Por Manu souza e Juliana Meneses | Imagens: Anicer e Bruno Frasson
Recentemente, o conjunto de normas técnicas que tratam de alvenaria estrutural foi colado em consulta pública nacional para a sua readequação e no último dia 10 de agosto, a nova norma foi publicada pela ABNT.
As normas que ganharam um novo texto são:
- ABNT NBR 16868-1 Alvenaria estrutural – Parte 1: Projeto;
- ABNT NBR 16868-2 Alvenaria estrutural – Parte 2: Execução e controle de obras;
- ABNT NBR 16868-3 Alvenaria estrutural – Parte 3: Métodos de ensaio.
As três partes substituirão todas as partes ABNT NBR 15812 e ABNT NBR 15961. Uma equipe com mais de 60 especialistas trabalharam na redação da nova norma, que foi elaborada pela Comissão de Estudo de Alvenaria Estrutural (ABNT CE-002:123.010) do Comitê Brasileiro da Construção Civil (ABNT/CB-002), em conjunto com o Comitê Brasileiro de Cerâmica Vermelha (ABNT/CB-179). A norma ainda tem previsão de conter mais duas partes: Parte 4: Estrutura em situação de incêndio; Parte 5: Projeto para ações sísmicas.
A Anicer participa de diversas reuniões, conselhos, comitês e órgãos de discussão e acompanhamento de políticas públicas e privadas, voltadas à indústria. Essas atividades permitem o fortalecimento e a ampliação das parcerias estratégicas, além de gerar benefícios para a classe e promover a imagem da cerâmica vermelha. Assim, mais uma vez, a Associação esteve presente na elaboração do novo texto da Norma de Alvenaria Estrutural, através do seu Diretor de Normas Técnicas, Sandro Silveira, que participou ativamente das reuniões.
Segundo o coordenador dos trabalhos de elaboração das normas, Guilherme Parsekian, que é professor da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), a publicação desta norma é uma conquista ao resultado dos esforços de diversos profissionais.
“É bem gratificante ver ela chegando a ser publicada, um trabalho que começou em 2016, então são quatro anos de trabalho, com várias pessoas e institutos que participaram. Essa norma traz grandes melhorias, a mais óbvia é poder unificar não só os materiais, aquela questão de norma de blocos de concreto e blocos cerâmicos, mas também incluir tijolos cerâmicos e unificar os tipos de normas, as aplicações. Existiam normas para ensaio, norma para controle, todas essas foram unificadas num único número, então essa é já de cara uma grande melhoria. Questões na parte de projeto, inclui responder várias questões técnicas que estavam no ar no meio técnico, como consideração ou não de esbeltez em paredes no dimensionamento de flexão, a questão de pilar, se considerava ou não, a questão da armadura, precisava ter aquela redução na questão do escoamento que no fim levava a necessidade de prever muito mais área de aço, tem a questão da padronização ou de incluir na norma parâmetros para projetos, isso eu acho que foi um grande ponto, está incluída uma tabela com recomendações para especificar em função do bloco argamassa ou graute e se há resistência de prisma, isso é, até hoje, fonte de grandes erros no setor de alvenaria estrutural, o projetista fazer especificações, eventualmente a construtora aceitar e o edifício ser construído, com valores de resistências que não vão ser atingidos, o que no fim leva a risco e levava à necessidade de reforço, então essa é uma grande contribuição”.
Ainda segundo Parsekian, muitos aspectos foram melhorados, com relação ao dimensionamento e detalhamento de vigas de alvenaria estrutural, a inclusão de painéis sujeitos a ação lateral, painel de alvenaria muito utilizado e que até hoje não tinha prescrição para projeto. “Poucas pessoas sabiam fazer isso no Brasil, com a norma incluindo um anexo, esse conhecimento vai ser bem difundido. Tem ainda a questão de alvenaria participantes em postos de concreto, outro conhecimento que é nacionalmente aceito e agora começa a ser difundido no Brasil, então estes são alguns detalhes na parte de projetos. Na parte de execução e controle, execução não tem muita novidade, alguns ajustes, alguns pontos que não estavam muito bem colocados no texto e que foram melhorados, mas na parte de controle sim, totalmente modificado, aprimorado, um trabalho que é inédito, que partiu da comissão de norma de colocar as especificações claras e coerentes no controle de obra. Então, desde o recebimento de blocos, critérios para, eventualmente até não precisar do ensaio, se eles forem certificados, se precisar como é lote de obra, isso não existia antes e agora está bem definido. Como fazer amostragem, ensaio de prisma, houve uma melhor ponderação da quantidade de ensaios que podem ser feitos, até ser feito uma amostra com três prismas, desde que você seja mais rigoroso no cálculo do valor característico, você pode fazer construção do prisma no laboratório com critérios bem estabelecidos. O próprio cálculo do valor característico foi acertado, não existe mais um limite em relação à média, vários e vários outros detalhes”.
