Hoje é:18 de setembro de 2024

Projeto do IPT avalia produção de hidrogênio de baixo carbono

Projeto multidisciplinar do IPT avalia quatro rotas consideradas como promissoras para a produção de hidrogênio

Por Manu Souza com informações da ascom IPT

Pesquisadores e técnicos de cinco laboratórios e núcleos do Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT) estão envolvidos em um projeto multidisciplinar para avaliar quatro rotas consideradas como promissoras para a produção do hidrogênio de baixo carbono.

Baseadas em processos de diferentes naturezas tecnológicas, as rotas foram selecionadas para o projeto. A primeira delas é a rota biotecnológica que visa a obtenção de hidrogênio a partir da fermentação da vinhaça, que corresponde a um dos principais subprodutos da produção de etanol.

A segunda rota é a desginada “RSU- resíduos sólidos urbanos” que se baseia na geração de hidrogênio pela reação de reforma à seco do biogás produzido a partir da fração orgânica de resíduos sólidos urbanos (FORSU), utilizando a planta de biodigestão localizada no município de Bertioga (SP), que foi criada no âmbito do projeto IPT RSU Energia – ‘Um Programa IPT de Apoio às Prefeituras nas Decisões Relativas a Resíduos Sólidos Urbanos’.

A terceira rota estudada é a termosolar, que se propõe ao estudo da geração de hidrogênio por ciclos termoquímicos utilizando a energia solar como fonte de calor e substâncias carreadoras de energia, como óxidos metálicos, que permitem estagiar a reação dissociação da molécula de água em menores temperaturas. A quarta e última rota estudada é a eletrolítica, que consiste na obtenção de hidrogênio a partir da eletrólise da água utilizando a energia elétrica proveniente de plantas fotovoltaicas, sendo esta a de maior prontidão tecnológica.

“O processo de produção de hidrogênio a partir dos resíduos sólidos urbanos tem potencial para endereçar os problemas de aterros e lixões, pois parte dos gases do efeito estufa produzidos são diretamente emitidos na atmosfera, como o metano e o dióxido de carbono, e podem ser convertidos em fontes nobres e diretas de energia. São várias as rotas pesquisadas hoje no Brasil e cada uma pode beneficiar diferentes setores da indústria e da sociedade, mas esta é uma rota importante visto que ataca um problema (aterros e resíduos urbanos) e uma solução (hidrogênio e biocombustíveis) de maneira sinérgica”, afirma o diretor da Unidade Energia do IPT, João Carlos Sávio Cordeiro.

A Revista da Anicer conversou um pouco mais com João Cordeiro sobre as novas fontes de energia e seu impacto nas indústrias brasileiras. Confira!

Qual a estratégia do IPT para atuar no mercado de produção do hidrogênio de baixo carbono?

O IPT busca estreita relação com a indústria e o governo, para entender suas demandas atuais e de futuro. Fazemos isto através da intensa busca por trabalho em rede, com a academia e outras Instituições de ciência e tecnologia (ICTs) do Brasil e do exterior também. Criar fóruns de discussão, fomentar encontros entre líderes das indústrias, apoiar eventos, ir em busca dos futuros parceiros, discutir internamente nossa estratégia, fazem parte das nossas ações. Como exemplo fizemos parte, como parceiro institucional, de programas de aceleração de startups, promovemos encontros com nossos parceiros da iniciativa IPTOpen – (parte do IPT, um dos maiores centros de pesquisa e tecnologia do país) -, para tratar de temas relacionados à temática de energia, apoiamos eventos sobre H2 de baixo carbono com a Prefeitura de Piracicaba e também com a subsecretaria de Energia e Mineração do Estado de São Paulo, além de participar de vários eventos da área. O IPT também está materializando um Laboratório de Hidrogênio que irá apoiar o desenvolvimento da indústria que será formada para atender a esta nova demanda mundial.

Em sua opinião, quais os principais desafios para a consolidação do mercado de hidrogênio verde?

Custo de H2 produzido e mão de obra especializada para operar os sistemas de produção, armazenamento, transporte, disponibilização e uso de H2, além da regulação do mercado.

Como a indústria poderá se beneficiar com o hidrogênio verde?

Pela substituição gradativa de combustíveis fósseis pelo H2. Isto promoverá a redução da pegada de carbono de processos e produtos, tornando-os mais competitivos no futuro. Outro ponto são os combustíveis sustentáveis, como o SAF (Combustível Sustentável de Aviação) e outros combustíveis para o transporte marítimo e de cargas. Não podemos deixar de lado a indústria de fertilizantes e outros produtos químicos, que poderão ser fabricados com este H2. Grande parte da energia consumida pela indústria é utilizada em processos térmicos, o H2 também será usado aqui, em combustão industrial. Para isto é importante a regulamentação do mercado de créditos de carbono, e isto irá acontecer, então é prudente já se preparar.

Qual será o peso dessas novas fontes na matriz energética brasileira no futuro?

O Brasil possui uma matriz bastante limpa com o etanol, hidroeletricidade, e, mais recentemente eólica e solar. O Hidrogênio terá seu impacto, mas diminuir a pegada de carbono vai além disto, será vital para promover a competitividade da indústria nacional frente ao mercado internacional. Precisaremos baixar a pegada em processos para ter produtos competitivos e uma indústria alinhada com os desafios deste século. O H2 é crucial na construção deste futuro. O H2 também será um produto de exportação importante, já que ele é considerado estratégico para as grandes economias mundiais, para resolver uma crise energética que está associada a uma crise climática.

Manu Souza é gestora de comunicação e editora da Revista da Anicer.

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