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“Quando tem união, o país vai pra frente”

Conheça a história de Francisco Xavier de Andrade, o Seu Chico da Paraíba, um dos grandes nomes da cerâmica brasileira

Por Carlos Cruz | Imagens: Anicer e acervo pessoal

Fundador da Cerâmica Salema e do Sindicato da Indústria de Cerâmica Vermelha do Estado da Paraíba (Sindicer/PB), o engenheiro agrônomo Francisco Xavier de Andrade se tornou ceramista de uma forma nada planejada.

Chico Xavier é natural de Timbaúba, em Pernambuco, filho de professor, aos 16 anos foi cursar o ensino médio em uma escola técnica de mecânica, no Recife, optando mais tarde por prestar vestibular para agronomia. No final da faculdade, antes mesmo de concluir o curso, Seu Chico foi contratado por uma indústria de fertilizantes. Em pouco tempo, tornou-se o responsável por abrir pontos de apoio da empresa em outros estados, como no Rio Grande do Norte, no Ceará e na Paraíba, onde funciona hoje a Cerâmica Salema. Pelo menos duas vezes por mês, durante alguns anos, ele circulava entre as cidades e retornava ao Recife, até que surgiu a oportunidade de trabalhar no setor de vendas. “A empresa me ofereceu o cargo de vendas e eu comecei minha vida como vendedor. Graças a Deus aprendi muita coisa. É uma das profissões mais nobres do mundo: vender”, conta orgulhoso o ceramista.

Mas foi apenas quando se mudou para a Paraíba, em 1973, que Seu Chico teve seu primeiro contato com a cerâmica vermelha. Comprou uma propriedade no município de Rio Tinto, no distrito de Salema, onde iniciou uma plantação de cana. Ele conta que o local era uma vargem e que por isso tinha muita argila. Foi então que um amigo geólogo o instruiu a registrar o insumo. Com pretensão de futuramente vender a matéria-prima, Seu Chico fez os devidos registros e, a partir daí, começaram os ensaios de teste de qualidade.

O que inicialmente era um bom local para plantação, deu espaço para o principal negócio do então agricultor. “Tinha uma olaria lá perto, de bater tijolo manual, aí eu comecei a fazer a cerâmica. Eu trabalhando, plantando cana. Em 1981, eu já plantava cana, estava trabalhando, vendendo fertilizantes, mas aí eu entrei no ramo e comecei com a cerâmica”, relembra.

De forma inesperada, nasceu a Cerâmica Salema, que tem hoje cerca de 41 anos. “Não foi nada planejado, aconteceu. Meus pais me ensinaram a viver na vida, mas a gente começou do zero e graças a Deus eu aprendi a trabalhar, a viver, a produzir e ser parceiro dos construtores, dos empresários e do governo também”, conta.

Seu Chico começou a empresa sozinho, sem outros sócios. Mas as parcerias o ajudaram a chegar onde está. Por volta de 1985, a permuta com uma construtora deu à empresa todo o amparo tecnológico necessário. Em troca, a Salema fornecia os produtos para a construtora.

Depois disso, a cerâmica começou a crescer. “Fui me juntando com as construtoras, fui fabricando e aí fui aprendendo que a gente tinha que botar o pé no chão. E hoje a gente tem a Cerâmica Salema, que é uma das pequenas, que hoje, ela não é a maior, mas é uma das que tem o melhor tijolo da Paraíba”, garante. Seu Chico foi replicando com os novos clientes o que fazia com a sua primeira parceria. Agora, aos 72 anos, o ceramista admira o que a Salema se tornou. “Hoje nós somos o maior produtor de tijolo. Ela não é a maior cerâmica da Paraíba, mas é a que produz mais e com maior qualidade”, afirma.

Há 41 anos no ramo, o agrônomo percebe mudanças significativas no setor. Ele explica que atualmente existem ainda mais compromissos com impostos. “O governo é mais exigente hoje. Se você não pagar os tributos, a empresa será fechada. Se você não pagar a energia em dia, será cortada”, adverte. Além de cumprir com os pagamentos dos encargos governamentais, Seu Chico reitera a importância de manter a empresa organizada e atualizada. “Você tem que pagar os compromissos, primeiramente com os funcionários. Pagar os tributos, os encargos sociais e procurar manter um custo abaixo da realidade para sobrar um dinheirinho. Primeira coisa, tem que saber quanto custa seu produto, para poder vender com qualidade e com lucro. Hoje, nós estamos vivendo em um momento de dificuldade, que o preço tá baixo, a concorrência tá grande, porém a gente tá tocando o barco”, declara.

