Por CNI – Indústria Verde | Foto: Dênio Simões/Agência Brasília, Sergio Alberto/Assessoria Rollemberg
No comando da Secretaria de Economia Verde, Descarbonização e Bioindústria do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC), o ex-governador do Distrito Federal, Rodrigo Rollemberg, tem se desdobrado para fazer prevalecer o conceito de sustentabilidade na tomada de decisões do governo, sob o slogan da neoindustrialização.
Ele vê o momento como crucial para o Brasil se adaptar às demandas internacionais, como, por exemplo, às restrições da União Europeia para produtos importados e investir no mercado interno. Confira a entrevista:
INDÚSTRIA VERDE – Por que a regulamentação do mercado de carbono é importante para o país?
RODRIGO ROLLEMBERG – Segundo estudos da WECarbon e da Câmara de Comércio Internacional, o mercado de carbono no Brasil pode atrair até 120 bilhões de dólares até 2030. O Brasil tem uma oportunidade de ouro. Nós já temos uma matriz energética limpa em relação ao resto do mundo com a capacidade de expansão muito grande.
Sustentar o desenvolvimento industrial a partir dessa base energética limpa vai permitir a consolidação de uma indústria de baixo carbono no país, com uma produção extremamente competitiva no cenário internacional. Precisamos aproveitar a oportunidade que esse momento histórico nos oferece.
IV – O senhor tem falado muito sobre a necessidade de o Brasil se adequar às exigências internacionais. Como o senhor vê a posição que o Brasil está agora em relação ao mercado internacional?
RR – Eu acho que o Brasil tem uma excelente oportunidade de se inserir de forma competitiva no cenário internacional, assumindo a liderança em uma economia de baixo carbono, em uma economia verde. Pontuo três razões que o diferenciam bastante. Nós temos aqui a maior biodiversidade do planeta, temos uma grande disponibilidade de biomassa e temos uma matriz energética limpa e em expansão. E isso dá condições de competitividade muito grande ao País.
IV – Como o senhor vê a indústria nesse contexto?
RR – A indústria é fundamental porque nós precisamos adensar as cadeias produtivas, gerar empregos qualificados e ampliar a nossa pauta de exportações com produtos de maior valor agregado. Então, isso inclui todo o conhecimento da nossa bioeconomia, por exemplo, que vai desde a tecnologia na ponta – que é a tecnologia que vai favorecer o pescador, que faz manejo sustentável do pirarucu, que retira o açaí, que retira a castanha – até as tecnologias de ponta. As tecnologias que estão na fronteira do conhecimento, que a partir de projetos bastante sofisticados como fermentação de alta precisão, vão produzir bioinsumos, biodefensivos, bioinoculantes, bioplásticos, enfim, bioprodutos de uma infinidade de formas.
Por outro lado, você sustentar um processo de neoindustrialização a partir de uma base energética renovável nos traz diferenciais competitivos muito grandes e numa variedade ampla de rotas tecnológicas. Aqui a gente pode produzir hidrogênio por meio do biogás, do etanol e da eletrólise, a partir do hidrogênio verde, utilizando as fontes eólica e solar.
Nós temos um potencial muito grande de produção de biogás a partir dos aterros sanitários, que pode ser insumo da produção de biofertilizantes nitrogenados e de hidrogênio. Enfim, o Brasil precisa aproveitar as oportunidades que essas rotas tecnológicas oferecem. Nós estamos trabalhando, no Congresso Nacional, a proposta do BNDES [Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social] de financiar a inovação e a digitalização com as taxas corrigidas pela TR, o que vai deve impulsionar o ecossistema de inovação no Brasil.
IV – Neste contexto, qual é o papel do governo? Muitos representantes da indústria falam que o setor precisa de estímulo, de incentivo para desenvolver a tecnologia local, que muito do material ainda é importado.
RR – O papel do governo é garantir um ambiente que estimule a inovação. Em primeiro lugar, fazendo a regulamentação. A posição do governo é fundamental para a regulamentação do mercado de carbono no Congresso Nacional. Como vai ser fundamental para a regulamentação das eólicas offshore. São bilhões de investimentos que estão esperando apenas a regulamentação. Grandes grupos econômicos já solicitaram licença ao Ibama [Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis] para iniciar os estudos de licenciamento que permitirão a implantação de grandes investimentos em eólicas offshore. Aguardam somente a regulamentação.
Agora, o crédito também é importante. Daí a importância de baixar os juros e ter instrumentos, como a Finep [Financiadora de Estudos e Projetos] e o BNDES, com condições diferenciadas de financiamento para empreendimentos que tenham alto conteúdo de inovação. Isso pode fazer uma grande diferença, principalmente, para o processo de neoindustrialização do Brasil.
Nós não queremos produzir hidrogênio verde apenas como uma nova commodity. A gente quer produzir hidrogênio verde para atrair a cadeia de suprimentos, as indústrias energointensivas que precisam produzir com a baixa pegada de carbono, tornando-as mais competitivas no cenário internacional e, com isso, permitindo um movimento de industrialização de áreas que não experimentaram esse movimento até hoje, especialmente o Nordeste brasileiro e uma nova industrialização em regiões do Sul do país, que serão muito favorecidas pelas eólicas offshore.
IV – O senhor foi eleito presidente do Conselho Administrativo do Centro de Bionegócios da Amazônia. Qual será a sua missão?
RR – Presidi o Conselho de Administração do CBA, que agora passou a ser um centro de bionegócios da Amazônia, criado há 20 anos como um centro de biotecnologia. Na época, tinha uma estrutura muito grande, 27 laboratórios, alojamento para cientistas, centro de produção, planta industrial, mas por não ter uma personalidade jurídica apropriada, não teve capacidade de cumprir a sua missão.
Recentemente, o presidente Lula qualificou a organização social que vai gerir o centro de bionegócios da Amazônia. A determinação do vice-presidente e ministro Geraldo Alckmin é que ele se torne um centro de negócios, que a gente possa aproveitar pesquisas já desenvolvidas nas universidades, no Instituto de Pesquisa da Amazônia, no Instituto Federal, em produtos e negócios que tragam riqueza para a Amazônia e para o Brasil, assim como benefícios para as comunidades que moram naquele estado.
IV – Como o senhor avalia a realização da COP-30 em Belém?
RR – Eu vejo como uma grande oportunidade para o Brasil aprovar mecanismos internacionais reconhecidos globalmente de valorização da floresta em pé. Nesse sentido, o Brasil já iniciou negociações com a Indonésia e Congo, que são países detentores de florestas tropicais mega diversas, com o objetivo de criar instrumentos que valorizem a floresta em pé e gerem renda para os povos que a preservam. Eu sempre digo que se a floresta derrubada ou queimada traz um prejuízo global, e sua preservação, um benefício global.
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