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O grande legado

Há 6 anos à frente da Anicer, Natel de Moraes coleciona uma série de bons projetos e deixa sua marca na história da instituição

Por Carlos Cruz

O ano de 2022 marca o fim de um período importante na história da Anicer. A gestão do atual presidente, Natel de Moraes, termina no próximo mês de dezembro. Desde que assumiu a entidade até hoje, o presidente vem promovendo mudanças significativas para o setor e deixa a gestão com uma vasta coleção de experiências e bons resultados.

Quando eleito pela primeira vez para o cargo, em 2016, o ceramista, nascido em Cornélio Procópio, no Paraná, também estava à frente do Sindicato das Indústrias Cerâmicas do Estado de Mato Grosso do Sul (Sindicer/MS). Na época, os presidentes dos sindicatos eram automaticamente vice-presidente da Anicer, foi quando ele teve o primeiro contato com a diretoria da entidade.

Natel conta que no início, a experiência era ainda mais interessante, porque ele era um dos mais novos a participar da administração da Anicer. “Eu era novo e sempre as pessoas que participavam da Anicer já tinham uma bagagem maior que a minha, de idade, de experiência, já em associativismo, e eu vim novo. Eu gostei muito, porque foi um marco importante na minha vida profissional, tive muitos relacionamentos importantes”, relembra o presidente, que assumiu a Associação com cerca de 37 anos de idade.

Na primeira eleição, a diretoria comandada por Natel assumiu o triênio de 2016 a 2019. “A gente pegou num momento muito difícil. O Brasil vinha de uma reeleição da presidente Dilma, depois teve o impeachment, a gente teve que fazer várias ações de trabalho, de reorganização. Foi muito trabalho, mas foi bem legal”, afirma. Em 2018, em uma Assembleia Geral, Natel foi reeleito e novos representantes do setor assumiram os cargos na diretoria da Anicer, que deveria comandar a instituição de 2019 a 2022.

O vice-presidente da chapa e presidente, João Gomes de Andrade Neto, também está na diretoria desde a primeira eleição de Natel, em 2016, e considera que o ceramista sempre soube presidir da forma correta. “Antes de impor os desejos dele, as opiniões dele, ele escuta muito bem todos os outros, ele tem um relacionamento muito tranquilo, sereno, ele sabe conduzir os temas sem arrogância, com muita educação”, analisa João, que também compõe a diretoria da Cerâmica Salema, na Paraíba.

Mudanças com a gestão

Comandar a Anicer durante 6 anos certamente exigiu muito de Moraes, que desde o primeiro ano de seu mandato percebeu as mudanças que a associação e o setor vinham sofrendo. Uma das primeiras surpresas com a qual o ceramista se deparou foi em relação às feiras da Anicer – Expoanicer -, que antes eram benéficas para o orçamento da entidade, mas, com o tempo, passaram a não apresentar tanto retorno. “Quando eu entrei na Anicer, a gente tinha o conceito que a Anicer fazia feira. Acabou que nós tínhamos alguns atritos, entre fornecedores e a Anicer, tanto que foi criada a Anfamec nessa época, que é a Associação de Fabricantes de Máquinas, e essa nova diretoria tinha que fazer todo o meio de campo com eles, reorganizar com eles, porque havia um desgaste entre a Associação Nacional de Cerâmica e a Anfamec, então, aos poucos, isso foi trabalhado, foi reconstituído”, relembra.

A mudança encarada por Natel é considerada pelos membros da diretoria como um bom exemplo de como lidar com desafios. O 2º tesoureiro da associação, Marcelo Guimarães Tavares, reitera como o presidente soube gerir diferentes situações de crises no setor.

“Ele teve a tarefa de unir o setor, de deixar a Anicer bem, de enxugar, de realizar as mudanças que a Anicer precisava, de saber que a questão da realização de grandes feiras não seria mais possível e, com retorno financeiro, conduzir a associação em prol do mercado, de buscar manter o percentual do setor cerâmico no atual mercado, com atualização, atendendo às questões normativas que o setor precisa”, considerou Tavares.

Com o fim das feiras em seu formato inicial, as associações se adaptaram, apresentando um novo modelo que, na visão do 2º Secretário, Fernando Ibiapina, apresentou bons resultados.

“Eu achei interessante esse novo formato, a Anfamec com as máquinas e os seus equipamentos, em parceria com a Anicer, para divulgar a própria entidade, com palestras, com cursos, com treinamentos. Foi muito bom e o resultado foi interessante”, analisa Ibiapina.

O próximo evento da Anicer será o 49º Encontro Nacional da Indústria de Cerâmica Vermelha, que já vem com essa nova proposta. “Era o que nós fazíamos no passado, estamos voltando com essa nova configuração, vamos ver como será esse encontro, eu acho que vai ser um sucesso”, aposta o secretário.