A experiência como agrônomo gera bons impactos para Salema, que tem diversas iniciativas sustentáveis. Neste sentido, a empresa destinou uma área de 250 hectares para plantação de eucaliptos para alimentar os fornos da cerâmica, em uma região próxima a Rio Tinto, Mamanguape e na região de Araçagi. “Você passa a ser um consumidor, fazer o bem-estar do ambiente e divulgar também a qualidade da empresa, que se preocupa e também consome material reflorestado. Hoje, a gente já está colhendo o terceiro corte”, disse.

Além dos projetos de reflorestamento, o processo de extração de argila da Cerâmica Salema também beneficia a comunidade no entorno. A retirada do material provoca a formação de grandes valas, que acabam sendo preenchidas com água das chuvas e dos lençóis freáticos e viram tanques para a criação de peixes, que a população pode consumir. Hoje, a Salema já possui mais de 20 hectares de tanque e, segundo o ceramista, a intenção agora é regularizar a atividade de criação dos peixes.

Além de se envolver nas atividades da fábrica, Seu Chico também é o fundador e primeiro presidente do Sindicato da Indústria de Cerâmica Vermelha do Estado da Paraíba, o Sindicer/PB. Criado por volta de 1988, o sindicato já passou por outras gestões, mas está novamente sob sua responsabilidade, que termina o atual mandato em 2023. O empresário afirma que não está preocupado se ficará ou não na presidência para um próximo mandato, e reiterou sobre a importância da renovação no cargo. “Quem sabe se não aparece uma pessoa melhor que Chico Xavier para retornar e renovar? Tudo depende. Pra mim, isso aqui tem que estar unido e não interessa se vai ser o mandato, a pessoa tem que ter o sindicato para fazer a união do grupo. Mesmo que às vezes você trabalhe e tenha alguém que você concorre com ele, que seja diferente, porém tem que estar unido para o bem de todos. Quando tem união, o país vai pra frente”, declara.

Seu Chico também reforça que é dever dos sindicatos e associações promover a capacitação técnica das empresas, através de parcerias com cursos profissionalizantes e ajuda do governo. Para o presidente do Sindicer, essas iniciativas beneficiam principalmente os pequenos e médios produtores, que podem não ter recursos para isso. “Essa assistência vai se transformar, porque a pessoa vai capacitar melhor seus funcionários, vai procurar fazer uma forma que todo mundo faça uma concorrência, mas uma concorrência unida, não o cara vender produto de má qualidade. Então, vamos vender produtos de boa qualidade, todos, e com lucro”, aponta.

Mesmo com todas essas experiências, o gestor da Salema afirma que suas principais conquistas são manter os compromissos em dia e ter sua família estruturada. Seu Chico se casou pouco tempo depois de abrir a Cerâmica Salema e também completou 41 anos de matrimônio com Delania Holanda de Andrade. O casal tem três filhos, mas apenas um deles, o do meio, João Gomes de Andrade Neto, trabalha no setor, e hoje é sócio de Seu Chico e seu provável sucessor na administração da empresa. João Neto também está como vice-presidente da Anicer no momento. O ceramista reitera a importância de se manter unido com a família, amigos e funcionários. De acordo com ele, a Salema tem hoje uma equipe com 170 pessoas, dos quais ele se orgulha em chamar de amigos. Seu Chico também valoriza a interação social e a presença no comércio e nos eventos do setor. “A gente tem que ser falado, a gente tem que aparecer no mercado e ter, primeira coisa, um produto de qualidade para que as pessoas comprem e se sintam bem”, conclui.

Carlos Cruz é jornalista na Anicer.

One Comment

  1. Madalena Andrade Reply

    Parabéns Chico Xavier! Você, meu irmão, venceu os desafios que a vida lhe apresentou e com muita coragem e dedicação rezar a Cerâmica Salema crescer no mercado da cerâmica vermelha!

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