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Verão à vista, calor a prazo

Por Carlos Cruz | Imagem do Mapa: ABNT (CC BY 4.0)

“Vem chegando o verão, o calor no coração…”. Os versos da canção Uma noite e meia, de Renato Ribeiro Nazareth e eternizada na voz de Marina Lima, lembram que a estação mais quente do ano já está prestes a chegar por aqui e, ao que tudo indica, virá com todo o seu esplendor. De acordo com a Administração Nacional de Oceanos e Atmosfera (NOAA), a agência climática dos Estados Unidos, o verão de 2022 vai ser de La Niña.

O fenômeno climático responsável por invernos rigorosos e grandes secas em todo o mundo já havia dado as caras em 2020. Após um período de relativo equilíbrio atmosférico desde o início deste ano, o La Niña volta a se intensificar nas próximas semanas e só vai perder força na próxima primavera. Com isso, o que se espera é um 2022 com temperaturas extremas e grandes alterações no regime de chuvas e na velocidade dos ventos.

Diante das previsões, primar pelo seu conforto térmico e o de sua família é a melhor saída. Aliás, há tempos esse primor deixou de ser um luxo e passou a ser um requisito. Publicada em 2013, a nova versão da ABNT NBR 15.575 – Desempenho de Edificações Habitacionais, estabelece a importância do conforto, vida útil, garantia, segurança, estabilidade, desempenho acústico e térmico das construções. Trocando em miúdos, seu objetivo é assegurar que obras de imóveis residenciais atendam a um critério mínimo de qualidade e segurança.

A arquiteta Fernanda Ramos explica que a primeira versão da norma é de 2007 e que sua publicação representou uma tentativa de romper com movimentos que estavam começando a ganhar força, como, por exemplo, as paredes de concreto. “É um sistema que eleva consideravelmente a temperatura interna dos ambientes e que ainda hoje tem sido bastante usado”, lamenta. “O que vemos agora é uma norma obrigando que profissionais se profissionalizem mais para que se tornem aptos a desenvolver projetos com toda uma gama de conhecimentos acerca do comportamento em uso dos inúmeros materiais, componentes, elementos e sistemas construtivos que compõem a edificação”, conta Fernanda.

Atendendo aos desafios

Dividida em 6 partes, a NBR 15575 traz critérios objetivos de qualidade e os procedimentos necessários para determinar se os sistemas da edificação atendem aos requisitos estabelecidos. São elas:

  • Parte 1 — Requisitos Gerais: apresenta os requisitos de sistemas que não têm um capítulo exclusivo, além de definições, responsabilidades e parâmetros.
  • Parte 2 — Sistemas estruturais: estabelece aspectos estruturais que devem estar presentes em uma edificação habitacional.
  • Parte 3 — Sistemas de pisos: normatiza tanto os pisos internos quanto os externos da edificação, com informações relacionadas a coeficiente de atrito e resistência a escorregamento.
  • Parte 4 — Sistemas de vedação: trata dos desempenhos dos sistemas de vedação, o que inclui todas as paredes e suas esquadrias, considerando condições como estanqueidade ao ar e à água, contra rajadas de vento e estanqueidade para promover conforto térmico e acústico.
  • Parte 5 — Sistemas de coberturas: trata dos materiais de revestimento empregados nos telhados e outras superfícies, determinando como deve ocorrer a resistência ao calor, à chuva e à presença de chamas durante determinado período.
  • Parte 6 — Sistemas hidrossanitários: trata dos requisitos essenciais para os sistemas de água fria e de água quente, de esgoto sanitário, de ventilação e também de águas pluviais das construções.

De acordo com o arquiteto Vanderlei Lopes, atender aos requisitos é uma forma de valorizar a obra como um todo, tornando-a mais atrativa para o mercado. “O sistema é composto pelo bloco, pela argamassa de assentamento, pela argamassa de revestimento e pela mão de obra. O desempenho desse ambiente está diretamente ligado ao tipo de material usado na obra”, explica Lopes.

Por isso, ele sempre indica o uso de produtos cerâmicos nas edificações, por se tratar de um material naturalmente térmico. “Basta lembrar como se armazenava água antigamente. Qual o filtro mais eficiente para armazenar água hoje? O material cerâmico é natural”, conclui Lopes.

Fernanda acrescenta que atender aos requisitos da norma também é o caminho para evitar custos extras com adequações futuras.

Não temos uma norma de conforto térmico

Segundo a Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC), o termo “desempenho” se refere ao comportamento em uso de uma edificação e seus sistemas. Isso significa que a responsabilidade para atendimento à norma recai entre os profissionais da indústria da construção e se estende aos moradores dos imóveis, pois o desempenho poderá variar de um local para o outro e de um ocupante para o outro.

Diretora da NGI Consultoria e Desenvolvimento, a engenheira Maria Angelica Covelo Silva defende que não devemos usar o termo conforto. “No conforto, entram aspectos subjetivos, de percepção de cada usuário”, explica. Para ela, o que se tem é uma norma (ABNT NBR 15575) que define requisitos de desempenho térmico dos sistemas construtivos como as alvenarias, por exemplo, e das edificações com temperaturas de inverno e verão. Essas temperaturas deverão ser atingidas nos chamados “ambientes de permanência prolongada”, de acordo com os sistemas construtivos utilizados nas fachadas e nas coberturas em função da zona bioclimática em que se está.

Mapa Zonas bioclimáticas (ABNT, 1998).

“Temos uma outra norma que divide o Brasil em 8 zonas bioclimáticas, sendo as zonas 1 e 2 as mais frias (região Sul em média) e as zonas 7 e 8 as mais quentes (todo o nordeste, litoral, e outras)”, destaca a diretora. “As temperaturas dependerão ainda do projeto de arquitetura saber considerar uma série de outros fatores, como ventilação, cores das fachadas e das coberturas, sombreamento dos vidros etc”, conclui.

Carlos Cruz é jornalista na Anicer.

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