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Motivo de muito orgulho

Anicer completa 31 anos de uma história marcada por muitas conquistas, mas também por muito trabalho

Por Carlos Cruz

Com uma trajetória marcada pelas lutas em prol do setor, pela resistência em um mercado com fortes concorrentes e pelo desenvolvimento de diversos projetos de capacitação aos ceramistas, a Associação Nacional da Indústria Cerâmica (Anicer) completa, no dia 20 de janeiro, 31 anos de existência. A associação, que atualmente conta com a colaboração de diversas cerâmicas e sindicatos espalhados pelo Brasil, começou de um jeito muito mais simples.

O que antes era apenas um encontro de amigos do ramo, que debatiam questões que futuramente viriam a ser trabalhadas pela Anicer, tornou-se oficialmente uma associação durante uma assembleia geral que aconteceu na sede da Confederação Nacional das Indústrias (CNI), em Brasília (DF), no dia 20 de janeiro de 1992. De lá para cá, 5 presidentes já estiveram à frente da entidade. Este ano, o ceramista Waldyr de Moraes passa a integrar o grupo como 6º gestor à frente da Anicer.

Muitas são as memórias colecionadas por diversos ceramistas que passaram pela associação ao longo desses 31 anos, como é o caso de Luis Carlos Barbosa Lima, que presidiu a Anicer entre 2007 e 2013 e, atualmente, atua como suplente na atual gestão. Segundo Luis Lima, muito trabalho precisou ser feito para que a associação ganhasse relevância e reconhecimento no mercado e para que o produto cerâmico passasse a ser valorizado.

O ceramista relembra que, no período entre a gestão de Nelson Ely (1996 a 2001) e a de Cesar Vergílio (2001-2007), a Anicer enfrentava um mau momento e precisou mudar sua sede, de Brasília para o Rio de Janeiro para se recuperar. Foi então que o apoio de algumas pessoas e instituições se mostrou fundamental e, a partir dali, muita coisa iria mudar. Lima destaca que algumas pessoas foram essenciais para o sucesso da Anicer nessa transição para o Rio de Janeiro, como o então vice-presidente da Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (Firjan), Henrique Nora, que fez as articulações necessárias para conseguir o apoio da instituição à Anicer. “A Firjan abriu as portas para a associação e logo cedeu uma sala para a entidade”, relembra Luis Lima.

A equipe formada naquele momento, apesar de ter uma base pequena, criou estratégias para dar suporte às empresas do segmento em todo o território brasileiro, e foi aí que muitas iniciativas passaram a ser adotadas. “Ali nós começamos a trabalhar e começaram a surgir algumas demandas de normas, de revisão de normas, de PSQ, de inclusão no PSQ. O nosso setor precisava estar no PSQ e ali nós fizemos essa inclusão, o Cesar fez essa inclusão no mandato dele e foi um trabalho hercúleo na época”, avalia.

Pequenas mudanças, que representaram grandes ganhos para a associação, na opinião de Luis Lima. “Nós precisávamos criar condições de atender à grande demanda nacional da indústria de cerâmica. Um país continental, que sempre é muito complicado você fazer esse atendimento, por distância, por custo, por disponibilidade. Então, era muito complicado isso na época”. Ele complementa dizendo que, apesar das dificuldades, a equipe conseguiu fazer o necessário para o crescimento da associação. As pequenas ações da Anicer visavam arrecadar, cada vez mais, os recursos essenciais para se manter no mercado.

Encontro Nacional

Os encontros nacionais, que inicialmente serviam para arrecadar fundos para a Anicer, foram essenciais para o crescimento de todo o setor. Os participantes tiveram a oportunidade ideal para expandir seu negócio, principalmente as menores empresas, que muitas vezes trabalhavam apenas com uma determinada região e passaram a ser nacionalmente conhecidas. Ao ganhar maiores proporções, os eventos passaram a ser realizados em lugares estratégicos, com atrativos turísticos e até mesmo shows durante o encerramento. O retorno financeiro veio acompanhado do reconhecimento interno e externo ao setor.

Os recursos arrecadados com os encontros levaram a Anicer a lugares de prestígio, que antes, a associação não tinha contato. Instituições estaduais e nacionais passaram a reconhecer e a dar credibilidade ao segmento. As parcerias chegaram a grandes proporções e com isso, muita coisa pôde ser feita. “A Anicer cresceu, conseguimos fazer alguns projetos juntos com o Sebrae Nacional, com o Senai Nacional, onde a gente atendia a um determinado número de empresas. Nós chegamos a atender mais de 700 empresas, com técnicos, contratação de técnicos”, relembra.