No controle de obras, Parsekian indica que houve uma grande novidade. “Um ponto muito importante é o critério mais simples para o caso de empreendimentos com vários edifícios, conjuntos de edifícios, o novo critério é muito mais simples e talvez muito mais aplicável do que estava na norma. Agora, a gente pode falar na norma antiga. Em relação aos ensaios a grande novidade é colocar metodologia para extração de testemunhos de prismas de alvenaria executada e também alguns ajustes no cálculo de valor característico, então esses são alguns pontos em geral dessa nova norma. Existe ainda um projeto que foi colocado de ter a norma em situação de incêndio e projeto para ações sísmicas”.
O engenheiro civil, Rangel Lage, também contribuiu com a nova norma e encaminhou o seu depoimento à Revista da Anicer. Escute o áudio dele.
Para o secretário da Comissão de Estudo de Alvenaria Estrutural (CE-002:123.010) e também chefe de secretaria do Comitê Brasileiro de Cerâmica Vermelha (ABNT CB-179), Eng. Bruno Frasson, essa norma tem papel fundamental para todo o setor da construção. “Até então existiam normas separadas para alvenaria estrutural, blocos cerâmicos e blocos de concreto, que eram ABNT NBR 15.812 de blocos cerâmicos e a 15.961 de blocos de concreto. Hoje, com a unificação dessa norma, facilita muito o trabalho dos profissionais da área, principalmente os projetistas, porque está tudo dentro de uma mesma norma, tratando as particularidades de um produto e outro, não só dos blocos cerâmicos – no caso da cerâmica -, mas também dos tijolos cerâmicos, a norma também trouxe isso e ela é um marco para o setor. Seu papel é muito importante, foi um trabalho bem extenso, iniciado em 2016 e participaram grandes profissionais, grandes especialistas do setor. E ela não acaba aqui, apesar de ter sido publicada as três partes agora, Projeto, Execução e Controle de Obras e Métodos de ensaio, ela também prevê outras partes, que é a Parte 4: Estrutura em situação de incêndio; hoje ela está um pouco lenta em função das poucas informações que se tem e também em função da própria pandemia que não está sendo possível realizar ensaios, e depois, a Parte 5: Projeto para ações sísmicas. Tanto a Parte 4 quanto a Parte 5 que ainda serão desenvolvidas e elaboradas, são partes de uma norma inédita no Brasil, para alvenaria estrutural hoje não tem nada nem para situação de incêndio nem para ações sísmicas”.
Frasson finaliza indicando que apesar da norma ser nova, ela reviu várias questões que estavam nas antigas NBR 15.812 e 15.961. “Ela atualizou vários aspectos além de trazer outras questões que já eram práticas de obra, práticas do dia a dia que vieram para a norma. Uma outra questão importante também é que diversos parâmetros foram baseados em normas internacionais e ensaios específicos que foram realizados com o único objetivo de trazer informação para a norma”.
O Engenheiro Civil e grande colaborador da nova norma, Marcus Daniel, explica as contribuições que o documento vai trazer para os profissionais da construção. Escute o áudio dele abaixo.
Além da Anicer, participaram da confecção da ABNT NBR 16868 a Abece, Acertar, Acervir, Anamaco, Bloco Brasil, IPT, MMC Projetos, TQS, UFERSA, UFMG, UFSCar, Unicamp, Wendler Projetos, JR Andrade, UFRN e USP, entre outros profissionais autônomos, escritórios de engenharia, construtoras e instituições.
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