Por Juliana Meneses | Imagens: divulgação
As peças de cerâmica vão além da funcionalidade, elas dão vida à criatividade de artistas que se dedicam a criar obras originais e divertidas para o uso cotidiano. Tily, Fábia Betina e Patrícia Henrique desenvolvem trabalhos de canecas feitas com cerâmica, cheias de personalidade e possíveis de serem colecionadas.
Tily, presente no Instagram como @t00dlees, que conta com mais de 32 mil seguidores, cria canecas, bules, pires e colheres com características humanoides, as canecas possuem feições próprias, divertidas e instigantes. “Minhas peças são inspiradas nas criaturas fantasiosas chamadas Golems, essas criaturas são seres humanoides feitos de barro. Quando tive meu primeiro contato com cerâmica já estava gravado na mente o que eu gostaria de criar com o material. Como esculturas de monstros humanoides não chamaram muito a atenção das pessoas, eu resolvi transformar meus Golems em xícaras-golems! Coloquei o rostinho das minhas criaturas nas xícaras e surgiu a coisa mais adorada nessa cidade”.
Tily conta que tem diversas formas diferentes de se inspirar para criar suas peças, seu diferencial é ter um toque estranho, o que torna seu trabalho extremamente original. “Eu pesquiso muitos artistas, e não me limito à cerâmica, eu gosto de ver cartoons, animes, filmes, ler livros de ficção, quadrinhos. Muitas fontes. Eu sempre procuro coisas que eu considere extremamente fofas e com um toque de “estranho”. Acho que isso descreve bem as minhas peças, pois eu não tenho uma fonte, acredito que a criatividade de alguém, seja pela sua vivência, conversas, conexões, é uma mistura que gera resultados. Hoje em dia cerâmica é algo muito acessível, temos informações de todos os lados na internet, principalmente de graça. Mas se fosse para dizer o que eu acho mais difícil, seria o fato do forno, tanto para comprar ou alugar é incrivelmente caro”.
Já Patrícia Henrique (@ceramicapatriciahenriques), formada em artes plásticas pelo Instituto de Artes da Unesp, teve seu primeiro contato com a cerâmica em 1996, hoje a técnica é sua profissão.
“Todas as peças que produzo são feitas à mão, com mescla de técnicas, por exemplo, torno e modelagem manual. Modelagem e placas. Gosto de dar nomes e conceitos para o meu trabalho. Por isso as canecas, feitas em séries, têm nomes, como a linha ‘Sputnik’, uma homenagem ao primeiro satélite que enviamos ao espaço. Ou mesmo, a linha ‘Revoar, renovar, retornar’, baseada em desenhos pré-colombianos. Recentemente, tive uma encomenda para desenvolver uma caneca para cerveja, baseada na figura mitológica de um Greenman, muito comum na cultura celta”.
Seu processo de produção das canecas é totalmente artesanal e inspirado em histórias que a artista lê. “A ideia surge do que leio, das histórias que gosto de ter comigo. Trabalhei com vários acervos artísticos em São Paulo. Desde a Pinacoteca, Itaú Cultural, Masp. E muitas das exposições eram de escultores. O desenho, a leitura e a curiosidade sobre as criações humanas precisam fazer parte da vida de alguém que deseje trabalhar com modelagem e realizar um trabalho autoral”.
Em seu perfil do instagram a artista traz suas séries variadas de canecas criativas, com temáticas distintas, além de outros itens também feitos em cerâmica. Ela conta que seu processo criativo começa em seu ateliê, é totalmente artesanal e inspirado em histórias que a artista lê, tendo também grande influência de viagens.
“O espaço do ateliê é o espaço de poética e criação. Muitas vezes o trabalho que estamos realizando influencia outro que está ao lado. Um exemplo é a coleção Filhos de Ondina. Eu tinha voltado do Pará, fiz uma viagem com um grupo de pesquisadores da área de gastronomia, estava encantada, com a história da Mandioca e acabei fazendo as Manis e do grupo das Manis, surgiu uma sereia que batizei de Ondina e numa outra mesa estava realizando canecas todas feitas sem torno. Tinha feito o carimbo de peixes, também de argila e um dia, uma coisa se juntou com a outra. E surgiu a história da Ondina e seus filhos em 15 páginas, publicadas aqui no Instagram como uma fotonovela”.
A ceramista Fábia Betina (@fabiabona) conta que começou seus trabalhos com cerâmica como um hobby entretanto, com a pandemia, tornou o que antes era um passatempo em negócio. “A cerâmica entrou na minha vida como um hobby, precisava sair da rotina – da casa para o trabalho, do trabalho para casa. Acabou virando uma terapia, o dia mais feliz da semana. Durante a pandemia, fui desligada da indústria da moda. Aí veio a ideia de transformar o meu dia mais feliz da semana em negócio”.
Fábia conta que para ela, a cerâmica tem um processo único de produção artesanal, o que faz com que cada peça seja exclusiva. A artista acredita que suas vivências pessoas são uma influência direta que se reflete em seu trabalho.
“Cada peça é um aprendizado, porque a cerâmica é cheia de surpresas. Todo o processo exige paciência, cuidado e dedicação. Cada peça que nasce é como um filho único. Tudo influencia, viagens, família, amigos, lugares que conheço ou amigos que visito. No dia a dia o Pinterest e o Instagram ajudam muito. Mas, acredito muito em feeling, ou você tem ou não adianta insistir”.
Para ela, os desafios para trabalhar com as canecas artesanais está na delicadeza do material, que exige muito cuidado e paciência. “São muitos, as peças empenam, quebram, racham; os esmaltes são uma verdadeira surpresa, podem escorrer, dar bolhas, colar nas placas do forno, danificar outras peças. Mas você tem que ter paciência e acreditar que no final vai dar tudo certo. As vezes o errado dá certo. Eu, inclusive, sou bem ousada”.
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