Pouco antes do início da gestão de Natel de Moraes à frente da associação (2016 a 2022), diversas questões fizeram com que o Encontro Nacional perdesse gradativamente sua força e deixasse de acontecer. Lima relembra que muitos fabricantes de materiais se posicionaram contrariamente à realização dos encontros e, com isso, alguns ceramistas optaram por também abandonar os eventos. As feiras seguintes aconteceram com periodicidade diferente das iniciais e em formato menor.

Avaliação do Ciclo de Vida (ACV)

Durante a trajetória de crescimento da Anicer, o termo ‘sustentabilidade’ ganhou força no mercado, mesmo que muitas vezes com uso inapropriado. Foi então que o ex-presidente conheceu a ACV, através de uma revista de bordo, e percebeu que a iniciativa poderia ser uma virada de chave para o setor. “A gente precisava entender como a gente se situava daquilo, dos novos padrões de sustentabilidade e como poderíamos melhorar”, explica Lima.

No Brasil, não existia uma empresa que realizasse a avaliação. Então, a Anicer entrou em contato com a empresa canadense Quantis e deu início à parceria que iria mostrar o potencial da cerâmica vermelha em números.

A avaliação mostrou as diversas vantagens dos produtos cerâmicos em comparação com seus equivalentes de concreto. O atual suplente da associação diz que esses benefícios ambientais ainda podem ser mais explorados e acredita que, atualmente, os índices favoráveis à cerâmica são ainda maiores.

O poder das parcerias

Para se consolidar no mercado e defender o setor da forma que fez durante as 3 décadas, a colaboração com outras entidades foi essencial. O presidente da Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC), José Carlos Martins, afirma que são as parcerias que permitem que o setor cresça com a visão de melhoria de mercado. Ele reitera a importância da atuação da Anicer no setor da alvenaria e destaca que, assim como a CBIC, a associação tem uma característica muito importante, que é a capilaridade. Martins destaca, ainda, a importância da institucionalidade e da organização dos setores, que reivindicam e buscam soluções para seus devidos problemas. “Eu acho que é fundamental para que a construção venha a conquistar o espaço que lhe é de direito”, afirma.

Sócia da Anicer desde 1994, a cerâmica mais antiga do Brasil, a GGP, localizada no interior do Rio, também reconhece a importância da parceria com a Associação. “Grande honra podermos fazer parte dessa instituição que representa nosso setor junto às instituições públicas e privadas, e que promove o desenvolvimento sustentável a partir de diversas ações para a evolução da nossa indústria cerâmica”, diz Alice Vicente Franklin, diretora administrativa e financeira da GGP.

O presidente do Conselho Deliberativo da Associação Brasileira de Normas Técnicas, Mário William Esper, analisa que, durante os 31 anos, a Anicer se firmou como entidade importante no setor cerâmico brasileiro, que esteve “sempre focada no crescimento continuado e sustentável da cerâmica”, e se preocupou com a qualidade e segurança de seus produtos e serviços. “A ABNT, entidade responsável pela condução de estudos e documentos normativos em parceria com a Anicer, reconhece a consolidação da associação, nessas mais de três décadas, fruto do esforço conjunto de empresários, técnicos e especialistas, que criaram ambiente propício para ampliar a competitividade do setor”, reitera.

O Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) também é um importante parceiro da Anicer e das pequenas cerâmicas brasileiras. O coordenador da atuação do industrial do Sebrae Nacional, Renato Perlingeiro, destacou a parceria da entidade com a associação e relembrou que o Sebrae participa de diversos eventos realizados pela Anicer no país. “Já realizamos uma série de convênios e parcerias para levar benefícios para a pequena indústria de cerâmica vermelha. A gente esteve juntos com os grandes movimentos para tornar essas pequenas indústrias mais competitivas, mais modernas, olhando seus processos, para atender à legislação ambiental, fazendo com que realmente o produto cerâmico tenha diferenciais competitivos no mercado”, relembra.

Mas Perlingeiro pontua que o mercado tem mudado e que, cada vez mais, o mundo tem buscado soluções mais integradas. Por isso, o coordenador destaca que, para o futuro, é importante buscar soluções de como o setor pode se tornar mais produtivo, eficiente, dinâmico e moderno, atendendo aos requisitos de conformidade e também à agenda ESG, tema mais sofisticado que vem ganhando força no mercado. “Eu me despeço celebrando o que a gente já fez juntos, mas lançando o desafio de como que a gente consegue realmente construir uma agenda de desenvolvimento da indústria de cerâmica vermelha”.

