Hoje é:3 de maio de 2024

Lugar de mulher é na cerâmica

Mulheres se destacam no comando de fábricas de cerâmica pelo Brasil

Por Manu Souza

Historicamente reconhecida por passar a administração de pai para filho, as empresas familiares representam uma grande parte das atividades industriais no mundo. Alguns casos de sucesso, como as mundialmente conhecidas Walmart, Ford, Samsung, Carrefour, Fiat e Bosch e as brasileiras, Camargo Corrêa, Sadia, Suzano, Odebrecht e Pernambucanas, apontam que a relação trabalho-família pode dar certo.

Tradicionalmente um negócio familiar, o segmento da cerâmica vermelha ainda é composto por administração majoritariamente masculina, mas é notável um crescimento de mulheres que ingressam no comando das fábricas, agregando valor e quebrando paradigmas.

Localizada no município de Cruzeiro do Sul, no Estado do Acre, a Cerâmica Terças é comandada pela empresária Janaína Verbena, filha do fundador, que prova que conhecimento, informação e amor pelo que faz são os verdadeiros ingredientes para uma administração de sucesso.

“Entendo essa participação de mulheres na gestão da indústria cerâmica como importante e necessária. A maioria das cerâmicas no Brasil é composta de empresas familiares, dessa forma, todos devem contribuir para o funcionamento e melhoramento da gestão dessas empresas, de modo que a competência e arrojo das gestões femininas fazem a diferença. O maior desafio que visualizo é o choque de gerações nas cerâmicas, pois enfrento muita resistência quando tento inserir novos parâmetros operacionais na produção dos blocos cerâmicos. Acredito que, assim como eu, que estou na terceira geração de ceramistas, muitos encontram dificuldades com as mudanças quando se deparam com a “tradição familiar”, explica Janaína.

A fábrica, que antes era uma pequena olaria, passou por investimentos e modernizações – com produção automatizada e tecnologia de ponta, diminuindo a mão de obra humana e aumentando a produção -, e hoje conta com a participação de 30 colaboradores diretos e dezenas de indiretos, na confecção de Blocos de Vedação de 9x14x19 e 9x19x19.

Questionada sobre as dificuldades em se impor, enquanto mulher no comando de um negócio que é composto em sua maioria por figuras masculinas, a empresária conta que o desafio é constante. “No segmento cerâmico é inexpressiva a mão de obra feminina. No meu estado a única mulher à frente de uma cerâmica sou eu, então a desproporção é grande. Claro que dentro dessa perspectiva, eu já sofri em algumas situações desconfortáveis por ser mulher e estar à frente da empresa”. A ceramista ainda aconselha as mulheres que estão em processo de iniciar uma liderança na indústria cerâmica. “Todos os setores da indústria cerâmica são essenciais para o sucesso da empresa, então, o primeiro passo para uma mulher chegar na liderança dessa indústria é conhecer, entender o funcionamento de todos os setores que compõe a produção, desde a extração da argila na jazida até a expedição do material. É importante que a mulher busque sempre a atualização na área cerâmica, formações e capacitações fornecidas pelo Senai têm feito a diferença na formação de mão de obra desse segmento. Participar de feiras do setor cerâmico, nas quais se tem o acesso a novas tecnologias e inovações, além da oportunidade de fazer network com outros ceramistas do país”.

Cerâmica da Visita Técnica do 51º Encontro Nacional tem liderança feminina

Localizada em Caetanópolis, Minas Gerais, a Cerâmica Brasileira também se destaca com a liderança da jovem empresária Emília Lopes. “Vejo a participação das mulheres na indústria Cerâmica como uma oportunidade não somente para as próprias mulheres demonstrarem suas competências, mas para o negócio desenvolver um melhor ambiente de trabalho para tudo. Acredito que seja muito importante não somente as mulheres, mas que todos procurem se qualificar, conhecer, aprender e se desenvolver para merecer a cadeira que ocupa. A melhor forma de responder a uma situação desafiadora é respondendo com resultados”.

Integrante do Grupo Emília Cordeiro, a cerâmica se destaca pelo seu automatismo e aposta fortemente em pesquisa e tecnologia de ponta para produzir peças de alto padrão. Emília nos conta dos principais obstáculos do seu dia a dia. “Um grande desafio está no ambiente de trabalho, no dia a dia, na rotina. Para além das competências técnicas que uma mulher precisa ter para ocupar um cargo de gestão, a empresa precisa criar um ambiente de valorização, reconhecimento e respeito da presença feminina na indústria de cerâmica. Essa realidade só acontece se a alta direção reconhecer essa necessidade e praticá-la. Com isso, somando competências profissionais com um ambiente de trabalho respeitoso, o sucesso e o resultado irão acontecer”.

A Cerâmica Brasileira será um dos destinos das Visitas Técnicas do 51º Encontro Nacional, que acontecerá de 14 a 16 de agosto de 2024, no Expominas, em Belo Horizonte – MG.

 

Manu Souza é gestora de comunicação e editora da Revista da Anicer.

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