Por Jeferson Lemke | Imagem: Anicer
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A grande sacada diária gerencial das empresas é a busca constante de novas maneiras de reduzir os custos, otimizar o processo de produção, eliminar os desperdícios e inovar. Porém, na indústria cerâmica, a gestão mais cuidadosa deve ser aplicada ao que se chama de “dever de casa”, ou seja, o setor de matérias-primas, uma vez que a argila, um insumo não renovável, é o único que não se pode ser substituído no processo de produção e suas variações impactam diretamente sobre os custos e lucros da empresa.
Na maioria das situações vivenciadas no campo de trabalho, não há preocupação imediata com a matéria-prima, até que algum gargalo comece a aparecer, mas o que realmente preocupa é quando a argila está acabando.
Ainda se vivem alguns mitos, como o famoso “mito centenário”, onde se ouve que alguém já avaliou o jazimento local e “ali tem barro para mais de 100 anos de consumo”, porém, 100 anos produzindo que tipo de produto? Com qual volume de produção? O tipo de argila é o mesmo em toda formação?
Alguns fatores devem ser levados em extrema consideração, antes de qualquer iniciativa para aquisição de jazidas, alteração na formatação de extração e uso, ampliação do porte fabril ou até mesmo acréscimo do portfólio de produtos, para que não se tenham surpresas.
Domínio do Processo Produtivo
Entender a sistemática e conhecer o seu processo produtivo na origem, não apenas levando em consideração o retorno financeiro, é o primeiro passo para otimizar a produção e evitar desperdícios. Para evitar o uso desenfreado da argila, é necessário um parametrizado acompanhamento interno, registrando tudo o que cada etapa precisa para funcionar de forma eficiente.
Avaliação Eficiente de Matérias-Primas
Fator totalmente relevante em se tratando de matérias-primas naturais, sendo realizado por profissional devidamente qualificado, em estrutura laboratorial compatível com a necessidade do processo produtivo, uma vez que o importante não é apenas fazer a avaliação, mas sim saber aplicar metodologia comprovada eficiente na execução dos ensaios, no tratamento dos resultados obtidos e na transferência desta tecnologia para o amplo processo de produção, sendo a base para todas as etapas seguintes da operação, todo investimento, primordialmente, deveria ser planejado para este ponto do processo, resultando assim em eficiência produtiva até a expedição do produto acabado.
Estocagem Controlada
Sabendo a real necessidade de cada insumo argiloso para produção, é necessário a adequação de um local de estocagem, devidamente identificado e controlado, evitando as corriqueiras contaminações por erros operacionais que somente são descobertas pelas perdas no processo. A limpeza, organização e disposição controlada destas matérias-primas são fundamentais para a eficiência da linha de produção.
Aplicação de Tecnologia
A implantação de sistemas de controle e gestão integradas, cada dia mais empregada no setor, tem colaborado para um monitoramento automatizado de diversas ações da empresa. O uso destes sistemas traz à palma da mão informações como controle de gastos, lucro, estoque, produção, clientes e produtos, que dependem totalmente da operação eficiente e saudável de controle de matérias-primas, uma vez que qualquer alteração neste setor impactará em todas as operações seguintes. Ao automatizar e otimizar etapas de controle de produção, são suprimidas, consideravelmente, as falhas humanas, resultando em maior confiabilidade nos dados levantados, podendo assim construir uma gestão no “planejamento de necessidade”, desta forma, o gestor consegue observar produtos faltantes, verificar sua real necessidade e oportunidade de produção, realizando operações de compra dos insumos extra fábrica de forma mais assertiva, sem faltar ou exceder na aquisição dos materiais.
Conclusão
A gestão de matérias-primas deve estar diretamente correlacionada ao estoque de produtos acabados, uma vez que os produtos em estoque não passam por transformações durante o processo de guarda, mas a argila serve de base para o desenvolvimento de produtos diferentes do estocado pronto. Gerenciar tecnicamente o potencial argiloso permite o controle de toda a linha de produção, tamanha sua influência.
O processo cerâmico não se inicia com a extração das matérias-primas, mas sim no ato da emissão de pedidos pelo setor de venda que deve determinar, mediante um plano de produção devidamente ajustado, a real necessidade da aplicação sustentável do insumo mais nobre do segmento, a argila.
Diante do crescimento de porte das indústrias cerâmicas, sua otimização de processos e crescimento de portfólio de produtos, cada vez mais os recursos argilosos de fácil acesso e boa trabalhabilidade serão reduzidos, portanto, é de extrema importância o investimento em mapeamento tecnológico do material argiloso disponível, a avaliação do potencial argiloso nos jazimentos disponíveis, a avaliação de insumos oriundos de outros segmentos de mineração ou descartes industriais que possam ser incorporados de forma controlada nas composições argilosas, mas principalmente, o investimento em controles mais rigorosos no processo de produção, evitando assim, gastar por gastar.
Abaixo, um breve exemplo mapeado em uma consultoria de adequações, avaliando apenas um, de muitos pontos de perdas no processo, pode-se levantar o seguinte:
Em uma produção de blocos cerâmicos de vedação 09x14x19 cm, com peso médio por peça de 1,8 kg, verificamos que em uma das saídas de corte havia uma pequena diferença de tamanho em comprimento, resultando em 100 gramas de argila por peça a mais que os outros blocos, sendo assim, para o volume diário de produção de 25.000 peças, onde a metade apresentava tal acréscimo, foi levantado um volume de 1.250 kg de argila gastos de forma desnecessária por dia, para uma produção mensal de 26 dias ativos, informada na época da consultoria, resultando em um montante mensal de 32.500 kg perdidos ou o que é pior, em 11 meses de produção, 357.500 kg de argilas gastos desnecessariamente.
A argila está acabando ou é necessário planejar como utilizar?
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