Por Otacílio Carvalho
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Essa é a história de um sertanejo nascido em Cruzeta/RN, de família humilde, pouca instrução e que sem ter ideia do que significava empreender, se fez empresário bem sucedido na Indústria Cerâmica Vermelha do Nordeste. Um grande exemplo de empreendedorismo!
Por falar nisso, “Empreendedorismo” vem do ato de empreender, ou seja, resolver um problema ou situação complicada. É um termo usado no setor empresarial e muitas vezes está relacionado com a criação de empresas ou produtos novos.
O conceito de empreendedorismo foi usado pela primeira vez pelo economista Austríaco Joseph Alois Schumpeter (1883-1945), que publicou em 1942, a Teoria da Destruição Criativa no livro Capitalismo, Socialismo e Democracia, em que explica o empreendedorismo (criação de produtos, serviços ou empresas inovadoras) como uma resposta à uma necessidade do consumidor percebida pelo empreendedor.
E isso nosso Grande Sertanejo sabia fazer como ninguém…Para algumas pessoas, ser empreendedor é uma virtude que já nasce com ele, independente de seu nível de educação ou classe social. Esse era o caso de Elói Dantas Neto, que nasceu em Cruzeta, em 11/09/1957. As condições de vida naquele município eram muito difíceis e quem quisesse melhorar de vida, tinha que procurar outros locais para viver. Elói foi crescendo e logo percebeu que tinha que procurar novos rumos.
Aprendeu a dirigir no carro de um amigo e assim que completou 18 anos, em 1975, viajou para Foz do Iguaçu, pois lá estava sendo construída a barragem da Usina Hidrelétrica de Itaipu e havia a possibilidade de conseguir um emprego. E foi o que aconteceu. Ele conseguiu um emprego de caçambeiro. Trabalhou até o final da construção da Usina, em 1982, quando então voltou para Cruzeta, casou e montou, com o dinheiro economizado, uma pequena mercearia.
As coisas foram melhorando, e ele comprou um pequeno caminhão, onde ganhava um dinheiro extra fazendo fretes ou transportando pessoas e mercadorias para as feiras da região. Em 1993, vendeu o caminhão e montou uma pequena cerâmica em Cruzeta. Nessa época, surgiram várias cerâmicas nessa região, que depois veio a se tornar o principal polo cerâmico do Rio Grande do Norte.
Conheci o Elói, em 1999, quando prospectava empresas de cerâmica para fazer um projeto técnico em parceria com o Sebrae. A Cerâmica Cruzeta, que pertencia a Elói e um sócio dele, foi uma das 12 cerâmicas escolhidas para desenvolver aquele projeto. Desde o início, eu percebi que Elói era um cara simples, afável, que passava confiança e terminou se tornando o meu cliente para legalização ambiental da cerâmica e das jazidas de argila que abasteciam a empresa. Além disso, Elói se tornou um amigo e me consultava em boa parte dos negócios que fazia. Naquela oportunidade, a empresa produzia 1,2 milhões de peças, entre telhas, tijolos e lajotas e empregava 90 pessoas.
A produção era, em sua maior parte, destinada a outros estados do Nordeste, entre eles, Paraíba, Pernambuco e até Bahia. Um dos melhores clientes da cerâmica estava em Petrolina e a empresa mandava para lá vários caminhões de telhas todos os meses. Algumas dessas entregas eram feitas pelo próprio Elói.
Ao chegar de uma dessas viagens, o Elói, grande observador que era, me procurou dizendo: “Fui à Petrolina essa semana entregar um caminhão de telhas. Verifiquei que lá, como uma cidade grande que funciona como um polo regional, consome também muitos tijolos. Pesquisei o município inteiro e não encontrei cerâmicas. Verifiquei que os tijolos vendidos lá vêm de muito longe. A maioria vem de mais de 600 Km de distância”. E aí me perguntou: “Será que a argila de lá não é boa para fazer tijolos? O que eu faço para descobrir isso?”.
Fiquei uns dias pensando nas respostas e depois procurei Elói e disse para ele que certamente Petrolina, situada no vale do Rio São Francisco, tinha muita argila, entretanto, seria conveniente que ele testasse essa argila. Como ele mandava telhas para Petrolina no frete de ida, ele poderia aproveitar a volta do caminhão e trazer uma carrada de argila para testar fazendo tijolos na sua própria cerâmica. E assim ele fez. Trouxe um caminhão de argila e fez uma porção de tijolos. No início, não muito bons, depois outra carrada e agora os tijolos já estavam melhores, até que ele teve a certeza que com a argila de lá ele podia fazer tijolos em Petrolina.
Agora faltava a outra parte do plano dele que era montar a primeira indústria cerâmica de tijolos em Petrolina/PE. Não era comum os bancos disponibilizarem recursos para a indústria cerâmica vermelha. Daí que o Elói, para levantar os recursos financeiros para construir a nova fábrica, se articulou para vender a cerâmica em Cruzeta e convenceu o cliente de Petrolina a investir com ele e se tornar seu sócio na construção da nova cerâmica. E foi assim que em 2001, o Elói se transferiu com toda a família para Petrolina e começou a construir a Cerâmica Cruzeta, de Petrolina. E já começou a produzir em 2002.
Em 2004, ele me ligou preocupado, pois a quebra de tijolos estava muito grande, chegando a 20%. Disse que o negócio estava bom, mas poderia ser bem melhor. Então eu fui lá e estudamos melhor a matéria-prima, até reduzir a quebra para índices mais aceitáveis.
Perdi contato com Elói desde essa época e essa semana liguei para a empresa e falei com o seu filho, Igor, que hoje administra a empresa. A empresa está a pleno vapor e hoje pertence à família dele. Fiquei sabendo, com muita tristeza, que o Elói tinha falecido no ano passado, aos 61 anos. Deixa o exemplo de um sertanejo simples e determinado, que focava numa ideia e ia em frente. Na verdade, um grande empreendedor!
Esse artigo é uma homenagem que faço ao empresário e amigo, Elói Dantas Neto, que teve essa belíssima história de vida. Vai também para os muitos ceramistas brasileiros, alguns deles, com história muito parecida.
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