Hoje é:19 de setembro de 2024

Tradicional e moderna

Bonita e popular, as telhas de cerâmica vermelha evoluíram em sua produção e hoje agregam qualidade em meio a uma fabricação de alto nível

Por Juliana Meneses | Imagens: Anicer e divulgação

As telhas de cerâmica vermelha são as queridinhas do Brasil, utilizadas em cerca de 90% dos telhados do país, por sua durabilidade e beleza, já sofreram uma série de modificações em seus processos de fabricação e a evolução de sua produção no decorrer dos tempos resultou em um produto com alto grau de confiabilidade e eficiência.

Este material tão antigo e tradicional é o favorito dos brasileiros devido às suas propriedades únicas, como seu alto isolamento térmico e acústico, dois fatores essenciais para as condições de salubridade e conforto de uma residência.

Seu processo de fabricação utiliza matéria-prima 100% natural, a argila, e nenhum componente agressivo ao meio ambiente. Para converter a matéria-prima no produto final utilizam-se os quatro elementos da natureza: terra – argila; água – misturada à argila para ser moldada, ar – para alimentar o fogo e secar as peças; e fogo – para aumentar sua resistência.

Com fábricas espalhadas por todo o território nacional, as indústrias de cerâmica vermelha se preocupam com a qualidade do produto oferecido para seus clientes, garantindo qualidade e segurança.

Evolução do processo

Já na idade da pedra a argila era utilizada para que por meio de exposição a altas temperaturas, pudesse resultar em objetos utilitários, dando surgimento a cerâmica. Mas foi em Roma que se começou a utilizar esse material para a cobertura de casas. Em seguida, outros povos percebendo a eficácia das coberturas feitas de cerâmica também realizaram o processo de cozimento da argila, de acordo com historiadores, os assírios já conheciam a utilização desse material, assim como os chiprianos, sendo assim não se pode assegurar ao certo a real origem das telhas.

Com o passar do tempo, as técnicas de cobertura passaram por uma série de modernização e foi a telha romana que ganhou espaço na Europa. Por volta de 1841, na França, os irmãos Gilardon d’Altkirche foram os primeiros a fabricar telhas de encaixe de modo industrial, onde as telhas possuíam encaixes perfeitos e resultavam em telhados mais uniformes, o que alavancou ainda mais a utilização em larga escala.

Processos de Produção

As telhas de cerâmica vermelha passaram ao longo do tempo por diversos aprimoramentos em suas etapas de produção, o refinamento no processo produtivo deu lugar ao produto de qualidade e durabilidade que se vê hoje no mercado.

Dentre as etapas de produção estão:

  • Preparação da matéria-prima
  • Preparação da massa
  • Formação das peças (colagem ou fundição, prensagem, extrusão)
  • Tratamento térmico (secagem e queima)
  • Acabamento
  • Esmaltação e decoração

A engenheira de produção da Cerâmica Livramento – localizada no Município de Timon, no Maranhão -, Marina Cortez, explica como ocorrem as etapas de produção na empresa, começando com a caracterização das argilas, em seguida preparação da matéria-prima. “Todo o processo industrial inicia com a cuidadosa caracterização das argilas. Esse trabalho é executado pelo pessoal do nosso laboratório. Conforme o percentual de resíduos, são reguladas, individualmente, as velocidades dos alimentadores. Na nossa fábrica, a preparação da matéria-prima é feita através da moagem das argilas previamente misturadas. Utilizamos um moinho pendular, de grande produção, que nos proporciona obter uma argila preparada de excelente qualidade. A boa distribuição da granulometria na massa e a umidade homogênea, facilita o controle dos processos nas etapas seguintes. Após a argila ser moída e umedecida, ela poderá demorar até 48 horas no estoque de material tratado, melhorando a homogeneidade da umidade, antes de ser utilizada na produção. Na etapa da produção, é adicionada mais água à argila, quando ela passa pelo segundo misturador e pela extrusora, para em seguida chegar às prensas, onde ganha a forma dos modelos que produzimos (Romana, Portuguesa e Americana). Após prensadas, as telhas são automaticamente colocadas nas vagonetas, pelos robôs e vão para o secador”. A engenheira explica que em seguida é feita a secagem do material, que segue para o pré-forno e forno.

Evolução nos processos produtivos

O gerente comercial da Barrobello Blocos e Telhas Cerâmicas – localizada no município de Santa Cruz da Conceição, em São Paulo -, André Fantinato, pontua os diferenciais da evolução do processo de produção. “Tecnologia e automações, permitindo maior produtividade, menor custo, maior qualidade e padronização nos materiais”.

Para Marina, o sistema de produção da cadeia produtiva de telhas passou por diversas evoluções importantes. “As maiores evoluções ocorridas recentemente no processo de produção de telhas cerâmicas, foram as seguintes: projetos das instalações (layout, equipamentos, automação etc.) elaborados por especialistas em cada etapa da produção. Forno Túnel com movimentação e controle de temperatura totalmente automáticos. Secador Contínuo, com ventiladores controlados por inversores de frequência e controle de temperatura e umidade. Sistemas automáticos de movimentação de produtos, vagonetas e vagões, com o uso intensivo de sensores, inversores e CLP’s. Robôs para executar com rapidez e precisão as tarefas repetitivas de carga e descarga de vagonetas. Evolução no nível de instrução dos colaboradores para atender às novas demandas da indústria. Maior disponibilidade de bons consultores com conhecimento e experiência. Maior utilização das redes sociais e aplicativos de mensagens em grupo para auxiliar na gestão das equipes e evolução no comportamento dos industriais do setor que possuem a correta perspectiva de como modernizar suas fábricas”.

