Por Antônio Pimenta | Imagens: Anicer
O conteúdo deste artigo não necessariamente reflete a opinião da Anicer e é de responsabilidade de seu autor.
As indústrias de cerâmica vermelha no Brasil utilizam como fonte energética térmica, para aquecer suas estufas, secadores e fornos, alguns tipos de biomassa como a lenha e seus derivados, resíduos de atividades agrícolas como caroço de frutas, casca de café e outros. É uma característica diferente de outros países onde se utilizam o gás e carvão, por exemplo. No Brasil, o gás é utilizado nos fornos a rolo para a queima de telhas grês e raramente para a queima de blocos ou telhas convencionais. O carvão só é utilizado acrescido na massa e não como combustível em fornalhas.
A razão disto é a abundância de biomassa e, consequentemente, seu baixo custo, por enquanto. Ocorre que após o fantástico crescimento da construção civil em 2021-22 (10,0 e 6,9%), quando as indústrias de cerâmica vermelha voltaram a produzir a plena capacidade e recuperaram os preços de venda de seus produtos, os custos de aquisição de biomassa subiram muito ao longo de 2022. Em algumas regiões, a lenha de eucalipto que era adquirida por R$ 70,00 o metro cúbico, passou para R$ 250,00 e os demais combustíveis também seguiram esta alta.
Para piorar a situação, o mercado para os produtos cerâmicos entrou em um processo de excesso de oferta no segundo semestre de 2022, que se mantém até hoje, fazendo com que os preços de venda recuassem, ou seja, os aumentos de custos com combustíveis não estão sendo repassados e o impacto disso faz com que empresas que comprometiam 10 a 15% de seu faturamento FOB na aquisição destes combustíveis, hoje já utilizam mais de 30% para o mesmo fim. Em boa parte destas indústrias, este valor superou o desembolso com mão de obra.
Vários fatores levaram a este cenário, a começar pelo aumento na produção de cerâmica vermelha, o que por si só, não alterou muito o preço dos combustíveis, mas com a desorganização do mercado global por conta da Covid-19 e, principalmente, com a guerra na Ucrânia, a matriz energética global foi muito afetada. Por exemplo, vários países europeus passaram a importar carvão, gás e biomassa para atender suas necessidades de substituição ao gás e petróleo. Isso está sendo sentido no Brasil, com o aumento de exportações de combustíveis como os briquetes de madeira. Outro fator foi que grandes indústrias brasileiras fora do setor da cerâmica vermelha, começaram a utilizar biomassa em larga escala, como a lenha e cavaco de madeira para geração de energia, substituindo combustíveis fósseis.
Também influenciou esta escassez de biomassa o desestímulo ao plantio de eucalipto, cujo preço de venda caiu muito há alguns anos e o resultado é que não houve uma renovação ou ampliação desta cultura. Muitas áreas foram destinadas ao plantio de outras culturas, como a soja. Nota-se uma tendência de retomada deste tipo de reflorestamento, mas somente daqui a alguns anos poderemos voltar a ter uma boa oferta ao mercado.
Para finalizar os aspectos negativos, por questões de baixa oferta e até climáticas, não é só o preço elevado, mas também ocorre a falta de combustíveis, levando algumas indústrias cerâmicas a ficarem momentaneamente sem abastecimento, comprometendo suas produções. E não há uma tendência que a curto prazo o mercado da construção tenha uma excelente retomada (o crescimento previsto para 2023 é de pouco mais de 2%). Desta forma, ainda com a escassez dos combustíveis, as indústrias de cerâmica vermelha enfrentarão alguns meses sem poder repassar este custo ao mercado.
Então, o que fazer? Segue uma lista de ações para enfrentar este aumento de custos dos combustíveis:
- Ser mais eficiente na queima: controlar efetivamente todo o processo através de monitoramento, regulagens e ajustes. Reduzir o consumo de combustíveis, não se contentar com valores elevados;
- Aumentar o aproveitamento dos produtos queimados, sem estouros, requeimados e mal queimados, por exemplo;
- Recuperar o calor de queima e resfriamento para a secagem, reduzindo a umidade de enforna;
- Substituir o combustível – de lenha para o cavaco ou serragem, possibilitando mecanizar o processo de queima e reduzindo o custo com os combustíveis;
- Aproveitar combustíveis alternativos, mesmo que sazonais, como casca de café, lenha de laranjeira, madeira de construção, entre outros;
- Reduzir o peso dos produtos, facilitando sua secagem e queima;
- Melhorar a secagem dos produtos, através de ajustes de massa e regulagem das estufas ou secadores;
- Desenvolver e fabricar produtos com maior valor agregado;
- Intensificar ações comerciais, valorizando seus produtos;
- Substituir secadores e fornos por sistemas mais eficientes, reduzindo o consumo e elevando o aproveitamento e a qualidade dos produtos;
- Estudar o acréscimo de combustíveis na massa;
- Manter um bom número de fornecedores de combustíveis, fortalecendo as parcerias e contando com alternativas.
Com um bom sistema de custos, o empresário pode tomar decisões estratégicas, como alterações nos preços de seus produtos, formação de estoque ou redução da produção. Saber enfrentar a atual conjuntura fortalece a empresa para estar preparada na retomada do crescimento.
Para mais informações, entre em contato: acpimentaaraujo@gmail.com | (21) 99700-2028.
Deixe um comentário