Por Carlos Cruz | Imagens: CBIC
Para abrir nossa série de entrevistas de 2023, convidamos para o Marombado o presidente da CBIC, José Carlos Martins, que nos deu um panorama de como foi o ano de 2022 e quais as perspectivas para 2023. Nascido no Rio Grande do Sul, Martins é empresário e engenheiro civil. Em sua trajetória, foi vice-presidente sênior da Confederation of Contractors Associations (CICA) e membro da International Housing Association (IHA). Também já ocupou os cargos de membro do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social (CDES) da Presidência da República e presidente da Associação dos Dirigentes de Empresas do Mercado Imobiliário do Paraná (Ademi-PR). Exerceu a presidência do Comitê Nacional de Desenvolvimento Tecnológico da Habitação (CTECH) do Ministério das Cidades e participou diretamente da formulação e implantação do Programa Minha Casa Minha Vida (PMCMV) pelo governo federal.
Como o senhor avalia o trabalho realizado pelo setor construtivo em 2022?
Eu acho que começa com a pandemia, que foi um desastre, uma tragédia, sem dúvida. Mas, em contrapartida, ela acabou mostrando às pessoas a importância do seu lar, da sua casa. E isso fez com que o setor da construção tivesse que responder. E o setor respondeu bem! Apesar de todos os problemas que nós tivemos de fornecimento de produtos, de todas essas coisas, eu acho que a gente respondeu bem. Acho que a melhor resposta é que a previsão para este ano é que o setor cresça 7%. Desconheço outro setor da economia que tenha crescido tanto quanto o nosso.
A gente tem que pensar demais na melhoria tecnológica do nosso setor, que passa muito por inovação, que passa por capacitação, que passa por investimento em mecanização e todas essas coisas
Quais os pontos a melhorar ou fortalecer em 2023, comparado a 2022?
Primeiro, estabilidade econômica, estabilidade política, estabilidade, estabilidade, estabilidade. Porque, para nós, que trabalhamos com produtos de longo prazo, é muito importante que as pessoas tenham muita tranquilidade para assumir compromissos. Isso é um ponto fundamental. A segunda coisa é que a gente tem que pensar demais na melhoria tecnológica do nosso setor, que passa muito por inovação, que passa por capacitação, que passa por investimento em mecanização e todas essas coisas, para que a gente possa atender. Isso eu sei, porque as pessoas ficando em casa na pandemia demonstraram isso. Elas têm interesse. Existe uma pesquisa que diz que 87% das pessoas, o sonho principal delas, é a casa própria. Há um desejo muito forte no brasileiro e a gente tem que cada dia mais estar aderente a esse anseio, através de melhoria de qualidade, de melhoria de custo, de melhoria daquilo que o pessoal chama de experiência. A experiência na construção tem que melhorar bastante, para a gente poder crescer em patamares maiores.
Uma pesquisa recente mostrou que o setor deve crescer 4,5% em 2023. Como as empresas do segmento devem se posicionar diante disso para corresponder ao esperado?
A CBIC prevê o crescimento de 2,5% do nosso setor. Foi conservador, porque nós consideramos o crescimento para o próximo ano com as medidas que hoje nós temos certeza. Por exemplo, você vai acreditar em uma PEC que vai botar ‘tanto’ para o Minha Casa Minha Vida, que vai botar ‘tanto’ para infraestrutura, vai botar ‘tanto’ para não sei o quê? O Gilmar Mendes vai ali, dá uma canetada e acaba com tudo. Então, com a PEC, você não tem certeza de nada. A previsão da CBIC é de 2,5% para 2023, o que é um crescimento bom, porque nós estamos em cima de 2 anos, de 2021 e 2022, que, somados os dois, deu 17%. É muita coisa! As empresas têm que se preparar. Cada dia mais, quem não se preparar tecnologicamente, quem não melhorar os seus processos produtivos, tudo isso, vai ficar para trás. Eu acho que o mercado, cada dia mais, irá crescer, só que quem vai ter espaço é quem estiver mais bem preparado.
As construções rápidas estão ganhando espaço no mercado, mas muitas vezes não possuem as qualificações necessárias para atuação. Como a CBIC pretende lidar com essa modalidade?
Eu acho que tem que ser discutida a norma técnica, e atendendo à norma técnica, não tem por que não usar os vários sistemas construtivos. O que tem que ser feito é dentro da formalidade, dentro da qualidade, que atenda à necessidade das pessoas.
Com a mudança no cenário político do país, como o senhor espera que a construção seja impactada?
Isso que a gente precisa ver. O novo governo está sinalizando o aumento substancial de recursos para investimento público. Mas como a maior quantidade de investimento não é do público, é do privado, isso tem determinado limite que não crie, vamos dizer, insegurança no privado para reduzir os investimentos, senão esse acréscimo do setor público acaba se tornando inócuo ou, às vezes, até negativo.
As empresas têm que se preparar
Conhecendo os impactos do setor da construção no meio ambiente, o que deve ser fortalecido para que os processos e produtos do segmento possam ser mais sustentáveis?
Eu tenho dito que a grande ferramenta que o Brasil tem para reduzir suas emissões, para reduzir consumo de recursos naturais, energia, passa por nós, passa pela construção civil. Porque, além de nós sermos grandes usuários de recursos naturais, nós também fazemos aquilo que depois as pessoas irão viver, irão trabalhar, irão estudar. E é muito importante que a gente tenha a preocupação com a sustentabilidade. Um projeto pode dizer se aquele empreendimento é sustentável ou não sustentável. Às vezes, é uma questão meramente do projeto arquitetônico, além dos materiais, além de tudo isso. Então, nós temos que passar por uma profunda reflexão sobre isso, da importância que nós temos sobre esse tema e, aliado ao setor público, a outros setores econômicos, setores envolvidos com esse assunto, que a gente possa criar um plano no Brasil, que tenha um futuro muito mais sustentável para o Brasil.
Quais os principais desafios que a indústria irá enfrentar em 2023?
Eu acho que a continuidade dos investimentos, a estabilidade macroeconômica e também esse desafio que eu tenho colocado muito, que é a melhoria tecnológica, melhoria de tudo isso, para que a gente, cada vez mais, entregue produtos com maior qualidade e menor custo.
Quais os projetos e iniciativas da CBIC para o próximo ano?
Nós temos vários. Nós temos, como princípio, que a nossa missão é aumentar mercados, aumentar oportunidades. Nós temos revitalização dos centros urbanos; nós temos a sustentabilidade como meio, não só como objetivo, mas como inseri-la em todo o nosso dia a dia; nós temos um outro projeto, que é o mercado secundário de imóveis, que é estimularmos o imóvel usado para que alavanque a compra de um imóvel novo; nós temos estimulado a capacitação também; nós temos a busca por maior investimento em infraestrutura, que a gente chama de baixo investimento, porque hoje você tem grandes projetos estruturantes, tem ferrovia, tem aeroporto, tem a [Rodovia] Dutra, mas você não tem a rodovia de sinal que chega na Dutra. Eu estou dando só como exemplo. Então, isso é uma outra coisa que a gente precisa dar uma olhada mais profundamente.
É muito importante que a gente tenha a preocupação com a sustentabilidade
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