Outra característica da gestão, observada pelos membros da diretoria, diz respeito ao posicionamento da cerâmica no mercado. O presidente explicou que, desde o início, esse sempre foi seu foco, e se orgulha por ter conseguido atingir esse objetivo.

O diretor de normas técnicas da Anicer, Sandro Roberto da Silveira, analisa que sua impressão é que a gestão anterior era voltada para a orientação e preparo do ceramista para que pudesse produzir mais e com qualidade, enquanto o foco de Natel sempre foi mais voltado para o mercado. “O entendimento da diretoria e do grupo é que o momento era de conquista de mercado e não de produzir mais ou ensinar o ceramista a produzir, mas sim ensiná-lo a conquistar o mercado para encaixar o seu produto”, afirma Silveira.

O diretor ainda explica a importância deste objetivo, dadas as diferenças de empresas do setor. “A grande montanha russa do setor de cerâmica é a demanda maior e menor, e como as produções acabam sendo linearmente iguais e sempre numa tendência de serem maiores, com sobra de produto no mercado, 5%, 6% de sobra de produto você tem um impacto muito grande nos preços, haja vista que nós temos um mercado muito heterogêneo e com muitas Pequenas Empresas, então é difícil você criar um conceito, uma conceituação de precificação do produto”, analisa.

Para Silveira, a gestão de Natel teve muito êxito ao trabalhar o mercado, que foi novamente conquistado pela cerâmica. Sandro considera que antes, o mercado tinha sido absorvido pelo bloco de concreto, mas agora, o bloco cerâmico voltou a conquistar seu espaço e ganhar relevância. “A minha visão é que a cerâmica era vista como uma sub empresa, uma empresa sem uma tradição tecnológica, e agora a exposição da cerâmica no mercado é diferente, a gente tem uma exposição de uma indústria que tem tecnologia, que tem qualidade, que tem compromisso com resultado”, afirma o diretor.

Projetos

Em 6 anos de mandato, são incontáveis os projetos executados pela gestão Natel. A cada ano, a Anicer surpreendia com uma nova configuração ou ideia, o que contribuiu para o posicionamento do setor. O site e a Revista da Anicer, por exemplo, passaram por algumas reformas até chegarem ao formato atual, e diversas pautas foram emplacadas na mídia nacional. A diretoria também marcou presença em inúmeros eventos espalhados pelo Brasil e executou vários projetos visando ao desenvolvimento do setor, como o, AnicerPRO, o Educ@nicer, a Convencer, o Sistema de Produtividade da Cerâmica Vermelha e o Projeto de Bloco de Fixação.

Os diferentes projetos deixam até mesmo o presidente indeciso quanto ao seu favorito. “Acho que todos os projetos que a gente fez foram de suma importância. Se me perguntarem qual que eu mais gostei, é difícil dizer, porque todos tiveram uma função. Cada projeto, cada item que a gente ia escolher, entre nós e a diretoria, foi legal, contemplavam as ações, porque a gente trabalha com muita geometria, com muita quantidade de produtos”, explica Natel.

Os membros da diretoria também reconhecem a importância de cada projeto executado, essenciais para que a Anicer chegasse onde chegou. Sandro Silveira destaca a implementação da Norma de Desempenho, iniciativa que, de acordo com o diretor, estimulou o desenvolvimento de produtos de pesquisas para atender a uma nova demanda do mercado para todo o setor da construção e a partir disso, a Anicer também atuou na linha de desenvolvimento de soluções que atendessem à norma. Ele destaca que a diretoria também atuou na unificação da Norma de Projeto, controle e execução de alvenaria estrutural. “Esta norma estava desatualizada, não era centralizada, então existia uma norma para bloco cerâmico, uma norma para bloco de concreto, uma norma para tijolo cerâmico, enfim, não era uma norma que abrigava todos os elementos. Hoje, a ‘Norma de Alvenaria Estrutural: projeto, controle e execução’ abriga todos os elementos que atendem à alvenaria estrutural, e isso foi uma grande conquista. Com isso, a gente conseguiu conquistar realmente um mercado maior”, afirma.

À frente do departamento de Marketing da Anicer desde 2020, Constantino Bueno Frollini – o Constan – também lista uma série de iniciativas que merecem destaque.

“O projeto Educ@nicer são treinamentos que começaram virtualmente, EAD, voltados para o desenvolvimento das empresas de nossos associados e hoje, estamos ampliando para presencial também”, explica. O diretor também destaca as ações adotadas no momento da pandemia. “Criamos encontros e eventos virtuais trazendo informações relevantes e debate para nossos associados e o mercado em geral”. Dentre os projetos citados por Constan, também estão os treinamentos gratuitos oferecidos aos sócios sobre a Ficha de Avaliação de Desempenho (FAD), com informações sobre normas técnicas e portarias.

