Hoje é:19 de setembro de 2024

Um divã chamado stories

Por Gabriel Medeiros

O conteúdo deste artigo não necessariamente reflete a opinião da Anicer e é de responsabilidade de seu autor.

Esse é mais um artigo que não deve ser lido pelo viés errado. Se o seu interesse são os desdobramentos psicológicos, talvez esse artigo não caiba para você.

Vou expor, de tudo que entendo e vi, dentro da comunicação, o quanto você, usuário de rede social, deve ficar atento sobre a sua própria exposição.

A pandemia criou um ócio mundial. São 20 meses fazendo menos coisas do que fazíamos de 2019 para trás. Então, tudo ficou chato. Aquele cara que posta muito ou aquela menina com cara blasé – criou-se um padrão de percepção de “eu não tenho mais saco pra Instagram”.

Talvez até porque na vida real você não consiga reproduzir mais o que conseguia: menos viagens, menos encontros, menos barzinhos. Essa repetição de padrão de vida online, vai te perturbando e tirando a sua paciência.

Pensa: quantas pessoas você já silenciou nos stories esse ano? Quantas pessoas você deixou de seguir na pandemia? É um sinal! Você está de saco cheio da vida alheia online, desse BBB chato em formato de rede social.

E fora do stories, tu tá bem?

Dito isto, volto ao assunto do divã nos stories. Nessa panela de pressão, sobrou uma válvula de escape perfeita para o usuário ansioso. Postar suas mazelas no stories, como fuga e desabafo diário. Veja bem, aqui é o ponto chave do texto: ninguém vai te ajudar por direct. Pelo menos do jeito que você provavelmente precisa, não! O story dura 14 segundos, sabe quem espera isso? Ninguém! As pessoas passam voando pelos stories, dedilham freneticamente pulando para o próximo, sem a menor atenção, ou pelo menos com a devida atenção que o seu problema merece.

O pior canal para extravasar seus problemas é por ali. Apesar da facilidade de abrir um app e com três cliques subir um story, o que está sendo dito ali, o conteúdo em si, tá sendo registrado e sendo absorvido dia a dia na percepção das pessoas. Você pode estar criando uma personalidade digital de uma pessoa problemática, sem nenhuma possibilidade de solução por parte de quem te lê.

Tudo o que você posta pode virar um print

Reclamar é um direito seu. Marcar uma empresa que te prejudicou, cobrar pelos seus direitos de um produto que não te atendeu conforme prometeu, justo!

Mas quando você transpassa esse limite e começa a se expor pessoalmente, seja por relacionamento passado ou por algo que te incomoda no trabalho, você começa a “passar recibo” de situações que mais à frente podem ser usadas contra você mesmo.

Um ex-marido ou ex-esposa que falhou como parceiro, um ex-chefe autoritário, nada disso é assunto para se colocar em pauta por ali. Pensa que isso pode virar um print, que serve para documentar e provar que você realmente disse aquilo.

Então, respira 10 vezes antes de expor cenários de relacionamento, família e profissional pelo Instagram. Antes de fazer, o novo normal já te permite sentar num barzinho com seu melhor amigo para desabafar, fazer uma consulta online com o seu terapeuta ou praticar 20 minutos de meditação na sala de yoga mais perto de você.

Publicitário, estrategista de marketing, ex-diretor de comunicação do Governo do Rio de Janeiro, e sócio da agência Bartô publicidade, especializada em conteúdo e digital.

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