Por Carlos Cruz | Imagens: Anicer | Ilustração: Guilherme Figueiredo
Ano após ano, a questão das mudanças climáticas tem pautado discussões em organizações de diferentes setores e em todo o mundo. Apesar do avanço tecnológico, a ação do homem continua interferindo no clima, principalmente devido às emissões de gases de efeito estufa, que seguem aumentando em uma escala mais que preocupante. Segundo a Organização das Nações Unidas (ONU), a última década foi a mais quente já registrada.
O tema não passa despercebido e debates internacionais buscam soluções para evitar as consequências causadas pelas mudanças climáticas. Engenheira civil, mestre e doutora em Engenharia de Construção Civil e Urbana, Fernanda Belizário conta que a temperatura média do planeta está 1,1°C acima do que era antes da Revolução Industrial, período de grande desenvolvimento tecnológico que tem início na Inglaterra, na segunda metade do século XVIII. De acordo com a engenheira, uma das causas é o aumento da concentração de gases de efeito estufa na atmosfera do planeta, principalmente o dióxido de carbono (CO2).
Para que o planeta não sofra consequências catastróficas resultantes das mudanças climáticas, a temperatura média global não pode passar de 2°C. Por isso, especialistas alertam para a necessidade urgente de reduzir a zero as emissões líquidas de CO2 até o final do século. “É líquido no sentido contábil. Tudo que a gente emitir de CO2 para a atmosfera, a gente tem que ser capaz de reabsorver. É isso que está colocado no acordo de Paris, que é o acordo internacional que vários países assinaram”, explica Fernanda. Ela relembra que a meta do Brasil é ainda mais ambiciosa. O país se comprometeu a zerar as emissões até 2050.
O papel da construção civil
A construção civil é um dos setores com maior contribuição direta no aumento da temperatura do planeta. Um relatório da ONU mostra que o segmento é responsável por quase 40% das emissões de gases de efeito estufa relacionadas à energia. Segundo Fernanda, esse valor se refere, não só à construção dos edifícios, mas também à produção dos materiais e o uso das edificações ao longo de toda a sua vida útil.
Quanto mais mudanças climáticas, mais eventos climáticos extremos e mais tragédias a gente vai ter que conviver
O relatório ainda aponta que o uso de estratégias que otimizem os materiais, incluindo a reciclagem, pode reduzir as emissões do setor de 80% a 100% até 2050 em países do G7, considerados os mais industrializados do mundo, e na China. No Brasil, Fernanda pontua que o segmento emite menos que a média global. Isso porque a matriz energética brasileira é mais limpa e os edifícios não precisam ser aquecidos.
A engenheira reitera que todas as atividades que consomem combustíveis fósseis impactam o clima. “A produção de cimento, que tem o forno que consome combustível fóssil, a produção de aço também. No caso dos blocos cerâmicos, existe contribuição caso o forno seja operado com algum tipo de combustível fóssil, por exemplo, o gás natural. Aí emite CO2 e contribui de alguma forma para as mudanças climáticas”, explica.
Nesta realidade, a conscientização do setor é essencial para que esse cenário mude. Fernanda reitera que o combate às mudanças climáticas se referem principalmente à garantia da qualidade de vida à população. “Quanto mais mudanças climáticas, mais eventos climáticos extremos e mais tragédias a gente vai ter que conviver”, afirma.
A engenheira pontua algumas tendências já adotadas em diversos países e que devem chegar logo ao Brasil, como impostos sobre os combustíveis fósseis, medida que serve como uma forma de estimular o uso de tecnologias limpas. Além disso, também existem nações com mercado de carbono. “Quem emite menos do que o limite que foi atribuído a uma determinada organização, por exemplo, pode emitir crédito para que aqueles que estejam emitindo mais possam compensar suas emissões. Existem alguns países que já têm esses mercados estabelecidos, e aqui no Brasil, ano passado, em maio, foi emitido um decreto para que os setores mais intensivos em emissão elaborem os seus planos de mitigação de emissões. Este é o primeiro passo que precisa ser dado no sentido de ter um mercado regulado de carbono”, diz.