Maior representatividade

Os planos executados pela gestão Natel não ficaram apenas no escopo de iniciativas internas ou no âmbito de cerâmicas e empresas. A Anicer passou a marcar presença em reuniões de todo o ramo industrial, com o fortalecimento do relacionamento da associação com outras instituições. O diretor de Relações Institucionais, Jorge Lopes, responsável por garantir o contato da Anicer com outras entidades, reconhece que os resultados desse trabalho foram muito benéficos para todos. Lopes explica que foi importante contar com o apoio do presidente, que sempre trazia novas ideias.

Foto jorge Lopes “A gente fez um trabalho de aproximação, foi fundamental isso. Aproximação da Anicer com as outras entidades, hoje a gente tem com a CBIC um canal aberto, e com a própria CNI, com o presidente Robson Andrade. Eu fui diretor da CNI, fui presidente da federação, em uma parte. Ajuda muito esse relacionamento que eu tenho com a CNI. E foi uma abertura. Hoje, a Anicer é conhecida na CNI, é conhecida na CBIC, conhecida também nas outras entidades, que são ligadas a nós”, aponta.

Lopes também cita o Fórum Nacional da Indústria, como uma importante relação construída. “Sempre eu participo quando o Natel não pode participar. Hoje, a Anicer levanta a voz lá. É muito importante, porque lá é só o peso pesado da indústria brasileira, mas a gente tem presença”, conta orgulhoso. Alcançar esse objetivo exigiu muito, mas, ainda assim, ele entende o quanto o esforço foi necessário para fortalecer o setor da cerâmica vermelha em vários âmbitos e mostrar a importância dos materiais no segmento. “A gente preparou a entidade, com várias reuniões e discussões para tratar desses assuntos, mostrando que o produto cerâmico é esse que tem milhares de anos e esse aqui realmente é a parede de verdade”, afirma.

Mas os trabalhos ainda não terminaram. Na reta final do mandato, uma nova proposta deixa o presidente orgulhoso e animado. O projeto Alvenaria do Brasil é uma parceria da Anicer com a Bloco Brasil, que, de acordo com Constan, objetiva mostrar à população que a alvenaria de vedação e estrutural são os melhores sistemas construtivos que brasileiros de qualquer região ou classe social podem escolher.

Natel considera que a união quebrou um tabu que existia entre a área de bloco de concreto e de bloco cerâmico. “Na verdade, é um concorrente nosso, e a gente fez um trabalho junto com ele em prol da alvenaria no Brasil. Os dois concorrentes se uniram para fazer esse trabalho em conjunto. É aquele ditado: o inimigo do meu inimigo é meu amigo. Então, a gente se juntou e eu acho que deu um projeto muito interessante”, comenta o presidente entusiasmado.

Desafios

Os 6 anos de trabalho não foram apenas de conquistas e de bons cenários. A gestão precisou lidar com diversos desafios, dentre eles, a pandemia, que não estava nos planos de ninguém. “É algo que nunca foi vivido no país ou no mundo. Eu lembro até hoje que, quando começou a ter esses focos, eu já me preocupei e comecei a ter alguns contatos. Só que as pessoas não achavam assim. Eu estou falando em um universo aí de 100%, em que 95% não acreditavam no tamanho que esse problema poderia chegar. Até na minha cidade, que é pequena, no interior, eu fui na rádio dizer: olha, a gente tem que se preocupar, porque isso vai vir e é forte”, relembra o presidente. E foi o que aconteceu. A pandemia assombrou todos os ramos do mercado e os setores precisaram tomar atitudes de forma ágil, para que os prejuízos não tomassem maiores proporções. “Nada do que você fazia para deixar sua empresa em pé era suficiente, porque o setor já vinha, ao longo de 9 anos, numa crise financeira muito forte. E isso desestabilizou demais as empresas, bagunçou demais. Foi horrível, e a gente teve muito trabalho”, conta Natel.

Para não parar de trabalhar, a Anicer precisou se reinventar para ajudar o setor a sobreviver ao contexto. O presidente conta que a associação precisou fortalecer o posicionamento do segmento em várias capitais do país e intensificar os trabalhos para que a construção civil pudesse ser considerada uma atividade essencial. “Isso foi parceria da Anicer com os sindicatos pelo Brasil inteiro, para as lojas de materiais de construção, e conseguiu com que isso funcionasse”, diz.

