Hoje é:21 de novembro de 2024

Os resíduos sólidos da mineração e as possibilidades de uso na cerâmica vermelha

Por Otacílio Carvalho | Imagem: Cerâmica Tavares

O conteúdo deste artigo não necessariamente reflete a opinião da Anicer e é de responsabilidade de seu autor.

A Cerâmica Vermelha no Brasil tem um contingente de aproximadamente 6 mil empresas situadas em pelo menos 1000 municípios de cada um dos 26 estados brasileiros e do Distrito Federal. Muitas dessas empresas ainda produzem alguns resíduos, especialmente resultantes de quebras de telhas, tijolos e lajotas que podem ocorrer na sua linha de produção. Mas já começam a surgir empresas que não geram mais resíduos sólidos ou o pouco que geram, são moídos e reincorporados ao processo. São empresas ambientalmente alinhadas.

O que queremos destacar nesse artigo é que inúmeras dessas empresas estão consumindo resíduos sólidos provenientes de diversas fontes localizadas em sua região geográfica de influência. São vários os resíduos que são hoje incorporados ao processo.

Conheço algumas que usam a casca de castanha de caju como energético, outras arrecadam o pó de serragem das serrarias, outras consomem madeira de demolição, outras reciclam papel ou ainda queimam resíduos de tecidos. Mais recentemente, também temos visto casos de cerâmicas que usam o pó da serragem e polimento de rochas da indústria de rochas ornamentais. É o caso da Cerâmica Tavares, que usa o resíduo da serragem de rochas silicosas processadas pela Thor Granitos, ambas as empresas instaladas no Município de Parelhas/RN.

Quase todos os recursos minerais geram muitos resíduos. O ferro gera cerca de 1 tonelada de resíduos para cada tonelada de ferro beneficiada. Já a extração de ouro, gera de 500 kg a 1 tonelada para cada grama de ouro produzida.

É interessante destacar a quantidade de resíduos sólidos provenientes da mineração. Em quase todas as minas brasileiras, existem resíduos acumulados. Quase todos os recursos minerais geram muitos resíduos. Se tomarmos exemplos da produção de ouro, considerando uma mina que tenha teor médio de 2g de Au/tonelada de minério, isso vai gerar um resíduo de 500Kg para cada grama de ouro produzido.

Se tomarmos uma mina de alumínio, com teor médio de 35%, isso vai gerar quase 2 toneladas de resíduo para cada tonelada de alumínio produzida. Além disso, boa parte desse resíduo pode ser usada na composição da massa cerâmica. Em maior ou menor proporção, isso vale para quase todos os bens minerais.

Existem ainda resíduos da indústria de gesso no polo gesseiro de Pernambuco, onde um pacote de rochas argilosas sobrepõe os níveis de gipsita. Como a lavra é feita a céu aberto, sobra grande quantidade de argila no processo de extração do minério.

O conceito de resíduos sólidos é definido pela Norma Brasileira ABNT 2004 como Resíduos nos estados sólido e semissólido, que resultam de atividades de origem industrial, doméstica, hospitalar, comercial, agrícola, de serviços e de varrição. Ficam incluídos nesta definição os lodos provenientes de sistemas de tratamento de água, aqueles gerados em equipamentos e instalações de controle de poluição, bem como determinados líquidos cujas particularidades tornem inviável o seu lançamento na rede pública de esgotos ou corpos de água, ou exijam para isso soluções técnica e economicamente inviáveis em face à melhor tecnologia disponível.

Daí que esses resíduos são gerados pelos mais diversos setores em praticamente todos os municípios brasileiros. Todas essas empresas que geram algum resíduo, estão desesperadas tentando descobrir uma forma de eliminar ou reduzir parte desses resíduos para minimizar os seus problemas ambientais. As indústrias de cerâmica, pela sua ampla distribuição, podem sim, procurar esses setores geradores de resíduos e, quem sabe, descobrir parcerias que venham gerar algum recurso adicional para sua empresa ou até reduzir os seus custos de produção. A conversa entre esses dois segmentos pode resultar em propostas de arrecadação e consumo desses resíduos, desde que seja um bom negócio para os 2 lados.

Existem milhões de toneladas de resíduos espalhados por esse Brasil afora que podem ser usados facilmente pela indústria de cerâmica vermelha.

É importante, que antes de começar a usar, seja feito um estudo por um profissional da área visando testar a viabilidade do uso daquele material, analisando as vantagens e desvantagens de usar aquele material, numa típica pesquisa aplicada.

Diante do exposto, entendemos que existem boas possibilidades de uso de resíduos sólidos pela indústria cerâmica, o que pode reduzir os custos da produção e agregar um pouco mais de valor ao seu produto. É preciso ousar um pouco mais e encarar esse novo desafio.

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Tem experiência na área de Engenharia de Materiais e Metalúrgica, com ênfase em Materiais Não-Metálicos. Atuando principalmente no segmento de cerâmica vermelha, minerais industriais, prospecção mineral, gerência de qualidade total e geoquímica.

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