processos. Na COP 26, no ano passado, muitas empresas brasileiras participaram ativamente, foram levar suas experiências e mostrar o que elas estão fazendo. Governos, que a ONU chama de subnacionais, estados e cidades, foram também para a COP mostrar como estão projetando o futuro”, diz o fundador da Ideia Sustentável.
Apesar desse movimento, as mudanças dentro das operações não são simples, já que demandam das empresas mais investimentos e, muitas vezes, as organizações precisam alterar a forma como concebem um determinado negócio. Ainda assim, o especialista avalia que há uma conscientização cada vez mais frequente da importância dessas mudanças. “Não adianta pensar no futuro e não pensar em como eu, empresa, posso assumir o meu compromisso de descarbonizar minhas operações a partir de agora, porque não adianta esperar o futuro acontecer, o problema se instalar, para depois lamentar. A gente tem que fazer aquilo que está ao nosso alcance, mudar o processo de produção, investir em novos insumos, investir em tecnologias” afirma.
No Brasil, já existe um ecossistema de startups que nascem como soluções às questões de sustentabilidade. De acordo com Voltolini, daqui a um tempo essas startups valerão muito dinheiro no mercado, por conta das soluções que trazem para problemas relacionados aos resíduos, gestão da água e do solo, proteção da biodiversidade e substituição de energias fósseis por renováveis. “Acho que isso hoje está muito mais claro para as empresas e para os governos, sobre a urgência deste assunto. Há 15 anos, havia uma preocupação, mas era ligeira. ‘Olha os cientistas do clima estão dizendo’, mas falavam-se em 2050, 2100, parecia tudo muito distante. O que está acontecendo é que os cientistas do clima têm nos alertado todo ano do fato que a gente, ao invés de reduzir emissões, segue aumentando, e esse curso obviamente não vai ser bom para nenhum de nós, nem para a empresa, nem para as pessoas, nem para o planeta”, conclui.
COP 27
Nos dias 6 a 18 de novembro, acontece em Sharm El Sheikh, no Egito, a 27ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas de 2022 (COP 27). O encontro é mais uma das importantes reuniões globais que discutem as ações climáticas, mas agora, com os compromissos já assumidos, o cenário é diferente. “A partir do ano passado, em que foram firmados compromissos com metas, cada COP vai ser um momento para fazer uma autocrítica e uma crítica sobre se estamos atuando na direção certa para alcançar essas metas”, considera Voltolini.
Para o profissional, as COPS serão encontros onde empresas, governos e organizações da sociedade civil poderão apresentar soluções e mostrar o destino dos desafios que levarão ao cumprimento dessas metas. “Estou vendo já um movimento importante de empresas brasileiras que vão estar na COP 27, por exemplo, empresas de mineração, empresas de energia, empresas de bens de consumo, empresas de motores, que vão à COP 27 para apresentar quais são as medidas que estão tomando, mudança de processo, de produtos, de negócios para serem cada vez menos intensivas em emissões de carbono”, afirma.
A Amazônia, não tendo mais o poder de capturar carbono, que é um poder grande que ela tem, isso altera, afeta o equilíbrio da temperatura global.
Os representantes das cidades e estados também não deixarão de discutir as políticas públicas necessárias para reduzir ou zerar as emissões de GEE. Cada vez mais, essa esfera tem feito parte da discussão. “Então não tem só a discussão das empresas, tem também a discussão das cidades, as cidades precisam ser mais sustentáveis também, precisa emitir menos energia. Um exemplo importante, que é uma discussão que envolve empresa privada fabricante de veículos, empresas que atendem todo o setor automotivo e governos, é a eletrificação das frotas, por exemplo. Isso é uma tendência global hoje de que os ônibus sejam cada vez mais elétricos e que não queimem diesel, ou seja, movidos a energia limpa. Então, já tem experiências até de ônibus pelo mundo movidos a hidrogênio”, reitera Ricardo Voltolini.
O Brasil, que assumiu um compromisso ainda maior, de reduzir em até 50% até 2030, tem um papel essencial na discussão sobre ações climáticas. Voltolini reitera sobre a importância de empresas e governos brasileiros participarem da Conferência para se conectarem com quem está fazendo a diferença no mundo, aprenderem com a experiência e ensinarem sua própria experiência. “Então, do ponto de vista político, se fortalece a ideia defendida pela orla de que este deve ser um grande esforço global, de empresas, governos e cidadãos, sociedades”, explica. De acordo com o especialista, o país é considerado criativo nas soluções para os problemas relacionados à sustentabilidade. “Empresas brasileiras que têm tecnologias que sirvam a essa grande missão de retirar carbonos das operações vão também apresentar essas tecnologias, render essas tecnologias, discutir os resultados das suas tecnologias”, diz.
Ele explica que o encontro será importante para intensificar a discussão sobre as metas e fazer uma crítica e uma autocrítica. Além disso, a COP também é considerada pelo CEO da Ideia Sustentável um grande evento de aprendizagem e network para todos que trabalham sob a perspectiva do baixo carbono. “Hoje o mundo caminha nessa direção, porque, na verdade, a questão da economia de baixo carbono não é só uma questão de empresa, ela é uma questão civilizatória, ela tem a ver com o modo como nós queremos pensar a nossa existência, o nosso jeito de viver neste planeta nos próximos anos”, conclui.
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