Hoje é:21 de novembro de 2024

Projeto Obra Solidária

Iniciativa incentiva a doação de materiais restantes de obras para pessoas que não podem comprar

Por Juliana Meneses | Imagens: Divulgação

O projeto idealizado pelo escritório Personnalite Arquitetura, das arquitetas Maria Carolina de Souza Barreto e Gislaine Fabris traz o incentivo de doações de materiais sobressalentes de obras para quem não tem condições financeiras de adquiri-los.

A iniciativa busca a melhoria da qualidade de vida das pessoas quanto a moradia digna, levando por meio de doações materiais de construção, mas também móveis novos e usados.

Formado por voluntários, o projeto social atende dois objetivos principais, a redução do descarte de resíduos da construção civil de maneira inadequada, contribuindo diretamente para a sustentabilidade – a ideia de angariar materiais que provavelmente iriam para o lixo, veio também numa contrapartida ecológica -, além da melhoria da qualidade de moradia de famílias de baixa renda.

O Obra Solidária teve início na cidade de Sinop, no Mato Grosso, em 2017 e hoje já atende também São Paulo, Rio de Janeiro e Paraná. A ação foi iniciada apenas como cunho filantrópico, mas em 2018 se tornou uma associação beneficente, sem fins lucrativos: Associação Obra Solidária.

A principal função da associação é realizar o cadastramento das doações de resíduos de materiais de construção e móveis por meio da site www.obrasolidaria.net.br, onde os interessados nas doações podem verificar o que está disponível para recebimento. A praticidade do projeto ser desenvolvido de forma on-line, é um facilitador para conectar quem precisa aos doadores de forma rápida e direta.

A arquiteta Carolina Barreto conta que os materiais cerâmicos muitas vezes sobram nas obras e as doações para outras pessoas é uma forma do resíduo não gerar desperdício e nem trazer prejuízos para o meio ambiente, beneficiando diretamente outras pessoas. “Em relação ao material cerâmico, consideramos um dos materiais que mais geram resíduos em uma obra desde que não seja bem administrado. Soluções de prevenção podem ser tomadas para que o desperdício seja evitado ou minimizado como é o fato de compatibilizar o tamanho da cerâmica com o tamanho do ambiente a ser projetado, por exemplo. Entretanto, sabemos que esta é uma condição muito restrita a poucos escritórios de arquitetura e engenharia que possuem esse nível de gestão em seus projetos. Por isso, o reuso das sobras e recortes se faz tão fundamental para que esse material não seja descartado de maneira incorreta. A Obra Solidária proporciona a oportunidade deste material ser direcionado para pequenas reformas e construções de famílias de baixa renda”.

A arquiteta explica que todos podem utilizar o serviço do projeto para receber materiais, o projeto incentiva que o doador do material e quem receberá tenham contato direto, estreitando laços e tornando a doação mais pessoal. “Qualquer pessoa pode receber as doações, desde que entre em contato diretamente com quem está doando o material. A decisão de direcionar o material para determinada pessoa ou não fica a critério de quem está doando. Neste caso, consideramos que a Obra Solidária também incentiva a solidariedade entre as pessoas pois repassa a responsabilidade de saber quem irá receber, para quem está doando, fazendo com que ela se envolva um pouco mais na história de vida daquela família. Quem doa precisa fazer um cadastro rápido e simples na plataforma, usando inclusive os dados já cadastrados pelo Facebook. Quem recebe não precisa fazer nenhum cadastro”.

A arquiteta esclarece que hoje a maioria das doações é vinda de obras de empresas locais, lojas de construção civil e construtoras têm buscado também a parceria com a associação para a doação de materiais e produtos que não possuem mais valor agregado para as mesmas, como produtos fora de estoque, troca de showrooms e descarte de materiais úteis em reformas e construções, mas que existe uma expectativa do projeto de que fábricas locais se interessem pela iniciativa, auxiliando a mudar a vida de mais famílias. “Até o momento, temos recebido muitas doações de empresas locais que fazem a troca do showroom das peças cerâmicas. Esse material anteriormente era todo descartado e hoje pode revestir um banheiro completo de uma pequena residência, mesmo sendo peças avulsas e diferentes. Sabemos que em um futuro próximo, através da logística reversa, essas doações poderão ser ampliadas em número e locais através das próprias fabricas, mas ainda não tivemos essa oportunidade de contato até o momento”.

Carolina acredita na importância da moradia digna e acessível para todos, essa foi uma das principais motivações para o projeto. “Acreditamos que com a ajuda na divulgação da plataforma, mais pessoas terão acesso a informação e com isso mais doações acontecerão. A Obra Solidária é uma Associação sem fins lucrativos, que disponibilizou uma ferramenta incrível a favor do bem, visando a melhoria na qualidade de vida das pessoas. Como arquitetas, eu e a Gisa sabemos a importância de se morar em um ambiente saudável e seguro, por isso, damos tanto valor à isso. Desejamos que qualquer pessoa possa ter uma moradia digna por mais simples que seja”.

O trabalho acontece em parceria com a Universidade Estadual de Mato Grosso, em um PEV – Ponto de Entrega Voluntário dos materiais, neste local há um container onde a comunidade pode levar e receber doações de materiais. O atendimento é feito aos sábados pela manhã, em parceria com os alunos do Curso de Engenharia Civil, na Universidade. Eles realizam o trabalho de recebimento e entrega dos materiais à comunidade e fazem a divulgação da iniciativa no ambiente acadêmico. Além de realizar visitas as casas das famílias atendidas pela Associação Obra Solidária, que apresentam onde as doações foram utilizadas. Para Carolina, um dos maiores desafios do projeto é o auxílio de voluntários, sobretudo para o transporte e são eles que fazem a ação acontecer. “Estamos ainda começando, sabemos que muitos desafios ainda estão por vir e principalmente muito trabalho. Atualmente, temos uma grande dificuldade em conseguir voluntários para nos ajudar. Um dos nossos maiores gargalos, por exemplo, é o transporte, pois não temos um veículo para nos ajudar nas coletas dos materiais”.

A iniciativa das arquitetas acredita que a possibilidade de auxiliar na moradia digna pode ser atingida com o trabalho em grupo e ainda ser benéfico para o meio ambiente por evitar que uma quantidade de materiais fosse descartada.

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Juliana Meneses é jornalista na Anicer.

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