Avanços Normativos

Fantinato indica a importância da normatização e da padronização das telhas cerâmicas para o setor. “A normatização já é bem conhecida e seguida, enxergamos tendência de maior rigor nos produtos finais ao longo do tempo, visando ainda maior qualidade. Já a padronização tem avançado em projetos entre fabricantes, fornecedores, entidades e deve ocorrer em algum momento, além da padronização dos modelos tradicionais, inovação e diferenciação em demais modelos também é interessante para o setor”.

PSQ de Telhas

A Anicer é responsável pela manutenção do PSQ de Telhas, programa de caráter voluntário e de abrangência nacional que é responsável por combater a não conformidade às normas técnicas na fabricação, importação e distribuição de telhas cerâmicas. O programa contribui para que haja um equilíbrio competitivo no setor, de modo evitar práticas inadequadas.

O objetivo principal do PSQ é avaliar e monitorar a qualidade da produção dos produtos cerâmicos, para que eles atendam as premissas e portarias do Programa Brasileiro da Qualidade e Produtividade do Habitat (PBQP-H), do Ministério do Desenvolvimento Regional (MDR). As Empresas qualificadas pelo PSQ podem garantir aos seus clientes produtos da mais alta qualidade, o que traz credibilidade e consequentemente agrada a clientela.

NBR 15310:2009

Pensando em manter uma normatização adequada para as telhas cerâmicas, a ABNT desenvolveu a NBR 15310:2009, que estabelece os requisitos dimensionais, físicos e mecânicos exigíveis para as telhas cerâmicas, para a execução de telhados de edificações, bem como estabelece seus métodos de ensaio.

Projeto da Telha Padrão

Coordenado pela Anicer, um grupo de trabalho formado por ceramistas, técnicos e fabricantes de moldes vêm discutindo o desenvolvimento de modelos padrão paras as telhas cerâmicas, nos modelos Americana, Romana e Portuguesa.

Para alcançar esse objetivo, o grupo está estudando as geometrias com melhor comportamento, em amplo aspecto – desempenho, mercado e produção. Até o momento, já foram realizadas treze baterias de ensaios, tanto da ABNT NBR 15.575 – Norma de Desempenho -, como também da ABNT NBR 15.310 – que é a norma prescritiva do produto.

É importante destacar que os modelos ainda estão em fase de estudo, após a definição da telha padrão pelo grupo de trabalho, o estudo ainda deverá ser submetido à reunião da Comissão de Estudos de Telhas Cerâmicas (ABNT/CE-179 000.002), para aprovação em plenária. Depois, irá passar por consulta nacional e só então a norma passará a vigorar. Além disso, a proposta é que as geometrias atuais fabricadas por cada cerâmica possam continuar sendo produzidas normalmente, com seus devidos projetos. No entanto, só poderão ser chamadas de Telha Padrão as geometrias prescritas em norma.

O projeto da Telha Padrão tem o objetivo de ser um acelerador no mercado de telhas do país, auxiliando na padronização dos produtos e levando ao consumidor o benefício de poder adquirir telhas de diversas marcas sem se preocupar se o tamanho é diferente. Todas as cerâmicas que tiverem interesse em colaborar com os estudos podem participar do projeto.

Destaques da telha cerâmica frente aos concorrentes

Marina afirma que as telhas cerâmicas possuem características que as destacam frente aos concorrentes. “As maiores vantagens das telhas cerâmicas sobre os produtos concorrentes são exatamente as próprias características que o material apresenta. Isolamento térmico, isolamento acústico, baixa absorção de água, durabilidade, facilidade de aplicação e a beleza incontestável dos tradicionais telhados aparentes com as telhas cerâmicas”.

Já Fantinato acredita que o produto tem uma série de atributos que o destaca. “Excelente custo-benefício, conforto térmico indiscutível, leveza com resistência, fácil lavabilidade, fácil montagem e ampliação, estética clássica, além da maior presença em pontos de venda em todo o país, facilitando a obra/reforma encontrar os produtos com facilidade e boa logística”.

Fantinato explica ainda que na Barrobelo existe uma linha de telhas de qualidade especial, a Realeza Gold. “Atualmente, contamos com os modelos Romana e Portuguesa na linha Realeza Gold, ambos com rendimento de 15 peças/m2, contamos com diferenciais de modelos esteticamente bem aceitos, bom rendimento, acabamento liso, 100% resinada garantindo telhado na cor cerâmica por muito mais tempo”.

Lenda urbana

A expressão “feito nas coxas” é popularmente justificada com a história de que na época da escravidão os escravos utilizavam as coxas para moldar as telhas de cerâmica e que, por cada pessoa ter uma coxa de tamanho diferente, o produto ficava de má qualidade, ou seja, mal feito, hoje em dia, a expressão inclusive vem sendo desincentivada por ser associada ao racismo e a atividades escravocratas, algo extremamente pejorativo.

Foi pensando se esta história seria ou não factual que o Instituto do Patrimônio Histórico Nacional divulgou o ensaio de autoria do arquiteto José La Pastina Filho, “Eram as telhas feitas nas coxas das escravas?”, onde ele afirma que a teoria seria fantasiosa. De acordo com o arquiteto, nunca se encontrou na arquitetura colonial brasileira nenhuma construção onde as telhas tivessem formatos e tamanhos diferentes entre si, então foi realizado um cálculo onde com as medidas de um homem de 1,80m de altura, só permitiriam a fabricação de telhas de 36 cm de comprimento, estabelecendo uma regra de três para verificar a fabricação de telha de 77 cm, precisariam então de um homem de 3,95m de altura. No estudo, o arquiteto explica que provavelmente eram usados moldes de madeira.

Juliana Meneses é jornalista na Anicer.

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