Principais projetos

O auxílio aos ceramistas tem motivado a associação a oferecer uma gama de projetos com diferentes objetivos, seja para a capacitação de profissionais, para passar informação ou criar oportunidades de networking. Os interessados em melhorar a qualidade de seus produtos ou aprimorar seus conhecimentos encontram na Anicer inúmeras formas de fazer isso. Confira abaixo algumas iniciativas da associação:

  • Educ@nicer – a plataforma de ensino da Anicer oferece cursos 100% online, com diferentes temáticas importantes para o desenvolvimento das cerâmicas. As aulas podem ser acessadas a qualquer momento, quantas vezes o usuário desejar, pelo período de um ano. Entre os assuntos abordados, estão a queima, a gestão de mudança em vendas e atendimento e a secagem.

  • Alvenaria do Brasil – em parceria com a Associação BlocoBrasil, de blocos de concreto, a Anicer desenvolve a campanha “Alvenaria do Brasil”, que objetiva mostrar para os clientes o potencial dos blocos de alvenaria, sejam eles de cerâmica ou de concreto. A parceria nasceu de forma estratégica, em um momento em que o sistema construtivo precisou lidar com as inúmeras concorrências. Juntas, a BlocoBrasil e a Anicer buscam evidenciar como a alvenaria é a melhor opção nas construções.

  • Revista da Anicer – agora em versão digital, a revista com edições mensais traz as atualizações mais importantes para o setor, além de dicas para os ceramistas, inspirações para as obras e conversas com especialistas de diferentes áreas da construção. A publicação deixa os leitores por dentro dos assuntos mais importantes do segmento.

  • Anicer na sua empresa – o programa conta com uma série de ações que visam à qualificação dos profissionais, à evolução tecnológica da empresa e à adequação dos produtos às normas técnicas. Isso é feito através de assistência técnica e de treinamentos pessoais, a partir da visita de um consultor da Anicer para realizar os diagnósticos das principais deficiências da organização.

O novo momento

Agora sob nova direção, a Anicer inicia mais um ciclo, com novas etapas e, claro, novos desafios. O novo presidente da associação, Waldyr de Moraes Junior, reitera que a entidade não só representa, mas também luta pelo setor cerâmico. “Durante todo esse tempo, com todas as suas dificuldades financeiras, dificuldades de logística, dificuldades de toda sorte, ela tentou, através de seus presidentes, realizar um bom trabalho, e eu acho que todos eles conseguiram”, declarou.

Waldyr conta que, desde que se tornou ceramista, fez questão de se manter associado à Anicer, de se envolver ativamente com as atividades e de participar de antigas diretorias. O presidente destaca que houve muitos projetos importantes desenvolvidos pela instituição, como o da Análise do Ciclo da Vida, que revelou a sustentabilidade do material cerâmico, e as atividades desenvolvidas pelo último presidente da Anicer, Natel de Moraes, que, de acordo com Waldyr, lutou incansavelmente pelo setor. “A gente enfrentou nesses últimos cinco, seis anos uma concorrência muito grande de outros métodos construtivos e o Natel teve uma participação importantíssima no combate e na sustentação de que o nosso produto era melhor. Eu acho que isso foi de grande importância”, analisa.

Para os próximos anos, o esperado é mais trabalho, o que já faz parte do DNA da associação. O presidente alerta que a nova equipe já tem algumas prioridades, entre elas, o fortalecimento do PSQ. Ele também garante que irá procurar manter a transparência, informando constantemente sobre a situação da Anicer aos associados, buscando austeridade, sendo rigoroso com os gastos da associação.

Mas as metas da entidade são muito maiores. “Nós temos que lutar muito para incrementar o número de associados da Anicer, porque nós temos hoje em torno de cinco mil cerâmicas e temos em torno de 170 associados, o que é muito pouco. E mercado, a gente tem que abrir mercado para Anicer, tem que lutar para que o nosso produto seja consolidado dentro do mercado”, afirma.

Waldyr de Moraes finaliza enfatizando que, apesar da competitividade e das dificuldades no cenário político e econômico do país, a Anicer segue firme na defesa e na luta pelo setor da cerâmica vermelha no país e contribuindo para mostrar o potencial desse material milenar e que faz parte da história da construção civil brasileira. “A competição é muito grande, a situação do Brasil é complicada, mas eu acho que a gente vai conseguir”, conclui.

Carlos Cruz é jornalista na Anicer.

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