O material cerâmico
O uso de produtos cerâmicos pode ser uma solução para os que desejam construir de forma mais responsável. A Associação Nacional da Indústria Cerâmica (Anicer) e a empresa canadense Quantis realizaram, em 2012, a Avaliação do Ciclo de Vida de materiais cerâmicos, comparando-os com materiais de concreto, e os resultados evidenciaram o melhor desempenho ambiental dos produtos de argila, principalmente quando o assunto é emissão de gases de efeito estufa. De acordo com a pesquisa, a cada 1m² de parede de blocos cerâmicos, a emissão é aproximadamente 50% do metro quadrado em bloco de concreto e cerca de 34% do metro quadrado de parede de concreto moldado in loco. Uma das causas que contribuem para esse resultado é que os blocos cerâmicos são fabricados utilizando fontes de energia renovável.
Não são só os blocos que mostram números positivos. O uso de energia limpa também é responsável por garantir a eficiência das telhas de cerâmica. Segundo a ACV, 1m² de telha cerâmica impacta 69% a menos nas mudanças climáticas que seus equivalentes em telhas de concreto. Mesmo usando 3 vezes mais energia, as fontes renováveis impactam 57% menos no esgotamento de recursos não renováveis.
Apesar dos bons resultados, Fernanda reitera que os processos de fabricação dos materiais também devem ser ambientalmente responsáveis. A engenheira relembra que a alvenaria é o método construtivo mais utilizado no Brasil para vedações e, em alguns casos, também com função estrutural. Por isso, é importante que os blocos sejam fabricados da forma mais ‘ecoeficiente possível’. “Na minha opinião, a indústria cerâmica tem esse potencial de contribuir com esse curso de combate às mudanças climáticas, justamente pela possibilidade de se utilizar biomassas, resíduos agrícolas, resíduos de outras indústrias. Por exemplo, eu conheço fornos que utilizam pó de serra como combustível. Investir em fornos que sejam mais eficientes do ponto de vista energético e em combustíveis que sejam de base biológica, como as biomassas, faz com que os blocos venham a ser uma solução, nesse sentido de uma construção civil menos intensiva em carbono, uma construção de baixo carbono”, avalia.
Conhecendo o potencial que a cerâmica tem de diminuir os impactos sobre o meio ambiente, as empresas e envolvidos com o setor devem buscar se conscientizar e se informar, cada vez mais, sobre como devem utilizar da melhor forma possível seus recursos e otimizar seus processos.
A indústria cerâmica tem esse potencial de contribuir com esse curso de combate às mudanças climáticas, justamente pela possibilidade de se utilizar biomassas, resíduos agrícolas, resíduos de outras indústrias.
Eficiência termo-acústica
Uma das principais características dos produtos cerâmicos, o conforto termo-acústico é também uma de suas principais vantagens quando comparado a outros materiais. O alto desempenho acústico e as propriedades térmicas desses produtos proporcionam experiências que não se limitam apenas ao bem-estar. Além de deixar o interior dos ambientes muito mais agradável, a eficiência termo-acústica também é de extrema relevância para a economia de energia e de materiais, diminuindo, consequentemente, os custos e o impacto ao meio ambiente.
O conforto térmico dos blocos são provenientes da própria argila, matéria-prima com baixa condutibilidade térmica, o que evita que a temperatura sofra variações intensas. Todas essas propriedades são normalizadas e certificadas. A Norma de Desempenho ABNT NBR 15575:2013 especifica os critérios relacionados à capacidade térmica dos edifícios, e claro, as edificações com blocos cerâmicos atendem aos requisitos exigidos. Mais do que isso, os produtos também mostram grande potencial de contribuir para que os edifícios apresentem a eficiência térmica ideal para sua região. É importante ainda observar como ambientes com temperatura naturalmente confortáveis poupam o uso de condicionadores de ar, contribuindo para a economia de energia.