O momento de crise, no entanto, trouxe uma surpresa para o setor da construção civil. Com as pessoas em casa, muitos optaram por fazer mais obras, o que foi benéfico para o mercado. “As vendas dispararam e automaticamente o preço do produto, que vinha defasado, recuperou muito. Só que aí, a gente teve vários problemas também, porque o Procon e o Ministério Público vieram firme, dizendo que o setor estava se aproveitando da situação para subir o preço, e a gente teve que comprovar ao longo do tempo que o setor nem chegou a recuperar o preço que deveria estar custando o bloco. Tivemos fábricas que abriam, fábricas que fecharam, tínhamos que entrar no circuito, com linhas de créditos, negociação de impostos”, relata o presidente.

Nesse contexto, os trabalhos não tinham horário para acontecer e a equipe precisou intensificar os esforços, já que a todo momento aparecia uma novidade ou um problema para ser resolvido. “Foi uma loucura, mas foi uma experiência que a gente enfrentou e que, graças a Deus, a gente conseguiu atravessar. Se fizesse um balanço, saímos muito bem dessa situação. Em nenhum momento a equipe ficou parada. Pelo contrário, a equipe da Anicer ficou disponível quase que 24 horas por dia, todos trabalharam muito, de manhã, de tarde e de noite nas suas casas. Foi um trabalho pesado deles também”, reconhece Natel.

Hoje, a pandemia já está no fim, mas a Anicer lida diariamente com diferentes desafios, que aparecem com as mudanças causadas no mercado. “Agora sim, veio o pós-pandemia, e do mesmo jeito que as vendas subiram muito, agora as vendas caíram muito. A gente vem enfrentando uma escassez muito grande de produtos de queima, de biomassa. E é aí que as ações não param, não é? As ações continuam, todos os dias tem um problema pra gente resolver. A Anicer é isso, a Anicer é trabalho, muito trabalho”, reitera o executivo.

Planos futuros

Natel diz que, a partir de agora, quer dedicar seu tempo e atenção à sua família e a projetos pessoais. Ele relembra que refez o estatuto da Anicer, extinguindo a reeleição, para que outras pessoas tivessem a oportunidade de participar da associação e a entidade estivesse sempre se renovando. “A associação é feita de erros e acertos. Nós não vamos só acertar, vamos errar também e precisa disso, precisa errar e acertar, então precisa entrar também outra pessoa, e essa pessoa vai ter que errar e acertar. Por isso que a gente mudou”, explica.

A decisão gerou algumas objeções por parte de sindicatos, que protocolaram um pedido para que o presidente permanecesse no cargo, mas Natel manteve sua decisão. “Eu estava muito decidido em seguir minha vida, dar oportunidade para que outros continuem a fazer o trabalho e eu tenho certeza que a próxima diretoria que entrar vai ser um sucesso, porque todos vão trabalhar, vão contribuir. E eu vou seguir minha vida, vou continuar trabalhando, vou continuar produzindo, que é o que eu sei fazer”, afirma.

Novos desafios chegam para a próxima gestão, entre eles, a importância de mais parcerias. O diretor de Normas Técnicas, Sandro da Silveira, analisa que isso é necessário para levar para o mercado as formas de utilização dos produtos e os métodos que os materiais podem ser aplicados de forma mais rápida e econômica. “A gente tem que buscar parceiros que possam nos ajudar a aplicar melhor e mais rápido nosso produto. Isso vai fazer com que a gente continue vendendo, porque a busca do mercado pela industrialização, pela redução da mão de obra, é gigante, e isso não para, isso é uma tendência que não diminui, vai continuar, e a gente precisa estar atento a isso”, reitera.

Já Fernando Ibiapina entende que algo que deve ser dinamizado e fortalecido com as próximas gestões é o Programa Setorial de Qualidade (PSQ). “Eu tenho notado que o PSQ, nas cerâmicas, principalmente aqui no Ceará, não é muito valorizado, não é muito utilizado. Talvez um trabalho maior nas próximas gestões com relação ao PSQ seja importante”, analisa o 2º secretário.

O legado

A atual diretoria deixa sua marca para os próximos anos, com uma Associação modernizada e bem posicionada no mercado. Para Natel, a Anicer agora é mais enxuta, moderna e pronta para enfrentar os desafios futuros. “Uma Anicer que com pouco, aprendeu a fazer muito, um setor extremamente pujante, que enfrenta qualquer desafio, tramita. É impressionante a capacidade de recuperação dele: se ele está mal hoje, amanhã ele estará bem, ele consegue com pouco produzir muito também. Eu acho que o legado que eu deixo na Anicer é isso, uma Anicer cada vez melhor, mais preparada para o mercado que está vindo”.

Natel reconhece que ainda há muita concorrência e substituição de produtos, mas o segmento permanece se adaptando e mostrando sua força. “O cerâmico sempre está presente nas obras e eu acho que é isso que é o nosso legado, é manter o nosso produto como referência no mercado”, finaliza.

Carlos Cruz é jornalista na Anicer.

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