Além disso, utilizar materiais que garantam conforto acústico aos ambientes, como é o caso dos materiais de cerâmica vermelha, também torna dispensável o revestimento de paredes com outros materiais que, além de encarecer os projetos, podem ter impactos negativos na natureza.
7 vantagens da alvenaria
1
Maior conforto térmico
Paredes feitas com blocos de cerâmica vermelha proporcionam um excelente conforto térmico, diminuindo o uso de aparelhos de ar-condicionado ou aquecedores. Além de proporcionar o bem-estar dos moradores, essas qualidades refletirão diretamente no consumo de energia, aumentando a economia na hora de pagar a conta de luz.
2
Fácil manutenção e maior durabilidade
Os produtos cerâmicos não exigem manutenção constante e sua durabilidade, dentro de condições normais do ambiente, é incalculável. Como exemplo disso, basta lembrar que temos hoje, no Brasil, igrejas e prédios que datam de 1500, quando os portugueses por aqui chegaram. Na Europa, exemplo ainda melhor, é possível visitar construções que datam de 1.400. Todas construídas com tijolos de cerâmica vermelha. Quanto à manutenção? Zero!
3
Melhor isolamento acústico
Testes realizados nos laboratórios mostram que o isolamento acústico proporcionado pelos blocos de cerâmica vermelha atende a todos os requisitos da Norma de Desempenho, isolando os ruídos entre os ambientes. Principalmente quando os produtos são combinados a outros sistemas. E um maior conforto acústico significa mais tranquilidade para trabalhar, para curtir com a sua família e para dormir.
4
À prova de fogo e fumaça
Diferentemente da madeira e seus derivados e do isopor, materiais usados em processos novos para a construção de residências e prédios comerciais, o bloco cerâmico não é inflamável. Totalmente naturais, sustentáveis e seguras, as paredes feitas com alvenaria à base de cerâmica vermelha não permitem a rápida propagação das chamas em caso de incêndios, nem do calor.
5
Maior resistência à água
Se uma parede de tijolos cerâmicos está suja por algum motivo, você poderá tranquilamente realizar sua limpeza com água e sabão, sem que o bloco se dissolva pela ação da água. No entanto, o mesmo procedimento de limpeza não poderá ser realizado se as paredes forem de gesso ou compensado. A mesma resistência é observada diante de fenômenos naturais, como chuvas fortes e inundações. As paredes feitas com alvenaria de tijolos cerâmicos são infinitamente mais resistentes à água e resistem às intempéries da natureza por décadas.
6
Maior resistência a cargas
Por sua solidez, as paredes com blocos cerâmicos permitem que qualquer tipo de objeto seja devidamente pendurado, sem que isso represente algum risco estrutural ou apenas estético. Logicamente, é preciso respeitar os limites de cada objeto ou processo construtivo. A verdade é que paredes construídas com alvenaria de cerâmica vermelha e com os devidos cuidados da engenharia se mostram infinitamente mais confiáveis na hora de, por exemplo, pendurar um quadro, uma estante suspensa ou mesmo uma rede de descanso.
7
São mais sustentáveis
A Anicer encomendou a Avaliação do Ciclo de Vida dos blocos e telhas de cerâmica vermelha para entender quais momentos de sua cadeia construtiva deveriam ser repensados e reformulados. E os resultados mostraram que, durante todo o ciclo de vida dos produtos cerâmicos, que vai desde a extração de argila até a entrega do material pronto nos pontos de revenda, os produtos cerâmicos apresentaram ótimos resultados. Consomem menos água em seu processo de preparo, emitem uma menor quantidade de CO2 e podem ser misturados com outros elementos, o que reduzirá ainda mais o consumo da argila e, em muitos dos casos, potencializará ainda mais a sustentabilidade desse sistema construtivo.
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